Saturday, February 13, 2010

UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL

O sociólogo Pedro Ribeiro afirma que “Um novo mundo é possível”

Na palestra de abertura deste segundo dia do Mutirão de comunicação América Latina e Caribe, o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira nos brindou com uma brilhante reflexão sobre os “Novos cenários políticos e os processos de comunicação”. Durante a exposição, ele utilizou uma metáfora sobre a composição do espaço cênico no teatro para explicar como foram compostos os cenários na América Latina.

Depois de um breve resgate histórico que teve inicio no primeiro ato com a hegemonia da Holanda, a colonização das Américas e a exterminação dos povos que aqui existiam, ele relatou o surgimento e a construção de um novo sistema econômico, conhecido até os dias de hoje: o capitalismo. Desse primeiro ato, o conferencista destaca ainda como os colonizadores ao trazer sua cultura, tecnologias e principalmente, as armas acabaram por esmagar a cultura local. “O povo da roça, o índio ao perderem suas tribos perdem também sua identidade, sua auto-estima, ficam envergonhados, tornam-se “caipiras”. E é justamente como caipiras que eles têm que entrar na sociedade” afirma o sociólogo.

Em outras palavras, uma das características desse ato é que a periferia, ou seja, as pessoas que estão à margem do sistema capitalista, não têm voz nem vez, pois ao longo da história, sempre que a massa se revoltou, ela foi esmagada e silenciada.

O fim desse ato culmina com a crise da hegemonia holandesa e a emergência da nova economia dominante: a inglesa, no final do século XVIII. Nesse segundo ato, podem-se observar as conseqüências dessa ideologia liberal, entre elas: a queda dos antigos regimes na Europa, como a monarquia, o fim do regime escravista, a independência de alguns países na América, a instalação de um capitalismo mais moderno e o endividamento externo e eterno, como ele ironiza.

O terceiro ato, por sua vez, se inicia com a crise do sistema capitalista no final do século XIX e a passagem da hegemonia da Inglaterra para os Estados Unidos, presenciada até os dias de hoje, mas cuja soberania está ameaçada desde a crise de 2008, o que faz o sociólogo apontar, com base em dados de outros estudiosos, que a China emergirá após a crise como a nova potência econômica mundial.

Um detalhe curioso desse ato é que com a transferência do palco, do centro do sistema econômico da Inglaterra para os EUA, faz com que nós da América Latina e Caribe, embora ainda continuemos na periferia, nos tornemos mais próximos do centro. A analogia ganha força com a reflexão de que passados mais de 500 anos da colonização das Américas, não houve mudanças estruturais. Ao centro do palco ainda se encontra uma elite branca e na periferia, estão os afrodescentes, os indígenas e todo o resto.

A grande mudança que se pode observar ao final desse ato é o surgimento de um novo ator em cena: os movimentos sociais, mais precisamente na segunda metade do século XX. Segundo o sociólogo, um dos fatores que permitiu a emergência dos movimentos sociais foi a cultura popular, passada de pessoa a pessoa, de geração a geração, realizada geralmente em forma coletiva e anônima, em mutirão, através do qual eram formadas consciências de que “outro mundo é possível”.

Além disso, esse novo ator não se limitava a defender os direitos da periferia, mas também a propor alternativas para sua valorização. “A massa estava calada, mas não silenciada, pois no murmúrio há comunicação” afirmou o conferencista. Segundo ele, ao longo da historia, a elite tentou destruir a cultura popular, através da desqualificação e não divulgação desta nos meios de comunicação de massa.

Mesmo assim, ela sobreviveu a isso e os movimentos sociais se tornaram atores importantes no processo de desintegração desse sistema de mercado. Uma forma de fazer isso seria criar um novo sistema. De acordo com Pedro Ribeiro, uma opção é o sistema solidário, que tem por base uma economia solidária, tema deste evento. Com destaque para o Rio Grande do Sul, estado pioneiro na implantação desse sistema no Brasil.
O sociólogo finalizou a primeira parte da conferência dizendo que o Mutirão de comunicação pode contribuir para a construção desse novo mundo possível, pois transmite uma mensagem de esperança que vem sendo murmurada ao longo dos séculos e que agora vê a possibilidade de ser amplificada pelos meios de comunicação.

O conferencista Pedro Ribeiro de Oliveira é Doutor em Sociologia, Professor de Ciências da Religião da PUC-MG com pesquisas na área do Catoliscismo popular, fé e política.

Karla Nery, da redação do Muticom.org

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