Tuesday, January 29, 2008


Todos me falam como se estivéssemos
numa sessão de terapia de grupo
todos me falam de esgotamentos,
de altos e baixos
todos sofrem de doença bipolar
e a loira, ao fundo, ri
e o homem de verde escreve
não sou o único
e os poemas longos afinal
não são os melhores
para quê gastar tantas energias
a escrevê-los se depois
não são seleccionados?
Para quê escrever
se isso não me traz rendimentos?
Para quê passar a tarde no "Piolho"
à espera de quem não vem?
Para quê beber cerveja
se o efeito é passageiro?
Para quê beber mais cerveja
se o efeito continua a ser passageiro?
Para quê ficar e não partir?
Para quê partir e não ficar?
Para quê ser doido entre normais?
Para quê viver?
Para quê acreditar?

Porto, Piolho, 29.1.2008

Sunday, January 27, 2008

POEMA DOS MEUS 43 ANOS-BUKOWSKI


Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida-
careca como uma lâmpada,
barrigudo
grisalho
e feliz por ter
um quarto.

De manhã
eles estão lá fora
a ganhar dinheiro:
juízes, carpinteiros,
canalizadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
lavadores de carros, barbeiros,
dentistas, floristas,
cozinheiros, taxistas

e tu viras-te
para o lado esquerdo
para apanhar sol
nas costas
e não nos olhos.

CHARLES BUKOWSKI


www.germinaliteratura.com.br/bukowskipoemas.htm

CONFISSÃO-BUKOVSKI


esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama

sinto muita pena de
minha mulher

ela vai ver este
corpo
rijo e
branco

vai sacudi-lo e
talvez
sacudi-lo de novo:

"Henry!"

e Henry não vai
responder.

não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma

no entanto,
eu quero que ela
saiba
que dormir
todas as noites
ao seu lado

e mesmo as
discusões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas

e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora
ser ditas:

eu
te amo.

BUKOVSKI


O bluebird
em meu coração tem um pássaro
que quer sair
mas eu sou mais forte que ele,
eu falo, fica aí dentro, eu não vou
deixar ninguém
te ver.

em meu coração tem um pássaro
que quer sair
mas eu taco uísque nele e respiro
fumaça de cigarro
e as putas e os barmen
e as caixas de mercado
nunca sabem que
ele está
aqui dentro.

em meu coração tem um pássaro
que quer sair
mas eu sou mais forte que ele,
eu falo,
fica na tua, você quer me pôr
em apuros ?
você quer sacanear minha
obra ?
detonar minha venda de livros na
Europa ?

em meu coração tem um pássaro
que quer sair
mas eu sou mais esperto, só deixo ele sair
de noite às vezes
quando todos estão dormindo.
eu falo, sei que você está aí,
então não fique
triste.

daí o ponho de volta,
mas ele ainda canta um pouco
aqui dentro, eu não o deixei morrer
totalmente
e a gente dorme junto desse
jeito
com nosso
pacto secreto
e é bem capaz de
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora ?

CHARLES BUKOVSKI


Homem e mulher na cama às dez da noite


eu sou a fim de uma lata de sardinhas, ela disse.
eu sou a fim de um band-aid, eu disse.
eu sou a fim de um sanduíche, ela disse.
eu sou a fim de um tomate fatiado, eu disse.
eu sou a fim de que fosse chover, ela disse.
eu sou a fim de que o relógio parasse, eu disse.
eu sou a fim de que a porta estivesse destrancada, ela disse.
eu sou a fim de que um elefante entrasse, eu disse.
eu sou a fim de que nós pagássemos o aluguel, ela disse.
eu sou a fim de que nós arrumássemos um emprego, eu disse.
eu sou a fim de que você arrumasse um emprego, eu disse.

eu não sou a fim de trabalhar, eu disse.

eu sinto que você não liga pra mim, ela disse.
eu sinto que nós devíamos fazer amor, eu disse.
eu sinto que nós temos feito amor demais, ela disse.
eu sou a fim que nós fizéssemos mais amor, eu disse.
eu sou a fim de que você arrumasse um emprego, ela disse.
eu sou a fim de que você arrumasse um emprego, eu disse.
eu sou a fim de mais um drinque, ela disse.
eu sou a fim de um uísque, eu disse.
eu sinto que vamos acabar no vinho, ela disse.
eu sinto que você está certa, eu disse.
eu sou a fim de desistir, ela disse.
eu sou a fim de tomar um banho, eu disse.
eu sou a fim demais que você tomasse um banho, ela disse.
eu sou a fim de que você lavasse as minhas costas, eu disse.
eu sinto que você não me ama, ela disse.
eu sinto que eu te amo, eu disse.
eu sinto aquela coisa em mim agora, ela disse.
eu sinto aquela coisa em você também, eu disse.
eu sinto que te amo agora, ela disse.
eu sinto que te amo mais do que você a mim, eu disse.
eu me sinto incrível, ela disse, eu sou a fim de gritar.
eu sou a fim de que continuasse para sempre, eu disse.
eu sou a fim de que você possa, ela disse.
eu sou a fim, eu disse.
eu sou a fim, ela disse.

MORTE À BOLA!

As conversas futeboleiras começam a irritar-me
ontem até vi o jogo com agrado
mas não vislumbro felicidade alguma nos estádios

Morte à bola e ao Rocha!

Wednesday, January 23, 2008

INTERNACIONAL SITUACIONISTA


A Internacional Situacionista Revisitada

Gilles Dauvé

No ano 2000, "sociedade do espetáculo" tornou-se uma expressão na moda, não tão famosa como "luta de classes" já foi, mas em todo o caso socialmente mais aceitável. Além do mais, a Internacional Situacionista (IS) é agora ofuscada pela sua figura principal, Guy Debord, que é geralmente apresentado como o último revolucionário romântico. Tanto em Berlim como em Atenas, é preciso ir além da moda situacionista para aceder à contribuição da IS para a revolução. Da mesma maneira, tem que se rasgar o véu "marxista" para entender o que Marx realmente disse -- e o que continua a significar para nós. A IS mostrou que não há revolução sem a comunização generalizada e imediata da vida em todos os seus aspectos, e que esta transformação é uma das condições para a destruição do poder do Estado. A revolução significa pôr um fim a todas as separações, e em primeiro lugar àquela separação que as reproduz a todas: o trabalho, como algo desligado do resto da vida. Livrarmo-nos do trabalho assalariado implica uma desmercantilização da forma como comemos, dormimos, aprendemos e esquecemos, nos movemos de um lugar para outro, iluminamos o nosso quarto ou como nos relacionamos com o carvalho ao fundo da rua, etc. São banalidades? Pois nem sempre o foram e continuam a não sê-lo para muita gente. Basta ler os "Princípios da Produção e Distribuição Comunistas", escrito em 1935 pela esquerda germano-holandesa, para perceber a dimensão da evolução. Quanto a Bordiga e seus sucessores, sempre entenderam o comunismo como um programa para ser posto em prática depois da tomada do poder. Lembremo-nos apenas o que se discutia em 1960, quando os radicais debatiam sobre o "poder dos trabalhadores" e definiam a mudança social essencialmente como um processo político. Revolução é comunização. Isto é tão importante como, por exemplo, foi a rejeição dos sindicatos após 1918. Não estamos dizendo que a teoria revolucionária deve mudar a cada trinta anos, mas que uma minoria apreciável de proletários rejeitou os sindicatos depois de 1914, e outra minoria ativa fez da vida quotidiana o alvo da sua crítica nas décadas de sessenta e setenta. A IS ultrapassou os limites da economia, produção, fábrica e obreirismo porque nessa época, de Watts a Turim, os proletas estavam realmente questionando o sistema de trabalho e as atividades exteriores ao trabalho. Mas os dois campos raramente foram alvo de ataque pelos mesmos grupos: os Negros faziam motins contra a mercantilização da vida no gueto, enquanto trabalhadores negros e brancos se rebelavam contra ser reduzidos a apêndices das máquinas, e no entanto os dois movimentos não conseguiram fundir-se. No local de trabalho, por um lado os trabalhadores rejeitavam o trabalho e por outro exigiam maiores salários : o trabalho assalariado em si nunca foi posto de lado. Contudo, houve tentativas para questionar o sistema como um todo, em Itália por exemplo, e a IS foi uma das formas pela qual esses empreendimentos encontraram expressão. É aqui que a IS continua a esclarecer-nos. E é também onde está aberta à crítica. O limite da IS reside no seu ponto forte: uma crítica da mercadoria que foi até ao básico sem realmente atingir a base. A IS recusou e aceitou simultaneamente a esquerda conselhista. Tal como Socialisme ou Barbarie, via o capital como gestão que retirava aos proletários qualquer controlo sobre as suas vidas, e concluía que era necessário encontrar um mecanismo social que permitisse a todos tomar parte na gestão da própria vida. A teoria de Socialisme ou Barbarie do "capitalismo burocrático" dava mais ênfase na burocracia do que no capital. Da mesma maneira, a teoria da IS da "sociedade espetacular" atribuía ao espetáculo no capitalismo mais importância do que ao próprio capital. Na verdade, os últimos escritos de Debord redefiniam o capitalismo como espetáculo plenamente integrado, mas o erro de apreciação já estava lá quando a Sociedade do Espetáculo tomou erroneamente a parte pelo todo em 1967. O espetáculo não é a sua própria causa. Está enraizado nas relações de produção, e pode apenas ser compreendido através dum entendimento do capital e não inversamente. É a divisão do trabalho que transforma o trabalhador num espectador do seu trabalho, do produto desse trabalho e finalmente num espectador da sua vida. O espetáculo é a nossa existência alienada em imagens que se alimentam dela, o resultado autonomizado dos nossos atos sociais. Começa em nós e separa-se de nós através da representação universal das mercadorias. Torna-se exterior às nossas vidas porque as nossas vidas constantemente reproduzem a sua exteriorização.

A ênfase no espetáculo conduz a uma luta por uma sociedade não espetacular: no pensamento situacionista, a democracia operária funciona como um antídoto contra a contemplação, como a melhor forma possível de criação de situações. A IS estava em busca de uma democracia autêntica, uma estrutura na qual os proletários deixariam de ser espectadores. Procurava o meio (a democracia), o lugar (o conselho) e o estilo de vida (autogestão generalizada) que permitiriam ao povo quebrar os grilhões da passividade. Não existe contradição entre as variantes Debord e Vaneigem da IS. Tanto o conselhismo como a subjetividade radical enfatizavam a auto-actividade, viesse ela do coletivo de trabalhadores ou do indivíduo. "Penso que todos os meus amigos e eu ficaríamos satisfeitos em trabalhar de maneira anônima no Ministério do Ócio, para um governo que se preocuparia por fim verdadeiramente por mudar a vida (...)" (Debord, Potlatch, n.29, 1957) No início, os situacionistas acreditavam ser possível experimentar novos estilos de vida imediatamente. Rapidamente compreenderam que tais experiências requeriam uma reapropriação coletiva completa das condições de existência. Começaram com um assalto ao espetáculo visto como passividade e foram levados à afirmação do comunismo como atividade. Este é um ponto fundamental em relação ao qual não podemos retroceder. Porém, através de todo o processo desta (re)descoberta, a falha foi terem assumido que tem que haver um modo de uso para a vida o que levou à busca de um modo de usar totalmente diferente. Esta procura por um modo de uso da vida de cada um, estimulou mas ao mesmo tempo deformou a crítica do militantismo desenvolvida pela IS. Foi necessário expor a atividade política como uma atividade separada onde o indivíduo milita por uma causa da qual foi abstraída a sua própria vida, onde reprime os seus desejos e se sacrifica a um objetivo estranho aos seus sentimentos e necessidades. Todos já vimos exemplos de dedicação a um grupo e /ou a uma visão do mundo que acabam numa situação em que a pessoa deixa de ser receptiva a eventos reais e se torna incapaz de desenvolver atos subversivos quando eles passam a ser possíveis. Contudo, só o concurso de relações reais pode evitar que se desenvolva a fraqueza pessoal e o auto-sacrifício alienado. Ao invés, a IS exigia radicalidade total e consistência 24 horas por dia, substituindo a moral militante por uma moral radical, o que também é ineficaz. O relato que a IS faz do seu fim, depois de Maio de 68 é deprimente: porque é que tão poucos membros estiveram à altura da situação? Guy Debord foi o único a consegui-lo? Talvez o principal problema de Debord tenha sido que agiu (e escreveu) como se nunca se tivesse enganado. Pode ter sido subversivo troçar da falsa modéstia militante chamando-se a si mesmos uma Internacional, e voltar o espetáculo contra si mesmo, como no escândalo de Estrasburgo (1967). Mas o tiro saiu-lhes pela culatra quando os situacionistas tentaram usar técnicas publicitárias contra o mundo da publicidade. O seu slogan "Que o espetáculo acabe!" deteriorou-se em eles fazerem um espetáculo deles próprios, que acabou mesmo por se transformar em exibicionismo. Não é por acaso que a IS tanto gostava de citar Maquiavel e Clausewitz. De facto, os situacionistas acreditavam que, desde que conduzida com estilo e intuição, uma certa estratégia permitiria a um grupo de jovens brilhantes ganhar aos media no seu próprio jogo e influenciar a opinião pública duma maneira revolucionária. Só isto já mostra uma incompreensão da sociedade espetacular. Antes e durante 68, a IS encontrava habitualmente a atitude certa face a realidades que precisavam ser ridicularizadas antes de poderem ser transformadas de maneira revolucionária: política, a ética do trabalho, o respeito pela cultura, a a boa vontade esquerdista, e por aí fora. Posteriormente, quando a atividade situacionista começa a desvanecer-se, pouco mais ficou do que uma atitude, e passado pouco tempo nem sequer a atitude correta, já que caíram na auto-valorização, no feiticismo dos conselhos, numa fascinação pelo lado oculto da política mundial, e ainda as suas análises erradas dos acontecimentos em Itália e Portugal. A IS foi o arauto da vinda da revolução. O que de facto ocorreu tinha muitas das características anunciadas pela IS. Os slogans de 68 em Paris ou de 77 em Bolonha ecoaram os artigos que tinham sido publicados previamente na revista de capa brilhante. No entanto, não foi propriamente uma revolução. A IS pretendia que tinha ocorrido uma. Democracia generalizada ( e sobretudo, a democracia operária) tinha sido o sonho subversivo do fim dos anos 60 e do início dos 70: em vez de perceberem isto como a limitação do período, os situacionistas interpretaram-na como a vindicação do apelo à formação de conselhos.

Não conseguiram entender que a autogestão autônoma das lutas de fábrica só podia ser um meio e nunca um fim em si mesmo ou um princípio. A Autonomia resumia o espírito do tempo: libertar-se do sistema -- em vez de desfazê-lo em bocados. Uma revolução futura será menos a agregação do proletariado como um bloco do que a desintegração do que dia após dia reproduz os proletários enquanto proletários. Este processo significa juntar e organizar no local de trabalho mas também transformar o local de trabalho e libertarmo-nos dele tanto como reunirmo-nos nele. A comunização não será uma repetição de 1966 em San Francisco nem reatará com os sit-downs de fábrica do passado em grande escala. A IS acabou adicionando conselhismo às ilusões sobre uma arte de viver revolucionária, i.e. um estilo de vida subversivo. Exigia um mundo onde a atividade humana fosse equivalente a um prazer continuo, e descrevia o fim do trabalho como o começo dum divertimento e dum gozo sem fim. Nunca se livrou duma visão tecnicista e crente no progresso duma abundância gerada pela automação. Dos escassos grupos que tiveram impacto social na vaga subversiva de meados de 60, a Internacional Situacionista deu a melhor aproximação de comunismo tal como ele era concebido na época. Existia uma incompatibilidade historicamente inultrapassável entre "Abaixo o Trabalho!" e "Poder aos Trabalhadores!" e a IS situava-se no nó dessa contradição.

Gilles Dauvé, Junho de 2000

Email:: comuneiro@gmail.com
URL:: http://www.geocities.com/lipstickinrage/

Tuesday, January 22, 2008

INTERNACIONAL SITUACIONISTA


História

O movimento surgiu na vila italiana de Cosio d'Arroscia, Liguria, em 28 de julho de 1957 com a fusão de várias tendências artísticas, que se auto definiam a vanguarda da época: Internationale lettriste, o International movement for an imaginist Bauhaus e a London Psychogeographical Association. Esta fusão incluiu influências adicionais do movimento COBRA, dadaísmo, surrealismo, e Fluxus, e foi inspirado pelo Conselho operário e pela Revolução Húngara de 1956.

Os mais famosos membros do grupo eram Raul Vaneigem e o francês Guy Debord, que tendiam a polarizar as opiniões. Apesar de Vaneigem ter saído da Internacional Situacionista, expulso por Debord, suas contribuições vão além das artes e do urbanismo. Em seu livro "A Arte de Viver para as Novas Gerações", publicado em 1967, todos os pilares desta sociedade são questionados. A inversão da perspectiva foi sistematicamente exposta como o momento em que a subversão constrói um novo mundo.

Quanto a Debord, alguns o descreviam como aquele que deu a clareza intelectual ao movimento; outros diziam que ele exercia controle ditatorial sobre a escolha dos membros e desenvolvimento do grupo, enquanto outros acreditavam que ele era um bom escritor, mas um pensador secundário. De todo modo, não há dúvida de que foi um grande ativista político. Tanto seus filmes quanto o seu livro "A Sociedade do Espetáculo" (1967) tiveram grande repercussão no cenário político francês e europeu.

Dentre os membros da IS destacam-se: o escritor ítalo-escocês Alexander Trocchi, o artista inglês Ralph Rumney (único membro da London Psychogeographical Association, expulso logo após a formação da IS), o artista escandinavo Asger Jorn, o veterano da revolução húngara Attila Kotanyi e a escritora francesa Michèle Bernstein.

De uma forma ou de outra, as correntes que precederam a IS viam no seu propósito a redefinição radical do papel da arte no século 20. Os próprios "situacionistas" tinham um ponto de vista dialético, assumindo a tarefa de "superar" a arte, abolindo a noção de arte como uma atividade especializada e separada e transformando-a naquilo que seria parte da construção da vida cotidiana.

Do ponto de vista situacionista, a arte ou é revolucionária ou não é nada. Desta forma, os situacionistas se viam como os responsáveis por completar o trabalho dos dadaístas e surrealistas, enquando aboliam os dois movimentos. A despeito disso, os situacionistas respondiam a pergunta "O que é revolucionário?" de maneiras diferentes em momentos diferentes.

Mas se no início a idéia era criticar a arte, já nos primeiro números da revista, a compreensão era de que a superação da arte só viria pela transformação ininterrupta do meio urbano. Não era construir cidades ideais, como Jorn pensou por muito tempo, mas fazer do urbanismo e da arquitetura ferramentas de uma revolução do cotidiano. Essas idéias surgiram quando do esgotamento das discussões da Internacional Letrista - grupo de que Debord participou antes da IS. Destas pesquisas sobre arte e urbanismo, resultaram a psicogeografia e seu procedimento de pesquisa - a deriva.

A IS sofreu divisões e muitos membros foram expulsos desde o seu início. Uma dessas divisões resultou na criação de dois grupos: a seção parisiense, que manteve o nome original, e a seção alemã conhecida como Segunda Internacional Situacionista que se organizou sob o nome de Gruppe SPUR. Enquanto a história da IS foi marcada por um ímpeto de revolucionar a vida, a separação entre franceses e alemães marcou a transição de uma visão artística da revolução para uma visão claramente política.

Aqueles ligados à visão artística viam na evolução da IS o surgimento de uma organização enfadonha e dogmática, enquanto aqueles que seguiram a visão política viram os acontecimentos de maio de 1968 como uma consequência lógica da abordagem dialética da IS: enquanto enfrentavam a sociedade atual, eles buscavam uma sociedade revolucionária que poderia incorporar as tendências positivas do desenvolvimento capitalista.

A "realização e supressão da arte" é simplesmente a mais desenvolvida das "superações" que a IS buscou por anos. Para a Internacional Situacionista de 1968, o triunfo mundial dos conselhos de trabalhadores levaria a todas as superações.


[editar] Maio de 1968
Ver artigo principal: Maio de 1968

Um importante evento que conduziu ao Maio de 1968 foi o chamado "Escândalo de Estrasburgo". Um grupo de estudantes utilizou fundos públicos para publicar um panfleto com um libelo da IS, "A miséria do meio estudantil". O panfleto circulou em milhares de cópias e fez os situacionistas conhecidos por toda esquerda não stalinista.

As ocupações de 1968 começam na Universidade de Paris em Nanterre e chegam até a Sorbonne. A polícia tentou desocupar a Sorbonne e acabou iniciando um distúrbio. Em seguida uma greve geral foi declarada com a participação de até 10 milhões de trabalhadores. A IS originalmente participou das ocupações da Sorbonne e defendeu as barricadas nos distúrbios. Também distribuiu chamados para ocupação de fábricas e para a formação de conselhos de trabalhadores mas, desapontada com os estudantes, deixou a universidade para criar o C.M.D.O., um "[[Conselho para Manutenção da Ocupação]]" que distribuiu as demandas da IS numa escala muito maior. O governo e as uniões sindicais chegaram a um acordo mas nenhum trabalhador voltava ao trabalho. A greve terminou somente quando o presidente Charles de Gaulle colocou as forças armadas nas ruas de Paris. Logo após, a polícia retomou a universidade Sorbonne e o C.M.D.O. foi dissolvido.


[editar] Idéias da Internacional Situacionista
A sociedade do espetáculo: "Nós vivemos em uma sociedade do espetáculo, isto é, toda a nossa vida é envolta por uma imensa acumulação de espetáculos. As coisas que eram vivenciadas diretamente agora são vivenciadas através de um intermediário. A partir do momento que uma experiência é tirada do mundo real ela se torna um produto comercial. Como um produto comercial o "espetacular" é desenvolvido em detrimento do real. Ele se torna um substituto da experiência." - Tradução de trecho do livro 'Spectacular Times' de Larry Law.
"O espetáculo não é uma coleção de imagens, mas uma relação social entre pessoas, intermediada por imagens... O espetáculo em geral, como uma concreta inversão da vida, é um movimento autônomo do não vivente... O mentiroso mentiu pra si mesmo" - Guy Debord
Os situacionistas argumentariam contra qualquer separação entre um espetáculo "falso" e a "verdadeira" vida cotidiana. Debord contrastando Hegel diz que dentro do espetáculo, "o verdadeiro é um momento do falso". O espetáculo não é uma conspiração. Os Situacionistas diriam que a sociedade chega ao nível do espetáculo quando praticamente todos os aspectos da cultura e experiência são intermediados por uma relação social capitalista.

SURREALISMO




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O Surrealismo é a última das Vanguardas Européias, que sucede ao Dada radicalizando suas propostas de liberdade, anti-convencionalismo e anti-tradição dos valores da cultura ocidental. Traz à tona os impulsos das regiões ainda inexploradas da mente. Recorre aos temas fornecidos pelo inconsciente e subconsciente : o acaso, a loucura, os sonhos, as alucinações, o delírio ou o humor. Revolucionário trouxe grandes contribuições com novos meios e fontes de inspiração artistica e fazer artístico - Frottage, Colagem Surrealista, Assemblage, Foto-montagem, Pintura Automática, entre outros.
Tem origem com a publicação do "Manifesto do Surrealismo", de André Breton, em 1924. Giorgio De Chirico, com sua Pintura Metafísica, antecipou o movimento ao descobrir as matrizes da angústia existencial e ao representá-las em atmosfera surreal. Dele participaram Max Ernst, Paul Klee, André Masson, Joan Miró, Jean Arp, Francis Picabia, Pablo Picasso, Yves Tanguy, René Magritte, Salvador Dali, Marc Chagall, Marcel Duchamp, Alexander Calder, o fotógrafo Man Ray, os poetas Tristan Tzara, Paul Eluard, Louis Aragon, Guillaume Apollinaire e o cineasta Luis Buñuel, entre outros.
Em 1929, Breton publica o "Segundo Manifesto do Surrealismo", onde revelao surgimento de dissidências no grupo. Entre 1935 e 1938, o movimento alcança fama internacional e organiza várias manifestações pela Europa. Com a II Guerra, o grupo se dispersa, chegando ao fim. Mesmo assim, após a guerra, organizam-se duas grandes exposições surrealistas em Paris: na galeria Maeght, em 1947, e na galeria Daniel Cordier, em 1959/60. Neste período houve uma grande revitalização do Surrealismo, com o movimento PHASES, emergente em 1954, herdeiro do Grupo CoBrA. De início dissidente do Surrealismo histórico , para depois em 1956 entrar em convergência com este.

DEUS

Deus
agora sou Deus
Deus
agora é tudo meu
Deus
desafio-te
a acabares comigo
se ainda és Deus.

Sunday, January 20, 2008

VINDE BEBER COMIGO


Vinde beber comigo poetas ébrios
juntai-vos a mim neste café
cheio de gente
onde venho exibir
a literatura e a solidão

Vinde beber comigo poetas de génio
dai-me o talento e a loucura
enquanto o meu amigo dança
em redor das mesas e canta

Vinde beber comigo Nietzsche, Blake, Rimbaud
que a minha canção chegue até vós
há tanto tempo que não faço asneiras
há tanto tempo que me sinto tão só

Vinde beber comigo poetas malditos
façamos um festim em honra de vós
abramos garrafas de champanhe
que a voz dos deuses ilumine a minha voz

Wednesday, January 16, 2008


Esquizofrenia Erisiana (por Maria Gabriela Llansol)
-A vida é uma cadeia sem datas. Só lhe interessa a energia que lhe dá.
-E quando os datas?
-É a significação que lhes retiro. Deixo-a fluir, e retiro-lhe a significação.
-Mas, em vez de datas, prefiro o traço.-Ou seja, se pudesses só fazias traços?
-E então nada dizia? Não. Há um momento em que a significação dispara
– A vida não vaipara lado nenhum, mas eu quero ir.
-Então fazes um traço.

Oração para o Real:

bem-aventurados os alucinados, porque deles será o real
bem-aventurados os desiludidos, porque neles o pensamento se fará humano
bem-aventurados os corpos que morrem, porque deles será a sensualidade do invisível
bem-aventurados os desesperados, porque deles será a restante esperança
bem-aventurado sejas tu, ó texto, porque nos abres a geografia dos mundos
bem-aventurada sejas tu, ó Terra, porque tua será a explosão que levará o vivo a todo o Universo (ATJ, 146-7).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_gabriela_llansol

DADAÍSMO E SURREALISMO



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As Vanguardas Artísticas: Dadaísmo e Surrealismo

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O dadaísmo floresceu em Zurique em 1915, após o início da I Guerra Mundial, por um grupo de jovens intelectuais contrários à guerra que se encontravam no Cabaré Voltaire, entre eles Hugo Ball, Emmy Hennings, Janco, Tristan Tzara, sendo este responsável pelos manifestos fundamentais sobre o dadaísmo. Já em Berlim iniciou em 1918, tendo uma característica diferente de Zurique, isto porque os dadaístas de Berlim provocaram uma genuína revolução, confrontando a arte, o pensamento, os sentimentos, a política e a sociedade nesta empreitada pela transformação.
Nesta época de turbulência, o dadaísmo procurava estabelecer uma ordem e por outro lado quebrar a ordem. Foi assim, que apareceu uma série de revistas com as opiniões dos integrantes deste segmento artístico.
Em 1918, o dadaísmo está no seu ápice em Berlim, ocorrendo o "Primeiro discurso dadá na Alemanha", o qual manifestam a sua simpatia pelo dadaísmo internacional, nascido dois anos antes em Zurique. A idéia deste discurso estava em contradizer ao expressionismo, futurismo, cubismo, arte abstrata, chegando à superioridade do dadaísmo, Huelsenbeck disse como "o manifesto é uma fonte literária na qual se podem injetar muitas das nossas sensações e diversos dos nossos pensamentos".
O dadaísmo buscava corrigir a arte que havia se destruído pelas várias tendências artísticas erradas, sendo que assim fundou-se o Clube Dadá. Era à busca de uma total participação e contestação de todos os valores, a começar pela arte. Inclusive, o nome Dadá é casual, escolhido abrindo-se um dicionário por acaso.


Salvador Dalí - "Natureza Morta", 1956

Até pouco tempo, contestava-se a quem atribuir as honras do legítimo nascimento do dadaísmo, a Richard Huelsenbeck ou Raoul Haussmann, utilizando-se sempre as siglas "R.H." para não acarretar um erro.
Richter afirma "é que os dois R.H., juntamente com Baader - a antiinibição personificada - unha e carne com Grosz e os irmãos Herzfelde, formavam a tropa de choque propriamente dita do movimento Dada berlinense: Huelsenbeck como emissário do Dada original de Zurique, e portanto representante da religião dadá; Haussmann como personalidade ilustre do Dadá artístico, dotado de um egocentrismo sombrio, documentado em inúmeras oportunidades; Baader como um saco cheio de dinamite, e os três outros na qualidade da ala esquerda. Em uma questão específica os Dióscuros R.H. e R.H. estavam de acordo: Dadá era a antiarte".
Apesar da proclamação da antiarte, muito do que Haussmann fazia ainda lembrava em muito a arte abstrata tão desprezada e, somente depois que começa a utilizar-se de colagens e fotomontagens, que tem o surgimento de uma nova arte, levando a uma nova imagem do mundo.
Era um momento de transformação e agitação, tendo uma função social que fez com o público despertar, mas em relação ao cultural, significava uma rebelião, o "Antitudo, o entusiasmo que dominava a maioria dizia respeito ao próprio EU, que, livre de culpa e penitência, encontrava a partir de si próprio as suas leis, sua forma e sua confirmação...porque as circunstâncias favoreciam e até mesmo provocavam a mais livre das rebeliões", afirma Richter.
O Dadá possuía um caráter totalmente anárquico, o qual refletia na vida real, mas com esta expulsão da arte para o lixo, acabou-se atenuando a luta contra as condições sociais alemãs, pronunciando o nazismo, e contestando a economia e a industrialização. Mesmo assim, o pano de fundo sempre foi a arte.
As manifestações deste grupo são sempre desconcertantes, desordenadas e escandalosas, o Dadaísmo é um contra-senso, isto porque nega a arte, sendo um movimento artístico, é a pura ação, onde não se valoriza a obra, mas sim a si próprio. Isto tudo teve como o estopim a guerra, que acarretou uma série de problemas psicológicos e sociais há sociedade daquela época.
Para Argan, o dadaísmo "propõe uma ação perturbadora, com o fito de colocar o sistema em crise, voltando contra a sociedade seus próprios procedimentos ou utilizando de maneira absurda as coisas a que ela atribuía valor. Renunciando às técnicas especificamente artísticas, os dadaístas não hesitam em utilizar materiais e técnicas da produção industrial".
Os pontos que mais fortaleciam os dadaístas em Berlim eram: o elevado número de mortes durante a guerra, o insucesso de uma revolução, a oposição reprimida, a pressão pelos comunistas, o sucesso do Dadá em Zurique e, por fim a falta de liberdade que tanto aguçava os ânimos para as oportunidades.
Os dadaístas berlinenses tinham tudo para continuar a sua luta, principalmente por terem Haussmann e Baader, como amigos e aliados frente aos entusiasmos para um levante ou o desencadeamento de uma situação revolucionária. Contrariando a todos aqueles que se opunham, continuando um caminho ativo do grupo Dadá e, muitas vezes com apresentações agressivas.
Mas, por volta de 1922, o Dadá começa a ter as suas primeiras perdas, e assim a esmorecer, onde alguns de seus personagens perdem a sua consciência com a comunidade, outros abandonam, até a volta de todos aos seus antigos afazeres.
Logo, em seguida aparece o Surrealismo que teve como ponto de partida o ano de 1924, com a reunião de um grupo em torno de André Breton que tinha como preceitos, os conceitos ligados ao inconsciente, aos sonhos e a fantasia. Não havia regras ou formas estéticas, os surrealistas buscavam o sentido mais puro do espírito e o que este proporcionaria ao poeta ou ao artista.
Contudo, os surrealistas buscaram parte de seus valores éticos e morais, no Marquês de Sade, escritor do século XVIII que serviu de inspiração para o teatro, o cinema, a literatura e as artes plásticas. Segundo Fernando Peixoto "seu pensamento, embora com certo nível extremista, é igualmente um grito de revolta eloqüente. Um grito desesperado e angustiado, o incontrolável extremo de um individualismo absoluto que limita bastante o alcance ou o significado de suas idéias, a ânsia de libertação, gigantesco protesto em favor do homem livre, a denúncia de uma civilização fundamentada nos instintos planejadamente reprimidos, baseada na hipocrisia, no preconceito, na corrupção, na injustiça, na divisão social e na feroz crueldade".
Para os surrealistas a influência do Marquês de Sade antecipou a Psicologia moderna com Freud, por meio dos estudos sobre o sonho e os caminhos explorados no inconsciente.
De acordo com as informações proporcionadas por Sade e Freud, André Breton definiu: "Surrealismo é automatismo psíquico puro por meio do qual nos propomos exprimir tanto verbalmente quanto por escrito ou de outras formas o funcionamento real do pensamento, é o ditado do pensamento com a ausência de todo controle exercido pela razão, além de toda e qualquer preocupação estética e moral".
Desta forma, o Surrealismo passa a ser visto como uma arte do inconsciente, projetando muitas vezes uma ideologia subversiva, reprimida nos seus mais profundos anseios, assim ao chegar a sua produção permite ao criador demonstrar desde seus instintos animais, aos sexuais, aos sociais, expondo os desejos do indivíduo como os da sociedade.
O surrealismo como as demais vanguardas artísticas tinham como ambição mudar a História, especialmente no campo político, apesar de ter como meta à mudança na vida, partindo da vida muda-se o mundo, desígnios presentes nas palavras de Marx,Goethe, Rimbaud e muitos outros.
Breton e os surrealistas participaram do Partido Comunista buscando concretizar parte de suas aspirações, mas acabam por deixar o partido por não ser bem este o caminho a se tomar e, desta maneira continuam no que é essencial para a existência humana, que é o sonho.
O Surrealismo foi um movimento bastante amplo, no campo da literatura, tendo como antecedentes Baudelaire, Rimbaud, Allan Poe, Apollinaire que influenciaram diretamente nas teorias de André Breton presentes no Manifesto do Surrealismo, Segundo Manifesto do Surrealismo, Posição Política do Surrealismo, Prolegômenos a um Terceiro Manifesto do Surrealismo ou não, Do Surrealismo em suas Obras Vivas e outros textos. Em todos Breton difundia com destreza a posição do homem na vida, sobre a liberdade, a loucura, a lógica, enfim os sentidos da vida humana.
Nas artes plásticas notamos importantes representantes, entre eles podemos citar Max Ernst com experiências automatistas que elucidavam em alucinações nascidas dos sonhos, o inconsciente passa a ser um dos alicerces para a produção de seu trabalho. Nas reuniões com o grupo de surrealistas permitiam a libertação do subconsciente e, assim a evasão dos medos e rejeições ao contarem os seus sonhos.
Max Ernst cria a frottage, que era uma técnica "para além da pintura", a liberação de todos os sentidos e a descoberta daqueles que ainda permaneciam escondidos ao se defrontarem com a realidade. Para Ulrich Bischoff "a frottage é mais que uma técnica é um processo artístico em que tanto o conteúdo como o conceito criam um mundo novo".
Marc Chagall apresentou um mundo imaginário e sobrenatural, onde o espírito e o corpo estavam separados, criando assim um mundo figurativo, constituindo uma série de metáforas, início do seu surrealismo que por meio de ciências ocultas buscou a intelectualidade. O mundo de Chagall era rodeado de idéias místicas que transformavam os motivos em símbolos representativos de uma realidade invisível, isto porque os acontecimentos da sua infância e a rigorosa ausência da arte figurativa no judaísmo perseguiram sua mente, alternando as suas fases analíticas e sintéticas.
Como afirma Argan, "a pintura de Chagall é fábula, mas a fábula é problemática...a fábula não é uma tradição que se transmite por inércia, mas é a expressão viva da criatividade do povo. Sendo uma força popular, pode ser uma força revolucionária".
Salvador Dali é outro artista que teve em seu trabalho a presença provinda dos sonhos e do sexualismo. Gala, a sua mulher foi a grande responsável por parte de sua produção, pois como Dali mesmo afirma só conheceu os prazeres do amor com Gala, desta forma acabará de entrar por um mundo freudiano que o levou ao obscuro caminho dos sonhos.
Os trabalhos de Dali envolviam os acontecimentos da Guerra Civil Espanhola, as torturas, a degradação, o sofrimento e a morte, sentimentos que transbordavam em suas telas. Com Luis Buñuel formata a idéia do O Cão Andaluz.
E assim, no cinema Luis Buñuel produz o primeiro filme surrealista em 1929, O Cão Andaluz, sendo este um grito sobre a tragédia humana com seqüências enlouquecidas e enlouquecedoras para o observador. No seu L'âge d'or, Buñuel se aprofunda na temática surrealista da psicanálise com discussões sobre o homem e a mulher e as alegorias do inconsciente.
A década de 30 na Europa foi marcada pelo surrealismo, influenciando todos os grupos de artistas. Com a II Guerra Mundial, grande parte do grupo surrealista parte para os EUA e, em 1940 chega ao fim um dos movimentos artísticos mais importantes da História.



Paula Regina Buonaducci Molina
Mestre em História da Arte - ECA/USP

Tuesday, January 15, 2008

MANIFESTO SURREALISTA


Manifesto Surrealista


Escrito em 1924 por André Breton, escritor francês, e um "maluco", que entre outras coisas queria desconstruir suas palavras...
Dividido em duas partes, a segunda escrita em 1930, essa "sangria" maravilhosa propunha:

“A atitude realista é fruto da mediocridade, do ódio, e da presunção rasteira. É dela que nascem os livros que insultam a inteligência.”

“A mania incurável de reduzir o desconhecido ao conhecido, ao classificável, só serve para entorpecer cérebros.”

“Hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para resolver problemas secundários”.

“A extrema diferença de importância que, aos olhos do observador ordinário, tem os acontecimentos de vigília e os do sono sempre me encheu de espanto. (...) Talvez o meu sonho da noite passada tenha dado prosseguimento ao da noite anterior e continue na próxima noite com rigor meritório.”

“Digamo-lo claramente de uma vez por todas: o maravilhoso é sempre belo; qualquer tipo de maravilhoso é belo, só o maravilhoso é belo. (...) Desde cedo as crianças são apartadas do maravilhoso, de modo que, quando crescem, já não possuem uma virgindade de espírito que lhes permita sentir extremo prazer na leitura de um conto infantil.”

“Oxalá chegue o dia em que a poesia decrete o fim do dinheiro e rompa sozinha o pão do céu da terra.”

“Em homenagem a Gullaume Apollinaire, Soulpault e eu demos o nome de SURREALISMO ao novo modo de expressão que tínhamos à nossa disposição e que estávamos ansiosos por pôr ao alcance de nossos amigos.”

“O surrealismo não permite aos que a ele se consagram, abandoná-lo quando lhes apetece fazê-lo. Ele atua sobre a mente como os entorpecentes.”

“A mente que mergulha no surrealismo revive, com exaltação, a melhor parte de sua infância.”

"Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoares."

"Só o que me exalta ainda é a única palavra: liberdade. Eu a considero apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano."


_primeira parte.


Postado por ||marie entre as facas|| às 22:32

in http://psicodeliciando.blogspot.com

MANIFESTO CONTRA O TRABALHO


Manifesto contra o Trabalho*



1. O domínio do trabalho morto

Um cadáver domina a sociedade – o cadáver do trabalho. Todos os poderes ao redor do globo uniram-se para a defesa deste domínio: o Papa e o Banco Mundial, Tony Blair e Jörg Haider, sindicatos e empresários, ecologistas alemães e socialistas franceses. Todos eles só conhecem um lema: trabalho, trabalho, trabalho !

Os que ainda não desaprenderam a pensar reconhecem facilmente que esta postura é infundada. Pois a sociedade dominada pelo trabalho não passa por uma simples crise passageira, mas alcançou seu limite absoluto. A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na seqüência da revolução microeletrônica, do uso de força de trabalho humano – numa escala que há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Ninguém poderá afirmar seriamente que este processo pode ser freado ou, até mesmo, invertido. A venda da mercadoria força de trabalho será no século XXI tão promissora quanto a venda de carruagens de correio no século XX. Quem, nesta sociedade, não consegue vender sua força de trabalho é considerado "supérfluo" e é jogado no aterro sanitário social.

Quem não trabalha, não deve comer ! Este fundamento cínico vale ainda hoje – e agora mais do que nunca, exatamente porque tornou-se desesperançosamente obsoleto. É um absurdo: a sociedade nunca foi tanto sociedade do trabalho como nesta época em que o trabalho se faz supérfluo. Exatamente na sua fase terminal, o trabalho revela, claramente, seu poder totalitário, que não tolera outro deus ao seu lado. Até nos poros do cotidiano e nos íntimos da psique, o trabalho determina o pensar e o agir. Não se poupa nenhum esforço para prorrogar artificialmente a vida do deus-trabalho. O grito paranóico por "emprego" justifica até mesmo acelerar a destruição dos fundamentos naturais, já há muito tempo reconhecida. Os últimos impedimentos para a comercialização generalizada de todas as relações sociais podem ser eliminados sem crítica, quando é colocada em perspectiva a criação de alguns poucos e miseráveis "postos de trabalho". E a frase, seria melhor ter "qualquer" trabalho do que nenhum, tornou-se a profissão de fé exigida de modo geral.

Quanto mais fica claro que a sociedade do trabalho chegou a seu fim definitivo, tanto mais violentamente este fim é reprimido na consciência da opinião pública. Os métodos desta repressão psicológica, mesmo sendo muito diferentes, têm um denominador comum: o fato mundial de o trabalho ter demonstrado seu fim em si mesmo irracional, que se tornou obsoleto. Este fato vem redefinindo-se com obstinação em um sistema maníaco de fracasso pessoal ou coletivo, tanto de indivíduos quanto de empresas ou "localizações". A barreira objetiva ao trabalho deve aparecer como um problema subjetivo daqueles que caíram fora do sistema.

Para uns, o desemprego é produto de exigências exageradas, falta de disponibilidade, aplicação e flexibilidade dos desempregados, enquanto outros acusam os "seus" executivos e políticos de incapacidade, corrupção, ganância ou traição do interesse local. Mas enfim, todos concordam com o ex-presidente alemão Roman Herzog: precisa-se de uma "sacudidela", como se o problema fosse semelhante ao de motivação de um time de futebol ou de uma seita política. Todos têm, "de alguma maneira", que mandar brasa, mesmo que brasa não haja mais, e todos têm, "de alguma maneira", que pôr mãos à obra com toda vigor, mesmo que não haja nenhuma obra a ser feita, ou somente obras sem sentido. As entrelinhas dessa mensagem infeliz deixam muito claro: quem, apesar disso, não desfruta da misericórdia do deus-trabalho, é por si mesmo culpado e pode ser excluído, ou até mesmo descartado, com boa consciência.

A mesma lei do sacrifício humano vale em escala mundial. Um país após o outro é triturado sob as rodas do totalitarismo econômico, o que comprova sempre a mesma coisa: não atendeu às assim chamadas leis do mercado. Quem não se "adapta" incondicionalmente ao percurso cego da concorrência total, não levando em consideração qualquer perda, é penalizado pela lógica da rentabilidade. Os portadores de esperança de hoje são o ferro-velho econômico de amanhã. Os psicóticos econômicos dominantes não se deixam perturbar em suas explicações bizarras do mundo. Aproximadamente três quartos da população mundial já foram declarados como lixo social. Uma "localização" após a outra cai no abismo. Depois dos desastrosos países "em desenvolvimento" do Hemisfério Sul e após o departamento do capitalismo de Estado da sociedade mundial de trabalho no Leste, também os discípulos exemplares da economia de mercado no Sudeste Asiático desapareceram no orco do colapso. Também na Europa se espalha há muito tempo o pânico social. Os cavaleiros da triste figura da política e do gerenciamento continuam em sua cruzada ainda mais ferrenha em nome do deus-trabalho.

"Cada um deve poder viver de seu trabalho: é o principio posto. Assim, o poder-viver é determinado pelo trabalho e não há nenhuma lei onde esta condição não foi realizada. " Johann Gottlieb Fichte, Fundamentos do Direito Natural segundo os Princípios da Doutrina-da-Ciência 1797.

2. A Sociedade Neoliberal de Apartheid

Uma sociedade centralizada na abstrata irracionalidade do trabalho desenvolve, obrigatoriamente, a tendência ao apartheid social quando o êxito da venda da mercadoria "força de trabalho" deixa de ser a regra e passa a exceção. Todas as facções do campo de trabalho, trespassando todos os partidos, já aceitaram dissimuladamente essa lógica e ainda a reforçam. Eles não brigam mais sobre se cada vez mais pessoas são empurradas para o abismo e excluídas da participação social, mas apenas sobre como impor a seleção.

A facção neoliberal deixa, confiantemente, o negócio sujo e social-darwinista na "mão invisível" do mercado. Neste sentido, estão sendo desmontadas as redes sócio-estatais para marginalizar, de preferência sem ruído, todos aqueles que não conseguem se manter na concorrência. Só são reconhecidos como seres humanos os que pertencem à irmandade dos ganhadores globais com seus sorrisos cínicos. Todos os recursos do planeta são usurpados sem hesitação para a máquina capitalista do fim em si mesmo. Se esses recursos não são mobilizados de uma maneira rentável eles ficam em "pousio", mesmo quando, ao lado, grandes populações morrem de fome.

O incômodo do "lixo humano" fica sob a competência da polícia, das seitas religiosas de salvação, da máfia e dos sopões para pobres. Nos Estados Unidos e na maioria dos países da Europa Central, já existem mais pessoas na prisão do que na média das ditaduras militares. Na América Latina, são assassinadas diariamente mais crianças de rua e outros pobres pelo esquadrão da morte da economia de mercado do que oposicionistas nos tempos da pior repressão política. Aos excluídos só resta uma função social: a de ser um exemplo aterrorizante. O destino deles deve incentivar a todos os que ainda fazem parte da corrida de "peregrinação a Jerusalém" da sociedade do trabalho na luta pelos últimos lugares. Este exemplo deve ainda incitar às massas de perdedores a manterem-se em movimento apressado, para que não tenham a idéia de se revoltarem contra as vergonhosas imposições.

Mas, mesmo pagando o preço da auto-resignação, o admirável mundo novo da economia de mercado totalitária deixou para a maioria das pessoas apenas um lugar, como homens submersos numa economia submersa. Submissos aos ganhadores bem remunerados da globalização, eles têm de ganhar sua vida como trabalhadores ultra baratos e escravos democratas na "sociedade de prestação de serviços". Os novos "pobres que trabalham" têm o direito de engraxar o sapato dos businessmen da sociedade do trabalho ou de vender-lhes hambúrguer contaminado, ou então, de vigiar o seu shopping center. Quem deixou seu cérebro na chapeleira da entrada até pode sonhar com uma ascensão ao posto de milionário prestador de serviços.

Nos países anglo-saxônicos, este mundo de horror já é realidade para milhões, no Terceiro Mundo e na Europa do Leste, nem se fala; e o continente do euro mostra-se decidido a superar, rapidamente, esse atraso. As gazetas econômicas não fazem mais nenhum segredo sobre como imaginam o futuro ideal do trabalho: as crianças do Terceiro Mundo, que limpam os pára-brisas dos automóveis nos cruzamentos poluídos, são o modelo brilhante da "iniciativa privada", que deveria servir de exemplo para os desempregados do deserto europeu da prestação de serviço. "O modelo para o futuro é o indivíduo como empresário de sua força de trabalho e de sua própria previdência social", escreve a "Comissão para o Futuro dos Estados Livres da Baviera e da Saxônia". E ainda: "a demanda por serviços pessoais simples é tanto maior quanto menos custam, isto é, quanto menos ganham os prestadores de serviço". Num mundo em que ainda existisse auto-estima humana, uma frase deste tipo deveria provocar uma revolta social. Porém, num mundo de animais de trabalho domesticados, ela apenas provoca um resignado balançar de cabeça.

"O gatuno destruiu o trabalho e, apesar disso, tirou o salário de um trabalhador: agora, deve trabalhar sem salário, mas, mesmo no cárcere, deve pressentir a benção do êxito e do ganho(..) Ele deve ser educado para o trabalho moral enquanto um acto pessoal livre através do trabalho forçado." Wilhelm Heinrich Riehl, O trabalho alemão, 1861

3. O Apartheid do Neo-Estado Social

As facções antineoliberais do campo de trabalho social podem não gostar muito desta perspectiva, mas exatamente para elas está definitivamente confirmado que um ser humano sem trabalho não é um ser humano. Fixados nostalgicamente no período pós-guerra fordista de trabalho em massa, eles não pensam em outra coisa a não ser em revitalizar os tempos passados da sociedade do trabalho. O Estado deveria endireitar o que o mercado não consegue mais. A aparente normalidade da sociedade do trabalho deve ser simulada através de "programas de ocupação", trabalhos comunitários obrigatórios para pessoas que recebem auxílio social, subvenções de localizações, endividamento estatal e outras medidas públicas. Este estatismo de trabalho, agora requentado e hesitante, não tem a menor chance, mas continua como o ponto de referência ideológico para amplas camadas populacionais ameaçadas pela queda. Exatamente nesta total ausência de esperança, a práxis que resulta disso é tudo menos emancipatória.

A metamorfose ideológica do "trabalho escasso" em primeiro direito da cidadania exclui necessariamente todos os não-cidadãos. A lógica de seleção social não está sendo posta em questão, mas só redefinida de uma outra maneira: a luta pela sobrevivência individual deve ser amenizada por critérios étnico-nacionalistas. "Roda-Viva do trabalho nacional só para nativos" clama a alma popular que, no seu amor perverso pelo trabalho, encontra mais uma vez a comunidade nacional. O populismo de direita não esconde essa conclusão necessária. Na sociedade de concorrência, sua crítica leva apenas à limpeza étnica das áreas que encolhem em termos de riqueza capitalista.

Em oposição a isso, o nacionalismo moderado de cunho social-democrata ou verde quer aceitar os antigos trabalhadores imigrantes como se fossem do país, e, quando estes se comportam bem, de maneira reverente e inofensiva, fazê-los cidadãos. Mas a acentuada e reforçada rejeição de refugiados do Leste e do Sul pode, assim, ser legitimada de uma forma mais populista e silenciosa – o que fica, obviamente, sempre escondido por trás de um palavrório de humanidade e civilidade. A caça aos "ilegais", que pleiteiam postos de trabalho nacionais, não deve deixar, se possível, nenhuma mancha indigna de sangue e fogo em solo europeu. Para isso existe a polícia, a fiscalização militar de fronteira e os países tampões da "Schengenlândia", que resolvem tudo conforme o direito e a lei e, de preferência, longe das câmeras de televisão.

A simulação estatal de trabalho é, por princípio, violenta e repressiva. Ela significa a manutenção da vontade de domínio incondicional do deus-trabalho, com todos os meios disponíveis, mesmo após sua morte. Este fanatismo burocrático de trabalho não deixa em paz nem os que caíram fora – os sem-trabalho e sem-chances – nem todos aqueles que com boas razões rejeitam o trabalho, nos seus já horrivelmente apertados nichos do demolido Estado Social. Eles são arrastados para os holofotes do interrogatório estatal por assistentes sociais e agenciadoras do trabalho e são obrigados a prestar uma reverência pública perante o trono do cadáver-rei.

Se na justiça normalmente vigora o princípio "em dúvida, a favor do réu", agora isso se inverteu. Se os que caíram fora futuramente não quiserem viver de ar ou de caridade cristã, precisam aceitar qualquer trabalho sujo ou de escravo e qualquer programa de "ocupação", mesmo o mais absurdo, para demonstrar a sua disposição incondicional para com o trabalho. Se aquilo que eles devem fazer tem ou não algum sentido, ou é o maior absurdo, de modo algum interessa. O que importa é que eles fiquem em movimento permanente para que nunca esqueçam a que lei obedece sua existência.

Outrora, os homens trabalhavam para ganhar dinheiro. Hoje, o Estado não poupa gastos e custos para que centenas de milhares de pessoas simulem trabalhos em estranhas "oficinas de treinamento" ou "empresas de ocupação", para que fiquem em forma para "postos de trabalho regulares" que nunca ocuparão. Inventam-se cada vez mais novas e mais estúpidas "medidas" só para manter a aparência da roda-viva do trabalho social que gira em falso funcionando ad infinitum. Quanto menos sentido tem a coerção do trabalho, mais brutalmente inculca-se nos cérebros humanos que não haverá mais nenhum pãozinho de graça.

Neste sentido, o "New Labour" e todos os seus imitadores demonstram-se, em todo o mundo, inteiramente compatíveis com o modelo neoliberal de seleção social. Pela simulação de "ocupação" e pelo fingimento de um futuro positivo da sociedade do trabalho, cria-se a legitimação moral para tratar de uma maneira mais dura os desempregados e os que recusam trabalho. Ao mesmo tempo, a coerção estatal de trabalho, as subvenções salariais e os trabalhos assim chamados "cívicos e honoríficos" reduzem cada vez mais os custos de trabalho. Desta maneira, incentiva-se maciçamente o setor canceroso de salários baixos e trabalhos miseráveis.

A assim chamada política ativa do trabalho, segundo o modelo do "New Labour", não poupa nem mesmo doentes crônicos e mães solteiras com crianças pequenas. Quem recebe auxílio estatal só se livra do estrangulamento institucional quando pendura a plaquinha prateada no dedão do pé. O único sentido desta impertinência está em evitar-se o máximo possível que pessoas façam qualquer solicitação ao Estado e, ao mesmo tempo, demonstrar aos que caíram fora que, diante de tais instrumentos terríveis de tortura, qualquer trabalho miserável parece agradável.

Oficialmente, o Estado paternalista só chicoteia por amor, com intenção de educar severamente os seus filhos que foram denunciados como "preguiçosos", em nome de seu próprio progresso. Na realidade, essas medidas "pedagógicas" só têm como objetivo afastar os fregueses de sua porta. Qual seria o sentido de obrigar os desempregados a trabalharem na colheita de aspargos? O sentido é afastar os trabalhadores sazonais poloneses, que só aceitam os salários de fome dadas as relações cambiais, que os transformam em um pagamento aceitável. Mas, aos trabalhadores forçados essa medida é inútil e tampouco abre qualquer "perspectiva" profissional. E mesmo para os produtores de aspargos, os acadêmicos mal-humorados e os trabalhadores qualificados que lhes são enviados só significam um estorvo. Mas, se após a jornada de doze horas nos campos alemães, de repente aparecer sob uma luz mais agradável a idéia maluca de ter, por desespero, um carrinho de cachorro-quente, então a "ajuda para a flexibilização" demonstrou seu efeito neobritânico desejável.

"Qualquer emprego é melhor do que nenhum." (Bill Clinton. 1998)

"Nenhum emprego é tão duro como nenhum." (Lema de uma exposição de cartazes da Divisão de Coordenação Federal da iniciativa dos Desempregados da Alemanha. 1998)

"Trabalho civil deve ser gratificado e não remunerado... mas quem atua no trabalho civil também perde a mácula do desemprego da recepção de auxilio social." (Ulrich Beck - A alma da democracia. 1997)

4. O agravamento e o desmentido da religião do trabalho

O novo fanatismo do trabalho, com o qual esta sociedade reage à morte de seu deus, é a continuação lógica e a etapa final de uma longa história. Desde os dias da Reforma, todas as forças basilares da modernização ocidental pregaram a santidade do trabalho. Principalmente durante os últimos 150 anos, todas as teorias sociais e correntes políticas estavam possuídas, por assim dizer, pela idéia do trabalho. Socialistas e conservadores, democratas e fascistas combateram até a última gota de sangue, mas, apesar de toda a animosidade, sempre levaram, em conjunto, sacrifícios ao altar do deus-trabalho. "Afastai os ociosos", dizia o Hino Internacional do Trabalho – e "o trabalho liberta" ecoava aterrorizantemente sobre os portões de Auschwitz. As democracias pluralistas do pós-guerra se professaram ainda mais a favor da ditadura eterna do trabalho. Mesmo a Constituição do Estado da Baviera, arquicatólico, ensina aos seus cidadãos partindo do sentido da tradição luterana: "o trabalho é a fonte do bem-estar do povo e está sob proteção especial do Estado". No final do século XX, quase todas as diferenças ideológicas desapareceram. Sobrou o dogma impiedoso segundo o qual o trabalho é a determinação natural do homem.

Hoje, a própria realidade da sociedade do trabalho desmente este dogma. Os sacerdotes da religião do trabalho sempre pregaram que o homem, por sua suposta natureza, seria um "animal laborans". Somente se tornaria ser humano na medida em que submetesse, como Prometeu, a matéria natural à sua vontade, realizando-se através de seus produtos. Este mito de explorador do mundo e demiurgo que tem sua vocação foi desde sempre um escárnio em relação ao caráter do processo moderno de trabalho, embora na época dos capitalistas-inventores, do tipo Siemens ou Edison e seus empregados qualificados, tivesse ainda um substrato real. Hoje, este gesto é totalmente absurdo.

Quem hoje ainda se pergunta pelo conteúdo, sentido ou fim de seu trabalho torna-se louco – ou um fator de perturbação do funcionamento do fim em si da máquina social. O "homo faber", antigamente orgulhoso de seu trabalho e com seu jeito limitado levando a sério o que fazia, hoje é tão fora de moda quanto a máquina de escrever mecânica. A Roda tem que girar de qualquer jeito, e ponto final. Para a invenção de sentido são responsáveis os departamentos de publicidade e exércitos inteiros de animadores e psicólogas de empresa, consultores de imagem e traficantes de drogas. Onde se balbucia continuamente um blablablá sobre motivação e criatividade, disso nada sobrou, a não ser auto-engano. Por isso, contam hoje as habilidades de auto-sugestão, auto-representação e simulação de competência como as virtudes mais importantes de executivos e trabalhadoras especializadas, estrelas da mídia e contabilistas, professoras e guardas de estacionamento.

Também a afirmação de que o trabalho seria uma necessidade eterna, imposta ao homem pela natureza, tornou-se, na crise da sociedade do trabalho, ridícula. Há séculos está sendo pregado que o deus-trabalho precisaria ser adorado porque as necessidades não poderiam ser satisfeitas sozinhas, isto é, sem o suor da contribuição humana. E o fim de todo este empreendimento de trabalho seria a satisfação de necessidades. Se isto fosse verdade, a crítica ao trabalho teria tanto sentido quanto a crítica da lei da gravidade. Pois, como uma "lei natural" efetivamente real pode entrar em crise ou desaparecer ? Os oradores do campo de trabalho social – da socialite engolidora de caviar, neoliberal e maníaca por eficiência até o sindicalista barriga-de-chope – ficam em maus lençóis com a sua pseudo-natureza do trabalho. Afinal, como eles querem nos explicar que hoje três quartos da humanidade estejam afundando no estado de calamidade e miséria somente porque o sistema social de trabalho não precisa mais de seu trabalho ?

Não é mais a maldição do Velho Testamento – "comerás teu pão com o suor da tua face" – que pesa sobre os que caíram fora, mas uma nova e implacável condenação: "tu não comerás porque o teu suor é supérfluo e invendável". E será isto uma lei natural ? Não é nada mais que o princípio social irracional que aparece como coerção natural porque destruiu, ao longo dos séculos, todas as outras formas de relação social ou as submeteu e se impôs como absoluto. É a "lei natural" de uma sociedade que se considera muito "racional", mas que, em verdade, apenas segue a racionalidade funcional de seu deus-trabalho, a cujas "coerções objetivas" está disposta a sacrificar o último resto de humanidade.

"Trabalho está, por mais baixo e mamonístico que seja, sempre em relação com a natureza. Só desejo de executar trabalho já conduz cada vez mais à verdade e às leis e prescrições da natureza, que são a verdade." (Thomas Carlyle, Trabalhar e não desesperar, 1843)

5. Trabalho é um princípio coercitivo social

Trabalho não é, de modo algum, idêntico ao fato de que os homens transformam a natureza e se relacionam através de suas atividades. Enquanto houver homens, eles construirão casas, produzirão vestimentas, alimentos, tanto quanto outras coisas, criarão filhos, escreverão livros, discutirão, cultivarão hortas, farão música etc. Isto é banal e se entende por si mesmo. O que não é óbvio é que a atividade humana em si, o puro "dispêndio de força de trabalho", sem levar em consideração qualquer conteúdo e independente das necessidades e da vontade dos envolvidos, torne-se um princípio abstrato, que domina as relações sociais.

Nas antigas sociedades agrárias existiam as mais diversas formas de domínio e de relações de dependência pessoal, mas nenhuma ditadura do abstractum trabalho. As atividades na transformação da natureza e na relação social não eram, de forma alguma, autodeterminadas, mas também não eram subordinadas a um "dispêndio de força de trabalho" abstrato: ao contrário, integradas no conjunto de um complexo mecanismo de normas prescritivas religiosas, tradições sociais e culturais com compromissos mútuos. Cada atividade tinha o seu tempo particular e seu lugar particular; não existia uma forma de atividade abstrata e geral.

Somente o moderno sistema produtor de mercadorias criou, com seu fim em si mesmo da transformação permanente de energia humana em dinheiro, uma esfera particular, "dissociada" de todas as outras relações e abstraída de qualquer conteúdo, a esfera do assim chamado trabalho – uma esfera da atividade dependente incondicional, desconectada e robótica, separada do restante do contexto social e obedecendo a uma abstrata racionalidade funcional de "economia empresarial", para além das necessidades. Nesta esfera separada da vida, o tempo deixa de ser tempo vivido e vivenciado; torna-se simples matéria-prima que precisa ser otimizada: "tempo é dinheiro". Cada segundo é calculado, cada ida ao banheiro torna-se um transtorno, cada conversa é um crime contra o fim autonomizado da produção. Onde se trabalha, apenas pode ser gasto energia abstrata. A vida se realiza em outro lugar, ou não se realiza, porque o ritmo do tempo de trabalho reina sobre tudo. As crianças já são domadas pelo relógio para terem algum dia "capacidade de eficiência". As férias também só servem para a reprodução da "força de trabalho". E mesmo na hora da refeição, na festa e no amor o ponteiro dos segundos toca no fundo da cabeça.

Na esfera do trabalho não conta o que se faz, mas que se faça algo enquanto tal, pois o trabalho é justamente um fim em si mesmo, na medida em que é o suporte da valorização do capital-dinheiro – o aumento infinito de dinheiro por si só. Trabalho é a forma de atividade deste fim em si mesmo absurdo. Só por isso, e não por razões objetivas, todos os produtos são produzidos como mercadorias. Pois somente nesta forma eles representam o abstractum dinheiro, cujo conteúdo é o abstractum trabalho. Nisto consiste o mecanismo da Roda-Viva social autonomizada, ao qual a humanidade moderna está presa.

E é justamente por isso que o conteúdo da produção é tão indiferente quanto a utilização dos produtos e as conseqüências sociais e naturais. Se casas são construídas ou campos minados produzidos, se livros são impressos, se tomates transgênicos são cultivados, se pessoas adoecem, se o ar está poluído ou se "apenas" o bom gosto é prejudicado – tudo isso não interessa. O que interessa, de qualquer modo, é que a mercadoria possa ser transformada em dinheiro e dinheiro em novo trabalho. Que a mercadoria exija um uso concreto, e que seja ele mesmo destrutivo, não interessa à racionalidade da economia empresarial, para ela o produto só é portador de trabalho pretérito, de "trabalho morto".

A acumulação de "trabalho morto" como capital, representado na forma-dinheiro, é o único "sentido" que o sistema produtor de mercadorias conhece. "Trabalho morto"? Uma loucura metafísica ! Sim, mas uma metafísica que se tornou realidade palpável, uma loucura "objetivada" que a sociedade com mão férrea. No eterno comprar e vender, os homens não intercambiam na condição de seres sociais conscientes, mas apenas executam como autômatos sociais o fim em si mesmo preposto a eles.

"O trabalhador só se sente consigo mesmo fora do trabalho, enquanto que no trabalho se sente fora de si Ele está em casa quando não trabalha, quando trabalha não está em casa. Seu trabalho, por isso, não é voluntário, mas constrangido, é trabalho forçado. Por isso, não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer necessidades exteriores a ele mesmo. A estranheza do trabalho revela sua forma pura no fato de que, desde que não exista nenhuma coerção física ou outra qualquer; foge-se dele como se fosse uma peste." (Karl Marx, Manuscritos Económico-Filosóficos, 1844)

6. Trabalho e capital são os dois lados da mesma moeda

A esquerda política sempre adorou entusiasticamente o trabalho. Ela não só elevou o trabalho à essência do homem, mas também mistificou-o como pretenso contra-princípio do capital. O escândalo não era o trabalho, mas apenas a sua exploração pelo capital. Por isso, o programa de todos os "partidos de trabalhadores" foi sempre "libertar o trabalho" e não "libertar do trabalho". A oposição social entre capital e trabalho é apenas uma oposição de interesses diferenciados (é verdade que de poderes muito diferenciados) internamente ao fim em si mesmo capitalista. A luta de classes era a forma de execução desses interesses antagônicos no seio do fundamento social comum do sistema produtor de mercadorias. Ela pertencia à dinâmica interna da valorização do capital. Se se tratava de luta por salários, direitos, condições de trabalho ou postos de trabalho: o pressuposto cego continuava sempre sendo a Roda-Viva dominante com seus princípios irracionais.

Tanto do ponto de vista do trabalho quanto do capital, pouco importa o conteúdo qualitativo da produção. O que interessa é apenas a possibilidade de vender de forma otimizada a força de trabalho. Não se trata da determinação em conjunto sobre o sentido e o fim da própria atividade. Se houve algum dia a esperança de poder realizar uma tal autodeterminação da produção dentro das formas do sistema produtor de mercadorias, hoje as "forças de trabalho" já perderam, e há tempos, esta ilusão. Hoje interessa apenas o "posto de trabalho", a "ocupação" – já esses conceitos comprovam o caráter de fim em si mesmo de todo esse empreendimento e a menoridade dos envolvidos.

O que, para que e com que conseqüências se produz, no fundo não interessa, nem ao vendedor da mercadoria força de trabalho, nem ao comprador. Os trabalhadores das usinas nucleares e das indústrias químicas protestam ainda mais veementemente quando se pretende desativar as suas bombas-relógio. E os "ocupados" da Volkswagen, Ford e Toyota são os defensores mais fanáticos do programa suicida automobilístico. Não só porque eles precisam obrigatoriamente se vender só para "poder" viver, mas porque eles se identificam realmente com a sua existência limitada. Para sociólogos, sindicalistas, sacerdotes e outros teólogos profissionais da "questão social", este fato é a comprovação do valor ético-moral do trabalho. Trabalho forma a personalidade. É verdade. Isto é, a personalidade de zumbis da produção de mercadorias, que não conseguem mais imaginar a vida fora de sua Roda-Viva fervorosamente amada, para a qual eles próprios se preparam diariamente.

Assim como não era a classe trabalhadora enquanto tal a contradição antagônica ao capital e o sujeito da emancipação humana, assim também, por outro lado, os capitalistas e executivos não dirigem a sociedade seguindo a maldade de uma vontade subjetiva de explorador. Nenhuma casta dominante viveu, em toda a história, uma vida tão miserável e não livre como os acossados executivos da Microsoft, Daimler-Chrysler ou Sony. Qualquer senhorio medieval teria desprezado profundamente essas pessoas. Pois, enquanto ele podia se dedicar ao ócio e gastar sua riqueza em orgias, as elites da sociedade do trabalho não podem se permitir nenhum intervalo. Mesmo fora da Roda-Viva, eles não sabem fazer outra coisa consigo mesmos a não ser infantilizarem-se. Ócio, prazer intelectual e sensual lhes são tão estranhos quanto o seu material humano. Eles mesmos são servos do deus-trabalho, meras elites funcionais do fim em si mesmo social irracional.

O deus dominante sabe impor sua vontade sem sujeito através da "coerção silenciosa" da concorrência, à qual precisam se curvar também os poderosos, sobretudo quando administram centenas de fábricas e transferem somas milionárias pelo globo. Se eles não fizerem isso, são colocados de lado do mesmo modo brutal como as "forças de trabalho" supérfluas. Mas é justamente sua menoridade que faz com que os funcionários do capital sejam tão incomensuravelmente perigosos, e não a sua vontade subjetiva de exploração. Eles são quem têm menos direito de perguntar pelo sentido e pelas conseqüências de suas atividades ininterruptas, não podem permitir a si mesmos sentimentos nem considerações. Por isso eles falam de realismo quando devastam o mundo, tornam as cidades cada vez mais feias e deixam os homens empobrecerem no meio da riqueza.

"O trabalho tem cada vez mais a boa consciência ao seu lado: actualmente a inclinação para a alegria chama-se ‘necessidade de recreação’ e começa a ter vergonha de si mesma. ‘Deve-se fazer isto pela saúde’ assim se diz quando se é surpreendido num passeio pelo campo. Pois logo poder-se-á chegar ao ponto em que a gente não mais ceda a uma inclinação para a vida contemplativa (isto é, a um passeio com pensamentos e amigos) sem má consciência e desprezo de si. " (Friedrich Nietzsche, Ócio e Ociosidade, 1882)

7. Trabalho é domínio patriarcal

Mesmo que a lógica do trabalho e de sua metamorfose em matéria-dinheiro insista, nem todas as esferas sociais e atividades necessárias deixam-se embutir sob pressão na esfera do tempo abstrato. Por isso, surgiu junto com a esfera "separada" do trabalho, de certa forma como seu avesso, também a esfera privada doméstica, da família e da intimidade.

Nesta esfera definida como "feminina" restam as numerosas e repetidas atividades da vida cotidiana que não podem ser, salvo excepcionalmente, transformadas em dinheiro: da faxina à cozinha, passando pela educação das crianças e a assistência aos idosos até o "trabalho de amor" da dona de casa típica ideal, que reconstrói seu marido trabalhador esgotado e que lhe permite "abastecer seus sentimentos". A esfera da intimidade, como avesso do trabalho, é declarada pela ideologia burguesa da família como o refúgio da "vida verdadeira" – mesmo se na realidade ela é, antes, um inferno da intimidade. Trata-se justamente não de uma esfera de vida melhor e verdadeira, mas de uma forma de existência tão reduzida quanto limitada, só com os sinais invertidos. Essa esfera é ela própria um produto do trabalho, cindida dele, mas só existente em relação a ele. Sem o espaço social cindido das formas de atividade "femininas", a sociedade do trabalho nunca poderia ter funcionado. Este espaço é seu pressuposto silencioso e ao mesmo tempo seu resultado específico.

Isto vale também para os estereótipos sexuais que foram generalizados no decorrer do desenvolvimento do sistema produtor de mercadorias. Não é por acaso que se fortaleceu o preconceito em massa da imagem da mulher dirigida irracional e emocionalmente, natural e impulsiva, juntamente com a imagem do homem trabalhador, produtor de cultura, racional e autocontrolado. E também não é por acaso que o auto-adestramento do homem branco para as exigências insolentes do trabalho e para sua administração humana estatal foi acompanhado por seculares e enfurecidas "caças às bruxas". Simultaneamente a estas, inicia-se a apropriação do mundo pelas ciências naturais, desde já contaminadas em suas raízes pelo fim em si mesmo da sociedade do trabalho e pelas atribuições de gênero. Dessa maneira, o homem branco, para poder "funcionar" sem atrito, expulsou de si mesmo todos os sentimentos e necessidades emocionais que, no reino do trabalho, só contam como fatores de perturbação.

No século XX, em especial nas democracias fordistas do pós-guerra, as mulheres foram cada vez mais integradas no sistema de trabalho, mas o resultado disso foi apenas a consciência feminina esquizóide. Pois, de um lado, o avanço das mulheres na esfera de trabalho não poderia trazer nenhuma libertação, mas apenas o ajuste ao deus-trabalho, como entre os homens. De outro lado, persistiu incólume a estrutura de "cisão", e assim também as esferas das atividades ditas "femininas", externas ao trabalho oficial. As mulheres foram submetidas, desta maneira, à carga dupla e, ao mesmo tempo, expostas a imperativos sociais totalmente antagônicos. Dentro da esfera do trabalho elas ficaram até hoje, na sua grande maioria, em posições mal pagas e subalternas.

Nenhuma luta, inerente ao sistema, por cotas femininas de carreira e oportunidades pode mudar alguma coisa disso. A visão burguesa miserável de "unificação da profissão e família" deixa totalmente intocada a separação de esferas do sistema produtor de mercadorias, e com isso também a estrutura de "cisão" de gênero. Para a maioria das mulheres esta perspectiva não é vivenciável, para a minoria daquelas que "ganham melhor" ela torna-se uma posição pérfida de ganhador no apartheid social, na medida em que pode-se delegar o trabalho doméstico e a criação dos filhos a empregadas mal pagas (e "obviamente" femininas).

Na sociedade como um todo, a sagrada esfera burguesa da assim chamada vida privada e de família é, na verdade, cada vez mais minada e degradada, porque a usurpação da sociedade do trabalho exige da pessoa inteira o sacrifício completo, a mobilidade e a adaptação temporal. O patriarcado não é abolido, mas passa por um asselvajamento na crise inconfessa da sociedade do trabalho. Na mesma medida em que o sistema produtor de mercadorias entra em colapso, as mulheres tornam-se responsáveis pela sobrevivência em todos os níveis, enquanto o mundo "masculino" prolonga simulativamente as categorias da sociedade do trabalho.

"A humanidade teve que se submeter a terríveis provações até que se formasse o eu, o carácter idêntico, eterminado e viril do homem, e toda infância ainda é de certa forma a repetição disso". (Max Horkheimer & Theodor W. Adorno, Dialéctica do Esclarecimento)

8. Trabalho é a atividade da menoridade

Não só de fato, mas também conceitualmente, demonstra-se a identidade entre trabalho e menoridade. Até há poucos séculos, os homens tinham consciência do nexo entre trabalho e coerção social. Na maioria das línguas européias, o termo "trabalho" relaciona-se originalmente apenas com a atividade de uma pessoa juridicamente menor, do dependente, do servo ou do escravo. Nos países de língua germânica, a palavra "Arbeit" significa trabalho árduo de uma criança órfã e, por isso, serva. No latim, "laborare" significava algo como o "cambalear do corpo sob uma carga pesada", e em geral é usado para designar o sofrimento e o mau trato do escravo. As palavras latinas "travail", "trabajo" etc. derivam-se do latim, "tripalium", uma espécie de jugo utilizado para a tortura e o castigo de escravos e outros não livres. A expressão idiomática alemã – "jugo do trabalho" ("Joch der Arbeit") – ainda faz lembrar este sentido.

"Trabalho", portanto, pela sua origem etimológica também não é sinônimo de uma atividade humana autodeterminada, mas aponta para um destino social infeliz. É a atividade daqueles que perderam sua liberdade. A ampliação do trabalho a todos os membros da sociedade é, por isso, nada mais que a generalização da dependência servil, e sua adoração moderna apenas a elevação quase religiosa deste estado.

Esta relação pôde ser reprimida com êxito e a impertinência social interiorizada, porque a generalização do trabalho foi acompanhada pela sua "objetivação" por meio do moderno sistema produtor de mercadorias: a maioria das pessoas não está mais sob o chicote de um senhor pessoal. A dependência social tornou-se uma relação abstrata do sistema e, justamente por isso, total. Ela pode ser sentida em todos os lugares, mas não é palpável. Quando cada um tornou-se servo, tornou-se ao mesmo tempo senhor, o seu próprio traficante de escravo e feitor. Todos obedecem ao deus invisível do sistema, o "Grande Irmão" da valorização do capital, que os subjugou sob o "tripalium".

9. A história sangrenta da imposição do trabalho

A história da modernidade é a história da imposição do trabalho que deixou seu rastro amplo de devastação e horror em todo o planeta. Nunca a impertinência de gastar a maior parte de sua energia vital para um fim em si mesmo determinado externamente foi tão interiorizada como hoje. Vários séculos de violência aberta em grande escala foram precisos para torturar os homens a fim de fazê-los prestar serviço incondicional ao deus-trabalho.

O início, ao contrário do que se diz comumente, não foi a ampliação das relações de mercado com um conseqüente "crescimento do bem-estar", mas sim a fome insaciável por dinheiro dos aparelhos do Estado absolutista, para financiar as primeiras máquinas militares modernas. Somente pelo interesse desses aparelhos, que pela primeira vez na história sufocaram toda uma sociedade burocraticamente, acelerou-se o desenvolvimento do capital mercantil e financeiro urbano, ultrapassando as formas comerciais tradicionais. Somente desta maneira o dinheiro tornou-se o motivo social central, e o abstractum trabalho uma exigência social central, sem levar em consideração as necessidades.

Não foi voluntariamente que a maioria dos homens passou a uma produção para mercados anônimos e assim a uma economia monetária generalizada, mas antes porque a fome absolutista por dinheiro monetarizou os impostos, aumentando-os simultaneamente de forma exorbitante. Eles não precisavam "ganhar dinheiro" para si mesmos, mas sim para o militarizado Estado de armas de fogo, protomoderno, para sua logística e sua burocracia. Assim, e não de outra forma, nasceu o fim em si mesmo absurdo da valorização do capital e do trabalho.

Não demorou muito para que os impostos monetários e as taxas não fossem mais suficientes. Os burocratas absolutistas e os administradores do capital financeiro começaram a organizar coercitivamente os homens diretamente como material de uma máquina social para a transformação de trabalho em dinheiro. O modo tradicional de vida e de existência da população foi destruído; não porque esta população estava se "desenvolvendo" voluntariamente e de maneira autodeterminada, mas porque ela precisava servir como material humano para uma máquina de valorização já acionada. Os homens foram expulsos de suas roças à força de armas para dar lugar à criação de ovinos para as manufaturas de lã. Direitos antigos como a liberdade de caça, pesca e coleta de lenha nas florestas foram extintos. E quando as massas pauperizadas perambularam mendigando e roubando pelo território, foram, então, internadas em casas de trabalho e manufaturas para serem maltratadas com máquinas de tortura de trabalho e para adquirirem a pauladas uma consciência de escravos, a fim de se tornarem animais de trabalho obedientes.

Mas, também a transformação por etapas de seus vassalos em material do deus-trabalho fazedor de dinheiro não foi suficiente para os Estados absolutistas monstruosos. Eles ampliaram suas pretensões também a outros continentes. A colonização interna da Europa foi acompanhada pela colonização externa, primeiro nas duas Américas e em partes da África. Ali, os feitores do trabalho perderam definitivamente seus pudores. Em campanhas militares de roubo, destruição e extermínio sem precedentes, eles assaltaram os mundos recentemente "descobertos" – lá as vítimas nem eram consideradas seres humanos. Em sua aurora, o Poder europeu antropófago da sociedade do trabalho definiu as culturas estrangeiras subjugadas como "selvagens" e antropófagas.

Com isso, foi criada a lei de legitimação para eliminá-los ou escravizá-los aos milhões. A escravidão em sentido literal, que nas economias coloniais de plantation de matérias-primas ultrapassou em dimensões a escravidão antiga, faz parte dos crimes fundadores do sistema produtor de mercadorias. Ali foi utilizado em grande estilo, pela primeira vez, a "destruição através do trabalho". Isso foi a segunda fundação da sociedade do trabalho. Com os "selvagens", o homem branco, que já era marcado pelo autodisciplinamento, podia liberar o ódio de si próprio reprimido e seu complexo de inferioridade. Os "selvagens" equivaliam para eles às "mulheres", isto é, semi-seres entre o homem e o animal, primitivos e naturais. Immanuel Kant supunha, com precisão lógica, que o babuíno saberia falar se quisesse, só não falava porque temia ser recrutado para o trabalho.

Este raciocínio grotesco joga uma luz reveladora sobre o Iluminismo. O ethos repressivo do trabalho da modernidade, que se baseou, em sua versão protestante original, na misericórdia divina e, a partir do Iluminismo, na lei natural, foi mascarado como "missão civilizatória". Cultura, neste sentido, é submissão voluntária ao trabalho; e trabalho é masculino, branco e "ocidental". O contrário, o não-humano, a natureza disforme e sem cultura, é feminino, de cor e "exótico", portanto, a ser colocado sob coerção. Numa palavra: o "universalismo" da sociedade do trabalho já é totalmente racista desde sua raiz. O abstractum trabalho universal só pode se autodefinir pelo distanciamento de tudo o que não está fundido a ele.

Não foram os pacíficos comerciantes das antigas rotas mercantis – de onde nasceu a burguesia moderna que, finalmente, herdou o absolutismo – que formaram o húmus social do "empresariado" moderno, mas sim os condottieri das ordas mercenárias da protomodernidade, os administradores do trabalho e das cadeias, os arrendatários do direito de coleta de impostos, os feitores de escravos e os agiotas. As revoluções burguesas do século XVIII e XIX não têm nenhuma relação com a emancipação; elas apenas reorganizaram as relações de poder internamente ao sistema de coerção criado, separaram as instituições da sociedade do trabalho dos interesses dinásticos ultrapassados e impulsionaram a sua objetivação e despersonalização. Foi a gloriosa Revolução Francesa que declarou com pathos específico o dever ao trabalho e introduziu, numa "lei de eliminação da mendicância", novas prisões de trabalho.

Isto foi exatamente o contrário daquilo que pretendiam os movimentos sociais rebeldes, que cintilaram à margem das revoluções burguesas sem a elas se integrarem. Já muito antes, houve formas autônomas de resistência e rejeição com as quais a historiografia oficial da sociedade

Fonte: http://sol.sapo.pt/blogs/guilhas/archive/2008/01/10/KRISIS.aspx

FEDERICO GARCIA LORCA

A Poesia surrealista de Lorca - 15Jan2008
Estava no terraço lutando com a lua.
Enxames de janelas crivavam um músculo da noite.
Nos meus olhos bebiam as doces vacas dos céus
e as brisas de largos remos
golpeavam os cinzentos cristais da Broadway.

A gota de sangue buscava a luz da gema do astro
para fingir uma semente morta de maçã.
O ar da planura, impelido pelos pastores,
tremia com um medo de molusco sem concha.

de Poeta en Nueva York
(«Danza de la Muerte»)

(Trad. J.T.Parreira)

Fonte: http://poetasalutor.blogspot.com/2008/01/poesia-surrealista-de-lorca.html

DA CARLA BENTO


> hey wizards em progressao fantastica ... catolicismo ... ya os filhos da
> puta espero que se estiverem unidos nao seja pela igreja catolica de qualquer
> forma pode se mudar de opiniao e pedir um "divorcio" dos cabrones dos
> catolicos , os narcotizados acreditam em deus e têm medo de morrer ,.. pois
> é ... podemos erradicar o pp, a semelhanca do que fizeram com o herri
> batasuna ... em variaçao europeia ... o estado e o primeiro agente
> descrimninatorio so ha uma religiao nas escolas mesmo que seja facultativa et
> no medium oriente ils vont parler ils ment dans une cote ils ments dans une
> autre cote cansados de guerras dedicado a les enfants dieus cosmiques comme
> nous, orien de peut on nous on veut le tout dieus de le inconnu autobaptizados
> por mim, fuck tudo kafkiano para mim, pois o acusado que nao sabe porque é que
> é acusado ... vou ver se convenco o apedro ribeiro a assaltar o banco de
> portugal depois queimamos o dinero ... quero fazer uma reportagem com ele para
> o jornal de amarante ... fui convidada por um dos directores sempre fui uma
> jornalista bues inteligente e acutilante consigo sempre agarrar o assunto de
> uma forma interessante acho eu .... uma pergunta minha a um presidente de junta
> desde o 25 de abril ... diferenças na gestao ... so falo com juntas de
> freguesia quero que as camaras e o estado se lixe todinho .... todinho
> mesmo .... passo vos ideias porque sempre o disse que havia gente mais
> inteligente do que eu (intelligentsia fur mich) para fazer a ligacao de tudo o
> que eu digo ... ando sempre a processar pensamento matematico emotivo em
> rodopio tou sempre cheia de ideias !!! quero fazer a minha tese de licenciatura
> sobre os tuaregues ... a ver se consigo uma bolsa com os artistas ... um
> pequeno financiamento vai se chamar a insustentavel beleza do ser !!!
>
> e a teoria sobre o partido surrealista situacionista revolucionario acho eu vai
> ter o tituo o puto que veio de uma galaxia marada !!! costumo dizer isso a um
> amigo meu que tambem é mao mortiano .... queria ter news da vossa mailing list
> se calhar nao posso ir ao jantar ... fui expulsa ??? espero que os meus posts
> nao tenham ares de fascismo .... nao tenho medo de nada nem de ninguem digo nao
> a opressao a repressao a manipulaçao a mentira ao facilitismo, a metadona nao
> limpa o inconsciente nem o subconsciente mas spezial music e ar livre limpam, o
> meu irmao disse me achas que o ppl dcomo os mao morta o vibe te vao responder
> ao teu projecto alternativo para a toxicodependencia ... fuckness!!! une autre
> fois monsieurs fuckness nunca me tinha lembrado disso "ai que giro eu sou
> famoso" nem o permito nem o admito ..!!! tou a ver se consigo contacto com os
> mata ratos e com os rage tenho bues de ideias anarcas e para a igualdade IFFICD
> smoth operator operator correacty ..." Ya !!! revoluzione !!! tudo abaixo !! de
> resto com saudades do antonio rafael ... curtia ter mais umas fotos dos mao
> morta so conhecia o adolfo luxuria canibal identificava (eu so me identifico
> para o undergrounD !) mas curtia bues as botas doc martines vermelhas do
> huitarrista no muller que entendi mas nao compreendi como ja to disse .... fuck
> voltei ä minha hiperactividade e num tenho feed back (fui manager uns 4 5 anos
> dos Cabra cega, com criticas no blitz uma banda punk harcore na altura fui eu
> que arranjei 60 contos para gravar uma demo nos estudios industria rock rifas
> para um sorteio que nunca se realizou acho que um dos premios era uma tenda de
> campismo ... agora o meu irmao que era o diddy ramone baptixado pelo ppl
> aparece num relatorio da puta da bofia como denunciante da propria irmao vem
> mesmo escrito denunciante e nem, se importa ... o estupido ... eu deixo o andar
> e vou dando recadinhos a ver se ele chega la por si proprio ... ja disse aos
> meus amigos, façam as interpretaçoes do que eu digo que bem entenderem...
> lixadérrima !!! nao teu nem la o meu irmao telefona para a minha tia, a minha
> tia para o outro meu tio, o meu tio para a minha avo a minha avo nao se mete
> nisso porque e uma fofinha cosmica, e eu nao tava lÁ !
>
> uma etarra en depressao en alucinaçao ....