Saturday, March 31, 2012

EM GUERRA


São diferentes de mim estes seres engravatados. Servem a ordem e o trabalho. Não falam a minha linguagem. São robóticos, eficazes, servem o cão que lhes paga. Não creio sequer que possuam uma alma. Não vêm dos deuses nem das estrelas, não são dignos de Agamémnon e de Aquiles. Há uma guerra a travar contra eles e contra os seus patrões.

ÀS PORTAS DA ILÍADA


Às portas da Ilíada
amei a Liliana
ofereci-lhe o poema
levei-a para a cama

desprezastes
o homem à mesa
o mendigo,
o poeta ateu

agora, meus meninos,
tendes a espada
a guerrilha
o cálice
o reino que é meu.

Thursday, March 29, 2012

O RISO SOBERANO


Ao espelho do "Ceuta", como antes do "Estrela", o homem permanece à mesa. A chávena de café com um bocado de poema de Herberto. O homem espera a dama. Uns rejeitam-no, outros põem-no nas alturas. Há-de ser assim até ao fim da vida. A menos que ela venha mesmo. A revolução, pois então. Voltou a falar-se nela. O homem, no fundo, sempre acreditou. Desde os 18 anos que anda nisto, ou talvez mesmo já aos 17, no 12º, no Alberto Sampaio, quando só tinha três disciplinas e ouvia os Doors. Mas o ex-escritor incomoda-o. Tratou-o mal. Mas o homem agora é outro. Tem o rei na barriga. Os outros não sabem o quanto ele está próximo de iluminar a alma. É uma espécie de Buda. Barriga a condizer. À espera da dama. As outras damas passam, exibem-se na rua. O homem reflecte, pensa. Já quando era miúdo era assim. Mas quando era miúdo era frágil, tinha medos, inibições. Agora há dias em que é um incendiário. Pega fogo ao mundo e a si próprio. E a hora está a chegar de novo. A hora de ser rei, deus, xamã. Como Marlon Brando no "Apocalipse Now". Como Jim Morrison no "Lizard King". Como Nietzsche no "Zaratustra" e no "Ecce Homo". Não, desta vez não me apanhais, ó seres intermédios que continuais entretidos com os vossos negócios. De qualquer modo, ides todos à falência. O apocalipse está aí. A barbárie anda à solta. Começa a cheirar a carne. Começo a farejar os restos. As minhas casas, as minhas quintas. Em Braga, em Cabeceiras. Chegou a hora da vingança. Hamlet volta a ouvir o rei-pai. Aqui como na Dinamarca. Vou até ao fundo da rua. A rua é sempre a mesma. Acima, abaixo. Abaixo, acima. Entras nas caras, nas casas, nas camas. Fornicas a puta. A coisa arde, queima. Na Primavera. Na prima Vera. 27 de Março. Vai ser de novo tua. Começas a sacar as mulheres para o teu reino, ó poeta maldito. "Todas as crianças atacadas pela loucura". Reinas no Ceuta. Volta a reunir-se a Távola Redonda. Artur. Lancelote. Merlin. Agora sim, vais até ao fim. A rua é tua. A cidade é tua. Porto de abrigo. Porto rendido. Na Ordem do Terço, nas ruas da Sé, és o Che, és o Che. Balanças as ancas. Começas a pensar em ocupações. Sem lei. Fora-da-Lei. Este que vêdes está a caminho. Louco. Tão louco. Rei-profeta. Rei-poeta. Super-homem na rua de Ceuta. Odeias os engravatados, os funcionários do poder. Vens do inferno. Os autocarros passam no vidro. Rei e mendigo. OLha o perigo. Olha o poema. O poema que querias escrever. O poema de Artur, Perceval e Merlin. Aqui se cumpre. Na floresta. És um belo sacana. Esperas a dama. O jazz a roer. O Jaime ao poder. No espelho do ceuta. No espelho celta. Aqui o teu riso é soberano.

Monday, March 26, 2012

PUTA


Gingas as ancas
tomas a cidade
dona das ruas
incendeias-me
sem preconceitos
sem disfarces
dona das ruas
dona das noites
incendeias-me
quero beber-te.

A PALAVRA


Tens de dizer a palavra. Tens de ser capaz de dizer a palavra no momento certo. Tens de subir ao palco e dizer a verdade. Tens de ser capaz de fazê-lo mais do que nunca. Tens de ser tu próprio mais do que nunca. Tens de roubar o fogo aos deuses. Tens de ser Prometeu.

Friday, March 23, 2012


Que conversas tens?
Quanto te elevaste?

O que aprendeste?
O que te distingue
dos outros?
Que acrescentaste
àquilo que eras?

Cresceste em sabedoria?
Influencias as mulhedres?
Até onde vai a tua alma?

Que mundo criaste,
que obra é essa
que nos seduz
e nos inquieta?

Tuesday, March 20, 2012

AS MUSAS E DIONISOS


As musas e Dionisos existem mesmo. Fazem-nos dançar, celebrar, beber o vinho, brindar. É isso que acontece em algumas noites de poesia. O entusiasmo, a paixão vêm ao de cima. Só é verdadeiramente poeta aquele ou aquela que é inspirado pelos deuses, aquele ou aquela que, segundo Platão, possui o delírio das musas. Todo esse ritual sagrado, de arrebatamento espiritual, purifica. Dionisos está entre nós, quer o queiram quer não os mercadores e os economistas.

Saturday, March 17, 2012

Á PORTA


Não consigo dormir. Creio que estou a voltar a uma fase eufórica. Foi-se o Rui Costa, foi-se o Ulisses e eu continuo aqui, a percorrer o meu caminho, apesar de sentir dificuldades em respirar, apesar de andar com a barriga inchada. Já é dia. Os pássaros cantam. Bem diz o bom doutor que eu tenho de viver mais o dia. Andei anos e anos pela noite, de bar em bar, até ser dia. Agora acho que preciso da luz do dia. Talvez precise de ser menos o poeta de café, de escrever mais em casa. Tenho saudades de estar em Braga com a Gotucha aquele temo todo que estive o ano passado. Preciso de uma mulher que valorize a minha arte. Que me faça sentir o filósofo. Que crie comigo o super-homem. Sim, acho que poderia fundar uma nova religião. Acho que poderia ter seguidores. Aquela estória da revolução, de conquistar Lisboa com os gajos do rock. Ocupar a aldeia. Dispor da vida das pessoas. Aconteceu em 2007, depois da morte do meu pai. Esse ano foi terrível. Aconteciam mortes, assassinatos na família. Eu matava e ressuscitava as pessoas. O mal que queriam fazer à Gotucha. Aquela vez que apareci caído de bêbado na estrada depois de uma ida a uma tertúlia em Moncorvo. A outra vez que apareci nos campos, nos arredores da Póvoa sem saber como. Andei sete quilómetros a pé. 2007 foi um ano terrível. Pensava que era Deus, sentia transformações, sentia-me Deus. Agora estou aqui. A mente aberta. O dia lá fora. É mais um dia triunfal. As pessoas começam a precisar de mim e a respeitar-me mais. Volto a sentir aquela magia que sentia quando era miúdo. Até me apetece desatar a desenhar por desenhar, sem ter preocupações de me tornar um artista plástico. Definitivamente, enveredei pela carreira das letras. E estou a tentar livrar-me de gorduras desnecessárias. Terei mais cuidado com os próximos livros. Penso que posso chegar a muita gente. Sou um dos poetas malditos mas não serei apenas isso. Serei um filósofo. O que reflecte, o que tira conclusões, aquele que contempla. É importante este esforço de escrever, de manter a disciplina. Nunca me deu para construir personagens, a não ser a minha própria. Ainda assim penso que puderia escrever um daqueles "best-sellers" com as minhas descidas aos infernos ou, pura e simplesmente, com as minhas reflexões. Sim, creio que estou à porta.

Thursday, March 15, 2012

CULPADOS


Aumentam os sem-abrigo na cidade do Porto, aumentam os casos de depressão e suicídio, muita gente está a ficar endividada e sem dinheiro. Eis a Europa de Merkel, eis os seus empregados portugueses, eis a terra prometida de Obama e dos mercados. Os seres humanos são tratados abaixo de cão, são abandonados a um canto, nas ruas da cidade ou então sofrem sozinhos perante um mundo cão que não lhes dá amor, apoio, liberdade, dignidade. Passos Coelho, Merkel e a troika são mesmo culpados da morte, da solidão e da infelicidade de milhões de portrugueses. Entretidos a fazer o jogo dos especuladores e dos banqueiros são incapazes de um gesto de humanidade. Só há poder e negócios dentro daquelas mentes. Não merecem sequer que lhes chamemos seres humanos, são sub-homens, sub-mulheres. Eles e todos os seus criados e todos os que os seguem. Não são sequer dignos que lhes dirijamos a palavra. Merecem cair.

Wednesday, March 14, 2012

SÓCRATES E ROCK N' ROLL


Precisava de alguém com quem conversar
mas quem?
Aqui poucos estão à minha altura
vou-me dedicando aos livros
aos filósofos e aos poetas
ouço rock n' roll

as telenovelas nada me dizem
os noticiários tentam manipular-me
o jornal de hoje não traz revoluções
valha-me olhar para a Diana
ouvir conversas
que não me elevam
antes pelo contrário
na verdade, sou um filho
de Sócrates e do rock n' roll
um poeta do quotidiano
da cerveja que bebo
ontem subi no Pinguim
as palavras começaram a sair
sem limites
mesmo que não tivesse
saído em glória
sou um filho do rock n' roll
só me falta dançar
voltar à banda
mas queria mesmo falar com uma miúda
que não fosse superficial nem imbecil
olha, esta até traz um caderno
escreve umas coisas
sou mesmo um filho do rock n' roll.

A MÁQUINA E A VIRTUDE


Ninguém me telefona. Nem sequer os jornalistas. Estou aqui na aldeia sem amigos e sem amigas. Não falo com ninguém. Venho estudar Aristóteles e Lou Reed. Escrevo uns poemas e outros textos. Penso que estou a escrever melhor. Levantei-me às quatro da tarde. Estive no Pinguim e depois no "Pontual" com o Nuno e com o Carlos Andrade. Trabalho durante a tarde. Depois vem o telejornal e provavelmente, como bebi uma cerveja, depois do jantar não vou conseguir concentrar-me na "Poética" de Aristóteles. Mas eu precisava de beber uma cerveja para estar em sintonia com o rock n' roll.
É isso que eles nos vendem; telenovelas, telejornais, novamente telenovelas, concursos, programas imbecis, futebol. É a máquina de embrutecer alegremente, como dizia o meu pai. Roubam-nos a vida, a grandeza, a elevação. Alguns de nós são capazes de romper o feitiço. A maior parte não. Arrasta-se pela vida. Deixa-se levar pelas sombras da caverna, às vezes nem sequer as sombras discute.
Esta miúda da confeitaria, a Diana, tem uma energia fora do comum. Apesar de se enquadrar na máquina tem qualquer coisa de puro, de autêntico. Mas estava eu a falar do tempo que nos roubam. Os arautos da sociedade dos mercados, através dos media, não querem que desenvolvamos a nossa inteligência e a nossa personalidade, querem-nos dóceis, passivos, espectadores de um espectáculo, ainda por cima imbecil, que não controlamos. Querem-nos reduzir a primatas, a meros receptores ou então viram-nos uns contra os outros na luta pela existência enquanto o grande capital factura e avança. São os privilégios dos funcionários públicos, a malandrice dos beneficiários do rendimento mínimo e até dos desempregados, enfim, o desgraçado contra o desgraçado e uma luta, uma guerra que é perfeitamente animal feita de invejas, intrigas e mercearias. Não é este ceramente o sentido da virtude e da nobreza que vem de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Saturday, March 10, 2012

A NOVA POESIA


Segundo Allan Bloom, a terra já não está povoada de deuses nem de espíritos. Os homens só se destacam por motivos de fama, lucro ou riqueza. Este é o tempo do capitalismo dos mercados e da máquina de propaganda. Mas Rousseau propunha já "uma nova imaginação poética, motivada pelo amor". A mulher, além da beleza, pode conter a virtude. Talvez o amor, o culto da mulher, possa opor-se ao homem calculista, motivado pelo medo. Talvez a mulher siga os seus instintos báquicos e se afaste do materialismo enfadonho e da luta pela existência. Talvez o amor louco de Breton possa revolucionar o mundo: "Desejo que sejais loucamente amada". Eis a nova poesia.

O LIVRO DA VIDA

Aqui chegados. Que fazer? Agora que estamos a descobrir as verdadeiras motivações do homem, agora que estamos a descobrir as teses filosóficas por detrás disso, podemos chegar-nos à frente e dizer: nós sabemos, nós nada vos devemos a vós, ó guardiães da ordem estabelecida. Roma e Atenas estão connosco. Vós é que sois os bárbaros. Pensamos também que é redutor reduzir limitar as coisas ao marxismo ou mesmo ao anarquismo.
Beijamos as amigas na boca e por isso mantemos o desejo sexual e somos capazes das grandes obras. Só nos falta um mecenas que nos apoie. Somos capazes da magia e da profecia. Aprendemos com Rimbaud, Whitman, Morrison, Nietzsche, Herberto Hélder, Sá-Carneiro, Pessoa. Passamos metade da semana na aldeia a ler, a escrever, a estudar. Estamos no caminho. O homem vulgar já não nos engana. Conhecemos as suas tendências para o futebol, para as telenovelas, para o cálculo, para o ganho, para a autoconservação. É á juventude que queremos chegar. Já somos capazes de expressar as nossas opiniões sobre a virtude, sobre o belo, sobre a grandeza. Estamos convencidos de que, mais tarde ou mais cedo, os media terão de se voltar para nós. Porque nós dizemos o que poucos dizem. Porque nós somos capazes da ousadia. Acreditamos no homem novo. Seguimo-lo. Vamos escrever o Livro da Vida.

Friday, March 09, 2012

Amanhece na terra do meu pai
a Vita já cá não está
morreu há dias
está sepultada no fundo do quintal

olho agora o jardim
as árvores
os pássaros
o meu pequeno paraíso
o sino que toca
em tempos
esta foi uma boa terra
hoje está descaracterizada
com vários prédios
gente que já não se cumprimenta
é a sociedade comercial em todo o lado
o "Continente"
o "Pingo Doce"
o Soares dos Santos e o Belmiro
a facturar
e nós aqui tesos
mesmo que cultos,
honrados
e, por vezes, entusiastas

amanhece na terra do meu pai
e a Vita já não está cá.


Vilar do Pinheiro, Rua da Senra, 8.3.2012

A ESSÊNCIA DA VIDA


Os ideólogos da sociedade comercial e do capitalismo convenceram o homem pequeno de uma premissa irracional- a morte pode ser evitada. A partir daí, segundo Allan Bloom, convenceram o homem comum de que ele faz um "excelente uso da razão", ao produzir o cálculo da preservação e do ganho, que o homem nobre e o artista consideram baixo e menor. Esses ideólogos uniram-se ao homem pequeno e encetaram uma cruzada contra a imaginação. Maquiavel atacava os antigos por estes construírem repúblicas imaginárias. Atacou-se também o velho entusiasmo e produziu-se uma sociedade de homens frios, mesquinhos, calculistas. Só na noite e nas festas, a espaços, são admitidas a poesia e as artes, que não são um mero adorno como vulgarmente se pensa mas a própria essência da vida.

Thursday, March 08, 2012

JUÍZO FINAL


Levanto-me em glória na Avenida da Liberdade. Levanto-me na minha cidade. Os autocarros sobem e descem. As pessoas falam, ouço vidros a estalar. A minha mente completa-se. Tudo quanto sou será julgado hoje.

MACACOS, BÁRBAROS, IMBECIS


Uns macacos, uns bárbaros. Os que governam, os que se governam, os que se deixam governar. Nenhum brilho, nenhuma nobreza, nenhuma beleza, nenhum heroísmo, nenhuma elevação. Uns e outros escravos do comércio, da usura, da finança. Uns e outros viciados na máquina, do masoquismo, da castração. Nunca olhar de frente o sol, nunca caminhar livre, nunca ser grande, nunca a explosão. Trabalhar, obedecer, morrer ou então mandar nos outros mas ser também escravo do lucro, dos mercados, do poder. Macacos, bárbaros, imbecis.

Wednesday, March 07, 2012

POETA MALDITO


Volto a ser o poeta maldito
recupero o cinismo
a gargalhada sarcástica
enfrento os homens
provoco-os
desafio-os
como Diógenes

e se tivesse mais dinheiro
nos bolsos
o que não seria...
festa toda a noite
e todo o dia
falar com este e aquela
a glória
no meio do caos
o artista cabotino
o animal de palco

não, não sou inferior
àqueles que os media
promovem

a garganta arde
a miúda é amavél
responsável
casadoira.

Tuesday, March 06, 2012

A DÍVIDA, A CULPA E OS LADRÕES DO TEMPO

Como diz Nietzsche ("A Genealogia da Moral"), há uma relação entre a dívida (shulden) e a culpa (shuld), o conceito fundamental da moral burguesa. Os ditos credores ou usurários, além de nos transformaram em culpados de uma dívida que não contraímos, roubam-nos a independência e até o tempo. As mensagens que Merkel, a comunicação social e os economistas transmitem aos gregos vão nesse sentido: "vocês erraram", "vocês são culpados", "vocês não sabem gerir o dinheiro". Mas como afirmam Maurizio Lazzarato ("Le Monde Diplomatique", Fevereiro 2012) e Jacques Le Goff ("A Bolsa e a Vida"), os usurários até o tempo nos roubam: "o que vende (o usurário) senão o tempo que decorre entre o momento em que empresta e o momento em que é reembolsado com juros. Ladrão do tempo, o usurário é um ladrão do património de Deus". Logo, pagar a pretensa dívida a ladrões, além de nos sufocar, não faz sentido algum.

Monday, March 05, 2012

NÃO SOU TEU, Ó GOVERNO


Não sou teu, ó governo
és a abolição do eu
como diz Henry Miller
não tenho de acatar
nenhuma das tuas medidas
a tua cara
mete-me nojo
as tuas aparições televisivas
fazem-me vomitar
não sou teu, ó governo
nem dos teus ministérios
nem dos teus negócios
nem das tuas ministras cor-de-rosa
quando vim ao mundo
ninguém me disse
que teria de obedecer a governos
não!
Basta-me a minha vida
a minha escrita
as minhas leituras
o caminhar pela aldeia
ao sol
não há aqui leis
nem decretos
sou rei de mim mesmo
não preciso de governo
sinto-me mais sábio
mais próximo das crianças
sou o homem do xamã
do espírito livre
dos livres pensdadores
só preciso de companheiros
e de companheiras.


Vilar do Pinheiro, "Sonhos de Verão", 4.3.2012

Sunday, March 04, 2012

O SENTIDO DA VIDA


Qual o sentido da vida?
Desenvolver ao máximo as nossas potencialidades aqui na terra, engrandecer a nossa alma através da arte, do conhecimento, do prazer, da beleza.
Conhecer as grandes obras, os grandes homens, questioná-los.
Procurar entre os nossos contemporâneos aqueles que nos ensinam e aqueles que nos amam.
Provocar a discussão, sabendo que muitos estão já irremediavelmente perdidos nos seus medos e na mera sobrevivência.
Combater o obscurantismo, a ignorância, a tirania.
E como defendem Marx, Rimbaud, Breton, transformar o mundo, mudar a vida.

Friday, March 02, 2012

AS MAMAS DA CONCEIÇÃO LINO


As mamas da Conceição Lino
preparam croquetes

os programas para as sopeiras
excitam-me.

A MIÚDA QUE LÊ


A miúda que lê livros e jornais está precisamente à minha frente. Levanta-se. Paga. Provavelmente vai embora. Gostaria muito de discutir ideias com ela. Apenas isso, discutir ideias. Mas ela pega no livro e vai embora. A esta, sim, poderia oferecer o poema. Muitas das outras são umas ignorantes, não atingem a profundidade do pensamento. Mesmo que Sócrates diga que o poeta é um mensageiro dos deuses, um arauto da paixão e do entusiasmo, nunca um pensador.

A CONSTRUÇÃO DO HOMEM


Construir o homem anti-burguês, como Platão e Rousseau preconizam. Dar-lhe a conhecer obras que lhe desenvolvam o espírito e a criatividade, que o afastem do calculismo, da preocupação exclusiva com a auto-conservação e com o conforto. No fundo, preservá-lo da propensão para o ganho, para a competição, para o capitalismo. Como defendem Sócrates e Platão trata-se de arrancá-lo da caverna, de trazê-lo para a luz, o que "requer a descoberta da natureza que há debaixo das várias camadas de convenções", "da teia de opiniões e de mitos", de sombras, como afirma Allan Bloom em "Gigantes e Anões". É este o caminho do filósofo, daquele que procura o conhecimento, daquele que ultrapassa os preconceitos. É possível transmitir estes ensinamentos às crianças, aos jovens, a alguns adultos. O homem é um ser em construção, não deve ser um burguês, um macaco trepador. Não podemos aceitar a dominação imbecil de uma chimpanzé alemã, de um bando de especuladores que jogam com números e percentagens, da máquina de propaganda mediática. Temos de voltar ao que há de belo e nobre no homem, na senda de Sócrates, Platão, Rousseau e Nietzsche. Esse homem existe. É o filósofo e o artista. Temos de educá-lo. De retirá-lo da barbárie que está a destruí-lo. Temos de amá-lo.