Thursday, October 25, 2012

A VIA DA ILUMINAÇÃO

O levantar-me, o sair da cama, o enfrentar o dia. A angústia da existência, a máquina que nos sufoca mas também o prazer da leitura, de adquirir conhecimento, de me enriquecer. Estou só na confeitaria e escrevo. Estou a criar. Há muito que não tenho outro trabalho para além deste de escrever. A remuneração pode ser escassa mas eu continuo. Isto, o amor e a liberdade dão senti...do à minha existência. Não o trabalho imposto, não o capitalismo, não o dinheiro. Mas o ir-me transformando noutro, mais sábio, mais virtuoso, mais bom. Bebo dos mestres, não me contento com futebóis. E mesmo que permaneça aqui sozinho sei que estou a seguir o caminho certo. Posso não ganhar prémios mas sigo o caminho certo, a via da iluminação e do conhecimento.

Sunday, October 21, 2012

A NOVA ERA

A verdadeira vida é poética. Rimbaud disse que no mundo da prosa, "a verdadeira vida está ausente". O estado prosaico é utilitário e funcional e inclui, nas palavras de Edgar Morin, o sobreviver, o ganhar a vida, "o trabalho opressor, monótono, parcela, na ausência ou no recalcamento da afectividade". É o mundo da economia, do acumular dinheiro, da exploração, dos mercados, do tédio. Em contrapart... ida, a poesia é celebração, comunhão, embriaguez, dança, canto, música, transe, êxtase, maravilhamento com o belo e, claro, amor. A revolução só pode estar do lado da poesia, do amor, da liberdade, como diziam os surrealistas. É aí que o homem renascido se realiza. Não no sacrifício, não na culpa, não no pecado. Não numa "vida" sem novidade, sem curiosidade, sem descoberta. Não faz sentido vir ao mundo para sofrer, para ser humilhado, para andar deprimido, para pensar constantemente no suicídio. Abracemos a dádiva da vida, construamos um mundo de amor e poesia. Não nos deixemos derrotar pelos cinzentos, pelos pregadores da morte, pelos destruidores da vida. Não trabalhemos mais para eles. Celebremos Dionisos e o homem livre. Quem disse que era impossível? Unamo-nos. Ocupemos as praças. Nós não somos como eles. Nós não viemos explorar ninguém. Não viemos enganar ninguém. O mundo é nosso. Eles não podem roubá-lo mais. Eles não podem destrui-lo mais. Este é o início de uma nova era. Este é o renascimento do homem. Este é o banquete permanente. O homem veio para se ultrapassar, não para andar atrás de migalhas, não para ser escravo de outros homens ou da máquina. O homem veio para se transcender, para abrir novas vias, novos reinos. Todos nós podemos ser deuses. Amamos profundamente a vida. Queremos gozá-la sem entraves. Eles não podem impedir-nos. Eles não podem roubar-nos a poesia. Eles não podem roubar-nos a infância.

Friday, October 12, 2012

ESTADO DE GRAÇA

Há três dias consecutivos que estou em estado de farra e rock n' roll. Foi o cacau que veio do jornal, foi a festa do Manuel do "Guarda-Sol", foi o "meddley" a matar no "púcaros" com o "Poema de Amor Inocente Em Jeito de Manifesto Autárquico para a Cidade do Porto" e a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", foram também as palavras provocatórias introdutórias no "Art 7" de São João da Madeira do Angel e do Vitó. Depois houve aquela cena absolutamente "non-sense" nos Aliados, o gajo da câmara de filmar, o gajo do microfone a perguntar se eu era um homem que acreditava na sinceridade e depois a ficar 10 minutos calado e eu sem saber o que dizer. Uma cena absolutamente surrealista. Depois pediu-me para encostar o ouvido dele à minha barriga de cerveja. Eu deixei. As perguntas provocatórias sobre a homossexualidade, o abraço. Enfim, o gajo disse que o trabalho era só para ele. Vamos ver. Regressamos ao ecrã. A verdade é que me sinto novamente em estado de graça, próximo dos deuses e do espíritos. Capaz de teorizar sobre a situação de palco. As bocas que tu mandas, as provocações, o gozo com a campanha política permanente têm resultado. Não é chegar ali e "vomitar" os poemas. Há que fazer um enquadramento quando nos sentimos à vontade para isso. É esta a nossa profissão, o nosso trabalhinho.

A BARBÁRIE

Edição 81, 12 Outubro 2012 A BARBÁRIE Em 1845, em “A Essência do Dinheiro”, Moses Hess afirma que o capitalismo traduz a dominação exercida pelo deus-dinheiro sobre os homens, constituindo um sistema que coloca à venda a liberdade humana. O dinheiro é a essência e traz um mundo pior do que o da escravatura antiga porque “não é natural nem humano que alguém se venda a si próprio voluntariamente”. A tarefa do comunismo é, assim, abolir o dinheiro. Para Gustav Landauer essa tarefa não é aperfeiçoar o sistema industrial-capitalista mas ajudar os homens a redescobrirem a cultura, o espírito, a liberdade, a comunidade. Para outros, o capitalismo é traficar a alma, o espírito, o pensamento. Para Marx, exige-se “a revolta contra um mundo que transformou cada coisa numa mercadoria e degradou o homem, reduzindo-o ao estatuto de objecto”. Sim, temos o direito de exigir o homem integral. O poder do dinheiro pode destruir todas as qualidades humanas e naturais, reduzindo-as ao quantitativo. A troca de afectos é substituída pela troca do dinheiro por uma mercadoria. Não existe nada de mais abjecto do que o capitalismo e os seus mercadores e economistas. Reduzem tudo ao cálculo, ao deve e haver, ao orçamento. Cortam na vida das pessoas como se tratassem com objectos. A sensibilidade é substituída pela posse. Como dizem Michael Lowy e Robert Sayre em “Revolta e Melancolia”, “o ser, a livre expressão da riqueza da vida por actividades sociais e culturais, é cada vez mais sacrificado ao ter, à acumulação do dinheiro, das mercadorias e do capital”. O homem está fortemente condicionado na sua capacidade criativa pelas drogas que nos atiram todos os dias via media e por um mercado implacável. Segundo Lukács, “tudo deixou de ser avaliado por si próprio, pelo seu valor intrínseco- artístico ou ético- e apenas tem valor enquanto mercadoria vendível ou comprável no mercado”. É a barbárie, a selvajaria. Nem sabemos como ainda pode haver algum amor, algum diálogo, alguma filosofia. Eles estão a destruir o que de mais genuíno há no homem, esses merceeiros, esses moedeiros. Isto não é apenas a crise económica, isto não é apenas o irem-nos aos bolsos, isto é irem-nos à alma, destruírem os verdadeiros progressos da humanidade. Isto é destruir a vida. Não podemos mais aceitá-lo. Somos homens e mulheres. Não somos objectos, não somos notas e moedas. --- ESTAR AQUI Vir ao mundo, receber a graça de vir ao mundo. Depois brincar, ser livre. Ir à escola, aprender mas também ser moldado pela máquina, pelo mercado. Começar a questionar as coisas, guardá-las para si ou debatê-las com os melhores amigos. Fazer o liceu, ir para a Faculdade. Sair à noite, celebrar a noite, experimentar a liberdade. Mas depois voltar à máquina, ao mercado, à competição. Ler uns livros que contrariam isso. Depois vem novamente o ganhar a vida, o safar-se, o lutar pela existência, o passar por cima dos outros. Questionar tudo isso novamente, estar aqui no café com os livros, experimentar a liberdade. Saber que há uma via que está para lá da escravidão, do ser mais um, saber que essa via pode ser dolorosa mas saber que ela existe. Estar aqui, saber que não se está aqui por acaso, que temos um propósito, uma missão. Saber que isto está muito para lá do pão nosso de cada dia. Saber que isto não é o trabalho absurdo. Procurar o amor e o conhecimento. Ser o homem íntegro, integral. Não se deixar levar pela grande depressão. Estudar, ler os grandes, filosofar. Estar aqui, estar vivo, sem culpas nem pecados. Estar aqui soberano, sem patrões. --- A LUTA COMUM Grécia, Portugal, Espanha. A mesma luta. Contra os governos ultra-liberais, contra a austeridade, contra a troika. Mas também o combate contra a democracia burguesa, contra o sistema político, contra o capitalismo dos mercados. Milhões nas ruas a dizer sim à vida, contra os banqueiros e os especuladores da morte. Milhões a dizer basta. Milhões a dizer que isto não serve, que isto não presta. Que se esgotaram todas as negociações, todas as concertações sociais. Que exigimos o mundo e exigimo-lo agora, como cantava Jim Morrison. Que não é mais possível suportar o roubo, a vigarice, a mentira. Que somos cidadãos, homens livres, e não escravos ou macacos. Que temos de fazê-los cair de uma vez por todas. www.jornalfraternizar.pt.vu

Saturday, October 06, 2012

É A HORA

A pequena burguesia, o proletariado. Diz-se que é a pequena burguesia que essencialmente tem estado nas manifestações. Mas não estará a pequena burguesia a proletarizar-se? Será este proletariado pequeno-burguês o papel messiânico que Marx reservava ao proletariado? Estaremos, de facto, prontos a derrubar a burguesia, a fazer a revolução? Não teremos de derrubar o aparelho repressivo do...Estado- polícia, exército- ou de trazê-lo para o nosso lado? O que é facto é que há uma subida brutal dos impostos, um empobrecimento real da pequena burguesia e não apenas do operariado. O desemprego galopa. Os casos de depressão e suicídio avançam. Quer nos agarremos ou não ao marxismo vivemos numa situação desesperada. Temos de fazer tudo, greves gerais, grandes manifestações para derrubar o governo, para derrubar o capitalismo. É a hora.