Friday, February 29, 2008


A empregada da confeitaria
é amável comigo
e empresta-me uma caneta
Antero de Quental
fala-me da 1ª Internacional
o sol brilha lá fora
a música encanta-me
e faz-me cantar

Tuesday, February 26, 2008


Venho ao café escrever e ler livros
e as mulheres falam
venho ao café pregar a boa nova
e as mulheres fogem
venho ao café
e tu de amarelo
no meio dos doces
venho ao café de foice e martelo
e tu cumprimentas os clientes
venho ao café com os poetas
e o mundo enlouquece
venho ao café agitar bandeiras
e a música salva
venho ao café cantar hossanas
e os casais entram

Sunday, February 17, 2008

ZARATUSTRA


NIETZSCHE - "ASSIM FALAVA ZARATUSTRA, DA VISÃO E DO ENIGMA"





1. Quando os marinheiros souberam que Zaratustra estava a abordo – porque, ao mesmo tempo que ele, subira para bordo outro homem vindo das ilhas Afortunadas – houve grande curiosidade e grande expectativa. Zaratustra, porém, conservou-se em silêncio durante dois dias, frio e surdo na sua tristeza, não respondendo nem aos olhares nem às perguntas. Na noite do segundo dia, contudo, voltou a abrir os ouvidos, conquanto permanecesse calado; porque naquele barco, que vinha de longe e que ia para mais longe ainda, não faltavam coisas estranhas e perigosas para ouvir. Ora Zaratustra era amigo de todos os que fazem grandes viagens e não gostam de viver sem perigo. E eis que, enfim, à força de ouvir, sentiu a língua desatar-se também, e fundir-se o gelo do seu coração – e pôs-se a falar nestes termos:


“A vós, procuradores ousados, exploradores e a todos quantos alguma vez embarcaram com velas astutas para vencer os mares terríveis,

a vós ébrios de enigmas, amigos das penumbras, cuja alma cede ao apelo de flauta de todos os dédalos do abismo,

- porque vos recusais a seguir com mão medrosa um fio condutor, e o que podeis adivinhar, detestais de o ter de o deduzir –

somente a vós contarei o enigma que vi, a visão do solitário entre os solitários.

Atravessei ultimamente, muito triste, pelo meio de um crepúsculo lívido – sombrio e duro, com os lábios contraídos. Para mim mais de um sol se pusera.

Um atalho que subia obstinadamente por entre o entulho, um atalho perverso e solitário, desertado pela erva e pelas brenhas, um atalho de montanha rangia sob o desafio dos meus pés.

Progredindo, mudos, por entre o ranger trocista dos calhaus calcando a pedra que os fazia resvalar, os meus pés subiam pouco a pouco.

Subiam – a despeito do espírito que os arrastava para o precipício, o espírito da Gravidade, meu demónio e mortal inimigo.

Subiam – se bem que o demónio me cavalgasse entre gnomo e toupeira; paralisado e paralisador; instilando no meu cérebro chumbo pelos ouvidos, pensamentos parecidos com chumbo derretido.

“Ó Zaratustra – sussurrava ele em tom chocarreiro, separando as sílabas – pedra da sabedoria! Atiras-te muito alto mas toda a pedra atirada acaba por… voltar a cair!

Ó Zaratustra, pedra da sabedoria, pedra atirada por uma funda, destruidor de estrelas! Foi a ti mesmo que atiraste tão alto, mas toda a pedra atirada acaba por … cair.

Condenado a ti mesmo e à tua própria lapidação, ó Zaratustra, atiraste muito longe a tua pedra… mas será sobre ti que ela voltará a cair.”

Aqui se calou o anão; e muito tempo decorreu. Mas o seu silêncio oprimia-me, e num semelhante colóquio, na verdade, está-se mais só do que quando se está só.

Eu subia, subia, sonhando, pensando – mas tudo me oprimia. Assemelhava-me a um enfermo cansado do seu duro martírio, e a quem um sonho pior desperta do seu sono.

Eu, porém, tenho em mim essa coisa a que chamo a minha coragem; até agora conseguiu destruir todos os meus desencorajamentos. Essa coragem forçou-me por fim a fazer alto e a dizer: “Gnomo! Ou tu ou eu!”.

Com efeito não há melhor assassino do que a coragem – a coragem que ataca, porque quem diz ataque diz fanfarra.

Ora o homem é o animal mais corajoso. Foi por essa razão que venceu todos os outros animais. Ao som da fanfarra superou além disso todas as dores; e a dor humana é a pior das dores.

A coragem destrói também a vertigem que assombra a margem dos abismos! E onde haverá lugar onde o homem não se encontre à beira dos abismos? Não basta olhar para nos darmos conta desses abismos?

A coragem é o mais hábil dos matadores; a coragem mata até a compaixão. Ora a compaixão é o abismo mais profundo; quando o homem mergulha o olhar na vida é na compaixão que o mergulha.

Mas a coragem é o mais hábil dos matadores – a coragem que ataca. Matará até a morte, porque diz: “Era então isto vida? Então vamos recomeçar!”

Mas semelhante máxima, é uma fanfarra. Quem tiver ouvidos que oiça.

2.
“Detém-te, gnomo!” – disse – Ou eu ou tu! Eu, porém, sou o mais forte dos dois. Tu não conheces o meu pensamento de abismo; não serias capaz de o suportar.”

Nisto senti que se me aliviava a carga, porque o anão, curioso como era, me saltou dos ombros. E agachou-se numa pedra diante de mim. Mas no sítio onde tínhamos parado encontrava-se justamente uma porta.

“Olha para esta porta, gnomo – prossegui. – Tem duas saídas. Aqui se reúnem dois caminhos; ainda ninguém os seguiu até ao fim.

Este longo caminho que se estende atrás de nós, dura uma eternidade. E o longo caminho que se estende diante de nós, é outra eternidade.

Estes caminhos são contrários, opõem-se frontalmente, e é aqui, sob esta porta, que se encontram. O nome da porta está escrito no frontão: esse nome é “instante”.

Se alguém, todavia, seguisse por um destes caminhos, sem parar e até ao fim, julgas, gnomo, que estes caminhos se oporiam sempre?”

“Tudo quanto é recto mente – murmurou o anão com desdém. – Toda a verdade é sinuosa, o próprio tempo é um círculo.”

“Espírito de Gravidade, disse eu irado – não tomes as coisas tão ao de leve, ou te deixo onde estás agachado, coxo – e olha que fui eu que te trouxe cá acima!

Olha para este instante – continuei. – A partir desta porta do Instante um longo caminho, um caminho eterno, estende-se para trás de nós; há uma eternidade atrás de nós.

Tudo quanto é capaz de correr não deve, necessariamente, ter já percorrido este caminho ao menos uma vez? Tudo o que pode suceder, entre todas as coisas, não deve ter já acontecido, ocorrido, ter passado?

E se tudo o que já foi, que pensas deste instante, anão? Esta potra não deve também ter já estado?

E não estão todas as coisas tão solidamente imbricadas que este instante arrasta após si todas as coisas futuras? E também ele próprio, por consequência?

Porque tudo quanto é capaz de correr deverá sem nenhuma dúvida percorrer mais uma vez este longo caminho que se afasta daqui!

E aquela lenta aranha que rasteja ao luar, e este luar e tu e eu debaixo desta porta, falando em voz baixa de coisas eternas, - não é necessariamente obrigatório que uns e outros tenhamos já existido?

Não nos será necessário regressar e percorrer este outro caminho que se afasta diante de nós, este caminho longo e temível – não será necessário que todos regressemos?”

Assim falava eu, em voz cada vez mais baixa, porque tinha medo dos meus próprios pensamentos e da sua oculta intenção. Então de súbito ouvi muito perto de mim uivar um cão.

Já alguma vez tinha ouvido uivar um cão daquela maneira? O meu pensamento percorreu rapidamente o curso do tempo. Sim, quando era criança, na minha mais distante meninice,

ouvi um cão uivar assim. E vi-o também, com o pêlo eriçado, a cabeça levantada, trémulo, à hora silenciosa da meia-noite, quando até os próprios cães acreditam em fantasmas,

de modo que me enchi de pena. A lua cheia subia precisamente num silêncio de morte por cima da casa; depois deteve-se semelhante a um disco incandescente por cima do telhado liso, como se instalasse na propriedade alheia.

Foi isso que aterrou o cão: os cães acreditam nos ladrões e nos fantasmas. E quando ouvi outra vez aquele uivo, senti-me como outrora dominado pela piedade.

Para onde fora o gnomo? E a porta? E a aranha? E aquela voz sussurrante? Teria sonhado? Estaria a acordar? Voltei a encontrar-me no meio dos rochedos agrestes, sozinho de repente, abandonado ao luar mais desolado que existia.

Mas ali jazia um homem! E o cão, a saltar e a gemer, de pêlo eriçado, viu-me caminhar então, e começou a uivar outra vez e pôs-se a gritar. Já alguma vez tinha ouvido um cão gritar por socorro daquela maneira?

E vi, na verdade, aquilo de que nada, anteriormente, me tinha dado ideia. Vi um moço pastor a contorcer-se anelante e convulso, o semblante desfigurado, porque uma pesada serpente lhe pendia da boca.

Quando vira eu tamanha repugnância e pálido terror pintado no mesmo rosto? Tinha adormecido, decerto. E a serpente tinha-se-lhe introduzido na garganta, ali se aferrando com suas presas.

A minha mão começou a puxar a serpente, puxou… mas em vão! Não conseguia extirpar da garganta aquela serpente. Então uma voz gritou pela minha boca: “Morde! Morde!

Morde! Arranca-lhe a cabeça!”, gritava a voz. Espanto, ódio, nojo, piedade, tudo o que trazia de melhor e de pior em mim jorravam de mim num único grito.

Valentes que me rodeais, exploradores, aventureiros, e vós outros que nunca embarcastes sob velas astuciosas, por mares nunca explorados, amadores de enigmas,

decifrai-me o enigma que vi então, interpretai um pouco a visão do mais solitário!

Porque era ao mesmo tempo visão e previsão. Que vi então em imagem? E qual é o que deve chegar um dia?

Quem é o pastor, quem é a serpente que se lhe introduziu na garganta? Quem é o homem em cuja garganta se introduzirá assim o que há de mais negro e de mais pesado no mundo?

- O pastor, porém, começou a morder, como o meu grito lhe tinha aconselhado; mordeu de maneira firme! Cuspiu para longe de si a cabeça da serpente e levantou-se com um salto.

- Já não era pastor, já não era homem – transformado, transfigurado, ria! Nunca houve homem nesta terra que se risse como ele.

Ó meus irmãos! Ouvi uma risada que não era um riso humano, e agora devora-me uma sede, uma ânsia que nada aplacará.

Devora-me a ânsia daquele riso; oh!, como posso tolerar ainda a vida! E como tolerar agora a morte!

Assim falava Zaratustra.
.
.
Noite
Navalha
Partindo
Algemas
Liberando
In pulsos
A dor
A fome
Pedaços de sonhos
Perfuram
A escuridão
Des cobertas
Nuvens
Passagens...
Ao som de Piaf
Perfume francês
Em um Café barato
Cigarrilhas
Fumaça
Nos olhos
Fogueira...
Dançam
Sussurros
Na veia
Principia
O cio
Precipício
Viagem...
In sanidade
Dos corpos
Em um copo
A mais de vodka
Vesúvios
Explodem
Lavas
Lavam
A epiderme
Erupção
Da realidade...
Transbordando o Sena
No meu quarto
Fim da cena...
Acordo...
Entre
Acordes
Franceses
Tocando
A carne...

(Raiblue)

P.S.:Poesia registada na Biblioteca Nacional.



Fonte: http://www.poemas-de-amor.net/blogues/raiblue/la_rue_du_dsir

Saturday, February 16, 2008


Sou tratado com amabilidade
como um cidadão respeitável e intocável
apesar de estar teso
e a caminho da loucura.

Wednesday, February 13, 2008

UM POETA A MIJAR


UM POETA A MIJAR NA CENTÉSIMA PÁGINA

O livro "Um Poeta a Mijar" (Corpos Editora) de A. Pedro Ribeiro vai ser apresentado no próximo dia 15 de Fevereiro, sexta, pelas 18,30 horas (e não às 23,30) na livraria "Centésima Página" em Braga. O evento conta com a presença do autor e do crítico literário Rui Lage.
"Um Poeta a Mijar" sucede a "Saloon" (Edições Mortas, Março de 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, Braga, 1988). "Um Poeta a Mijar" situa-se entre o Dada, o surrealismo e o beatnick, entre o místico e o maldito, entre a solidão e o quotidiano, entre o sexo e a noite, entre o palco e a loucura. "Um Poeta a Mijar" é o poeta, algo punk, algo niilista, que mija nas instituições e no estabelecido, na Igreja e no Estado, que já deixou de acreditar nos faróis, nas sociedades ideais e alternativas, nos partidos, na moral. É também o rocker que deambula pela cidade, pelos bares, pelos cafés e que sobe ao palco em busca do Graal, de Jim Morrison, de Dionisos, de Nietzsche, do Espírito Livre. Inclui poemas como "Futebol-Dada", "Borboletas", "Mamas 2", "A Ilíada no Velvet", "A Loucura", "Dá-me Uma Mulher", "Lúcifer", "Ode a Jim Morrison", "Dyonisos The King", "The King is Not Dead", "Satã Comeu a Cortesã", "Papa-Dada", "Entre a Merda e o Ouro", "Maldoror, Meu Amor", "Prior de Sion" e "Sapataria Tony".
A. Pedro Ribeiro ou António Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 1968. Viveu em Braga, onde frequentou os liceus Sá de Miranda e Alberto Sampaio, Trofa e Porto e actualmente reside em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e vocalista das bandas Mana Calórica e Las Tequillas. Diz regularmente poesia há 20 anos, tendo actuado em Agosto de 2006 no Festival de Paredes de Coura ao lado de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) e em Setembro de 2007 no Festival de Poesia do Condado em Salvaterra do Minho. Em 2004 e 2005 alguns orgãos de comunicação social noticiaram uma candidatura sua à Presidência da República pela Frente Guevarista Libertária e pelo Partido Surrealista Situacionista Libertário.

Leio Rilke
e maravilho-me

a loirinha varre o chão
e o patrão reaparece ao balcão.

Tuesday, February 12, 2008

DE PEDRO MEXIA SOBRE LUIZ PACHECO


Mas o Pacheco não é só um surrealista dissidente e um jornalista dos copos e do estilo. Os seus textículos, contos autobiográficos geralmente curtos e muitas vezes líricos, são do melhor que se tem escrito por cá. Não podemos ignorar prosas como «O Teodolito», «Os Namorados» e sobretudo os fabulosos «Comunidade» e «O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor», textos cheios de ternura e desespero, de memórias e sarcasmos. «Comunidade» mostra como o abjeccionismo de Pacheco pode não ser uma coisa apenas abjecta mas também poética, assim um mundo à João César Monteiro. Nesse relato, uma família dorme numa só cama em condições miseráveis, numa cama-jangada onde se revelam as misérias e esplendores da condição humana. A família, nem é preciso dizer, é a do Pacheco, dado a lolitas e à procriação. «O Libertino…» é uma tragicomédia sexual na cidade dos Arcebispos, em que um libertino frustrado (o Pacheco, está-se mesmo a ver) persegue em vão uma adolescente, não tem dinheiro para ir a um bordel, tem um encontro interrompido com um magala e acaba numa pensão rasca condenado ao sexo solitário; neste texto fica bem demonstrado como a libertinagem do Pacheco não é a libertinagem sofisticada dos aristocratas racionalistas e decadentes – embora o Pacheco não seja um filho das ervas – mas uma cedência sem culpa nem alegria às pulsões e às oportunidades da vida (v. Cardoso Pires na «Cartilha do Marialva»). Em relação a estes textos o Pacheco sente-se um pouco como os cantores que vêem o público pedir sempre os mesmos velhos sucessos: já está farto deles. Mas, o que é que se há-de fazer, são mesmo do melhor que escreveu?
.
Existe em Portugal uma certa corrente surrealista-abjeccionista que tem no Pacheco o seu patriarca, mas o certo é que a descendência não vale nada ao pé dele. Porque o Pacheco, apesar dos processos, das prisões, das adolescentes e dos rapazes, das pensões, dos sanatórios, do alcoolismo, da mendicidade, do «viver de amigos», vê esse ofício de «escritor maldito» como uma condição apesar de tudo útil mas não como um destino voluntário. Muita gente gosta de Pacheco por má razões, mas isso é o que acontece com todos os «malditos». Porque o Pacheco, ó dadaístas, faz literatura, escreve prosa da melhor, faz estilo sem exercícios, é um panfletário sem ser um energúmeno, é terrivelmente sincero mesmo quando finge. Não é um velho dos Marretas ou o «marginal» de serviço, mesmo que queiram vê-lo assim. Na Contraponto deu-nos Cesariny e Herberto, e também Kleist, Dostoievsky, Pirandello, Tchekov e Apollinaire. O Pacheco, enfim (mas é preciso dizê-lo baixo) é um escritor. Depois de sucessivas mas obscuras edições e reedições, já se tornava necessária a reunião de vários textos num só volume. A edição da Estampa não é brilhante, mas é mesmo assim preciosa e tem uma bibliografia patusca. A seguir o que falta mesmo é a obra completa. Em papel-bíblia, claro.

in http://ofuncionariocansado.blogspot.com

HERBERTO HÉLDER


Se houvesse degraus na terra


Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Herberto Helder
in http://sitiopeludo.blogspot.com

Monday, February 11, 2008

UM ANO DE PARTIDO SURREALISTA


Este blog faz um ano. Como foi dito na abertura do mesmo:
Hoje nasce oficialmente o blog do PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO. Começamos por saudar todos os camaradas, companheiros e amigas que, desde já, se queiram associar às nossas causas. Queremos construir um novo partido sem dirigidos nem dirigentes, sem sabonetes, nem detergentes. Saudamos também os nossos irmãos em http://pipa55.blogspot.com http://tripnaarcada.blogspot.com http://xamachama.blogspot.com

UM POETA A MIJAR


O livro "Um Poeta a Mijar" (Corpos Editora) de A. Pedro Ribeiro vai ser apresentado no próximo dia 15 de Fevereiro, sexta, pelas 23,30 horas na livraria "Centésima Página" em Braga. O evento conta com a presença do autor e do crítico literário Rui Lage.
"Um Poeta a Mijar" sucede a "Saloon" (Edições Mortas, Março de 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, Braga, 1988). "Um Poeta a Mijar" situa-se entre o Dada, o surrealismo e o beatnick, entre o místico e o maldito, entre a solidão e o quotidiano, entre o sexo e a noite, entre o palco e a loucura. "Um Poeta a Mijar" é o poeta, algo punk, algo niilista, que mija nas instituições e no estabelecido, na Igreja e no Estado, que já deixou de acreditar nos faróis, nas sociedades ideais e alternativas, nos partidos, na moral. É também o rocker que deambula pela cidade, pelos bares, pelos cafés e que sobe ao palco em busca do Graal, de Jim Morrison, de Dionisos, de Nietzsche, do Espírito Livre. Inclui poemas como "Futebol-Dada", "Borboletas", "Mamas 2", "A Ilíada no Velvet", "A Loucura", "Dá-me Uma Mulher", "Lúcifer", "Ode a Jim Morrison", "Dyonisos The King", "The King is Not Dead", "Satã Comeu a Cortesã", "Papa-Dada", "Entre a Merda e o Ouro", "Maldoror, Meu Amor", "Prior de Sion" e "Sapataria Tony".
A. Pedro Ribeiro ou António Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 1968. Viveu em Braga, onde frequentou os liceus Sá de Miranda e Alberto Sampaio, Trofa e Porto e actualmente reside em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e vocalista das bandas Mana Calórica e Las Tequillas. Diz regularmente poesia há 20 anos, tendo actuado em Agosto de 2006 no Festival de Paredes de Coura ao lado de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) e em Setembro de 2007 no Festival de Poesia do Condado em Salvaterra do Minho. Em 2004 e 2005 alguns orgãos de comunicação social noticiaram uma candidatura sua à Presidência da República pela Frente Guevarista Libertária e pelo Partido Surrealista Situacionista Libertário.

Sunday, February 10, 2008

SATANISMO


O satanismo é um movimento religioso e filosófico centrado em torno de Satã ou outra entidade identificada com Satã, ou centrado nas forças da natureza, em particular da natureza humana, representada por Satã como um arquétipo. Ao contrário de muitas religiões e filosofias, o satanismo foca a sua atenção no avanço espiritual e/ou hedonista do indivíduo em vez de a focar na submissão a uma divindade ou a um conjunto de códigos morais. Existem vários tipos de satanistas na sociedade contemporânea.


Origem do termo
O termo Satan originou-se do Judaísmo e se expandiu entre cristãos e seguidores do Islamismo, chegando desse modo a disserminar-se entre diferentes culturas. Em hebraico o termo quer dizer adversário, opositor, se opondo, ir contra.

O termo satanismo foi utilizado pelas religiões abraâmicas para designar práticas religiosas que consideravam estar em oposição directa do deus abraamico. Por exemplo, o primeiro exemplo que se conhece do uso da palavra surge em An apologie of the Church of England", de Thomas Harding, que se refere á Igreja Anglicana como satanista. (época em que Lutero pela primeira vez trouxe à Germânia a taça envenenada das suas heresias, blasfémias e satanismos).

Visto que o Martinho Lutero teria negado qualquer ligação entre os seus ensinamentos e Satã, este uso do termo satanismo era principalmente pejorativa. Muitos satanistas acham ofensivo este uso do termo.

A palavra satã em si não tem relações com demônio ou relacionados e foi adotada como termo pejorativo pela Igreja Católica, que também falou de vários rituais supostamente praticados pelos satanistas. Os acusados de satanismo eram os cientistas, tais como Galileu. Estes rituais são praticados atualmente por algumas pessoas que se dizem seguidoras do demônio ou rebeldes à igreja.





[editar] Princípios do Satanismo
O Satanismo, antes de ser uma religião, é uma filosofia. Se o despir dos seus simbolismos, rituais, celebrações e dogmas, terá um conjunto de bases que acima de tudo exaltam o deus que existe dentro de cada um de nós, sejamos Satanistas ou não.

Para o Satanista, Deus, o Diabo, Anjos e Santos não passam de fragmentos da personalidade de cada um. Quando alguém exterioriza esse Deus ou Diabo o que está a fazer é deixar a sua majestade natural de lado para adorar idéias que não são suas, e de maneira indireta adorar a pessoa que criou essas idéias. Ou seja, o Satanismo não é a adoração do Diabo ou uma versão às avessas do Cristianismo, mas sim a exaltação do Eu.

O Satanismo é contra o modo de ser da crença Católica, variantes das Cristãs, ou qualquer outra em que se adore um Deus ou uma divindade exterior; ou é eleita uma pessoa para ser a representante viva de um Deus ou de uma Deusa ou dos deuses na Terra.

No Satanismo cada ser vivo é o seu próprio Deus e governante, cada um é responsável pelos seus atos e o seu modo de ser. Cada um é o seu próprio sacerdote, salvador e Deus.

Alguns casos há efetivamente o culto a uma entidade espiritual, que pode ser denominada por Satã ou receber outro nome.

Em outros casos, o que é rejeitado é a idéia de culto a algo externo à pessoa. O que se busca é a expressão da plena liberdade e responsabilidade da pessoa por si mesma. É por vezes considerado uma forma de ateísmoou como uma forma de anti-cristianismo.

Outro aspecto é se o movimento utiliza-se em rituais - com caráter religioso próprio - ou se está fundamentado numa atitude filosófica e prática. O predomínio de um ou outro aspecto caracteriza diferentes movimentos satanistas.

Thursday, February 07, 2008


O poeta refugia-se na leitura
porque a vida é chata, rotineira
o poeta pede uma cerveja
pode ser que a palavra venha

e ela vem...

in http://antonioaleixo.blogtok.com

Tuesday, February 05, 2008

PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO


Por uma terra sem amos, por um mundo sem tédio, assim se define o Partido Surrealista Situacionista Libertário (PSSL), em processo de legalização. Rejeitamos uma sociedade em que o mercado tudo comanda, em que o homem é reduzido à condição de mercadoria, em que o tédio, o sofrimento e a depressão imperam. Rejeitamos o capitalismo e o Estado e defendemos o terrorismo poético como arma de resistência e de ridicularização do instituído. Contra o absurdo, sejamos absurdos.
Rejeitamos a sociedade-espectáculo. Façamos nós o nosso próprio espectáculo. Sejamos dionisíacos e nietzscheanos em busca do espírito livre, do Uno Primordial. Por uma terra sem amos, por um mundo sem tédio.

UM POETA A MIJAR NO PÚCAROS




"UM POETA A MIJAR" NO PÚCAROS

O livro "Um Poeta a Mijar" (Corpos Editora) de A. Pedro Ribeiro vai ser apresentado no próximo dia 6 de Fevereiro, quarta, pelas 23,30 horas no bar Púcaros no Porto. O evento conta com a presença do autor, dos diseurs Luis Carvalho e Isaque Ferreira, do crítico Rui Manuel Amaral e dos editores Ricardo de Pinho Teixeira e Adriana Pereira.
"Um Poeta a Mijar" sucede a "Saloon" (Edições Mortas, Março de 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, Braga, 1988). "Um Poeta a Mijar" situa-se entre o Dada, o surrealismo e o beatnick, entre o místico e o maldito, entre a solidão e o quotidiano, entre o sexo e a noite, entre o palco e a loucura. "Um Poeta a Mijar" é o poeta, algo punk, algo niilista, que mija nas instituições e no estabelecido, na Igreja e no Estado, que já deixou de acreditar nos faróis, nas sociedades ideais e alternativas, nos partidos, na moral. É também o rocker que deambula pela cidade, pelos bares, pelos cafés e que sobe ao palco em busca do Graal, de Jim Morrison, de Dionisos, de Nietzsche, do Espírito Livre. Inclui poemas como "Futebol-Dada", "Borboletas", "Mamas 2", "A Ilíada no Velvet", "A Loucura", "Dá-me Uma Mulher", "Lúcifer", "Ode a Jim Morrison", "Dyonisos The King", "The King is Not Dead", "Satã Comeu a Cortesã", "Papa-Dada", "Entre a Merda e o Ouro", "Maldoror, Meu Amor", "Prior de Sion" e "Sapataria Tony".
A. Pedro Ribeiro ou António Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 1968. Viveu em Braga, Trofa e Porto e actualmente reside em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e vocalista das bandas Mana Calórica e Las Tequillas. Diz regularmente poesia há 20 anos, tendo actuado em Agosto de 2006 no Festival de Paredes de Coura ao lado de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) e em Setembro de 2007 no Festival de Poesia do Condado em Salvaterra do Minho. Em 2004 e 2005 alguns orgãos de comunicação social noticiaram uma candidatura sua à Presidência da República pela Frente Guevarista Libertária e pelo Partido Surrealista Situacionista Libertário.

Monday, February 04, 2008

LORCA





A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.


A las cinco en Punto de la tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!




Federico García Lorca (1898-1936)

(Vítima da Guerra Civil de Espanha)



Fonte: http://bloguedasartes.blogspot.com/2008/02/la-cogida-y-la-muerte.html

Saturday, February 02, 2008

BENJAMIN PÉRET


IMPERATIVO

Temer o suor das moscas extraviadas nos bairros em construção Envilecer os jarros de estanho até serem rasgados pelos filhotes de cachorro Retorcer os antigos armários para extrair um pouco de pó de rubi com o qual colorir os lagos Assoviar repetida e longamente para que respondam os ossos bem caiados que não querem entender razões Lavar a tinta com vinho tinto para distrair as crianças que brigam no pátio Cortar a luz em quatro e atirá-la às feras Extrair da areia todos os dentes que ela contém para levantar muros Transformar as armaduras em incubadoras para obter pintinhos de bico grande Apertar as tartarugas até convertê-las em mantas Regar todos os dias as bandeiras com óleo de máquinas Queimar os camembert passados até que salte o fênix Acariciar as lentilhas uma a uma antes de semeá-las Sacudir os tapetes com uma navalha para fabricar gaiolas de canários Esgotar as reservas de ouro para comprar fivelas de cabelo Assustar as lagostas que tentam penetrar em uma tabaqueira Cozinhar os violinos em molho branco Dourar as escadas para evitar varrê-las Rodopiar nas igrejas na hora da missa solene mas não insultar nunca o carteiro para expulsar os ratos do relógio que atacariam os bronzes artísticos a mordidas.

ARTAUD


Artaud

a Europa se esgotou

e tu vieste à América dos tarahumaras primitivos

dançando a força de seus rituais

até chegar ao estágio da visão.



Você queria entender o sol

participar do transe de secretas ordenações

como se tudo fosse uma espécie de lição



e agora alguma coisa te restitui

ao que existe do outro lado de ti

aprende Artaud

a reconhecer os sinais

os deuses nos contemplam dos rochedos

e eles nada pedem

só o físico sobrenatural

só a matéria de tua pele

em carne viva desde sempre

a refletir um sonho que se vai



agora conheces os que curam através do sonho

e sabes que um branco é apenas um homem

que os espíritos abandonaram



agora sabes das cruzes com os espelhos amarrados entre dois sóis

raiz hermafrodita

labareda

faz teu apelo às forças obscuras



Artaud

grande mestre curandeiro

o rito da aurora negra

na noite eterna do sol.

ARTAUD


Passei nove anos num asilo de alienados.

Fizeram-me ali uma medicina que nunca deixou de me revoltar.

Essa medicina chama-se eletrochoque



, consiste em meter o paciente num banho de eletricidade

fulminá-lo

e pô-lo bem esfolado a nu

e expor-lhe o corpo tanto externo como interno

à passagem de uma corrente

que vem do lugar onde não se está

nem deveria estar



para lá estar.

O eletrochoque é uma corrente que eles arranjam sei lá como,

que deixa o corpo,

o corpo sonâmbulo interno,

estacionário

para ficar sob a alçada da lei

arbitrária do ser,

em estado de morte

por paragem do coração.

ARTAUD


"Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.

Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre morto.

Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.