Monday, March 25, 2013

OS NOVOS ESCRAVOS

A imbecilização e a infantilização reinam na TV e não só. Não há a procura do elevado, do conhecimento, da sabedoria. Anda tudo á volta do futebol e das bolas que entram ou então dos mexericos. Por isso temos governantes como Passos Coelho ou Vítor Gaspar. O cálculo, o utilitarismo e a economia imperam. Ainda há alguma simpatia mas o ser humano não se interroga sobre si próprio, sobre o que faz aqui. Limita-se a cumprir os dias, a obedecer ao relógio, a sobreviver. Não percebe que é do ócio, como diz Agostinho da Silva, que surgem as grandes ideias, que despontam os poetas vadios, os poetas à solta. A maioria dos seres humanos perdeu a curiosidade, a capacidade de sonhar, de inventar. Eis o resultado do capitalismo. Eis os novos escravos. Caminham ordenados, vencidos, cumpridores. Fazem tudo em função do deus-dinheiro, compram e vendem-se, perdem a sua essência. Nas crianças ainda vemos a vida mas logo elas serão encaminhadas para o mercado. Competem, guerreiam-se, não procuram a unidade, o xamã, aquele que une deuses e espíritos. Por isso levam uma vida imbecil, obedecem aos patrões, aos governos, ao deus-dinheiro. Alguns, a espaços, celebram à noite nos bares, nas salas de espectáculos. Mas é só a espaços. A sobrevivência predomina, impõe as suas leis, diminui o homem. Não questionamos o que viemos fazer aqui. Não questionamos a dádiva que é estar aqui. Não vamos atrás da vida autêntica de Rimbaud, de Nietzsche. Não vamos buscar a verdade a nós mesmos. Andamos por aí. Escravos da imbecilidade, do papão imbecil. Não evoluímos, regredimos até, como macacos. Comemos, bebemos e safamo-nos. Fugimos à riqueza da vida. A riqueza de estarmos vivos. Aceitamos tudo o que nos vendem. Duvido até que estejemos vivos.

Tuesday, March 19, 2013

A DESTRUIÇÃO DA VIDA

Que vida ordenada, segura, confortável leva esta gente. Não fossem as crianças pareceriam todos programados, autómatos, cumprindo as horas, cumprindo as tarefas. Não questionam a vida, não questionam o transe. Comem, bebem, trabalham, consomem, procriam. O próprio lazer é condicionado pelas leis castradoras da economia. Esta gente ainda ri mas é um riso passageiro que a máquina abafa. É sempre o "até amanhã!", o amanhã sempre igual, a correr para casa, para a TV, para a imbecilização, para o tédio. O capitalismo, além de atirar para a fome e para a pobreza, destrói a vida. Deu cabo do homem primitivo, do xamã que celebrava com os deuses e com os mitos. Está a dar cabo da alegria autêntica, da criança despreocupada que brinca, do prazer da criação, do conhecimento, da descoberta. Está a dar cabo da poesia, da comunhão, do amor, da mesa livre e partilhada.



Thursday, March 14, 2013

BELO

E se a nossa mente explodisse, se elevasse ao máximo as suas potencialidades? O que seríamos capaz de criar? Muita coisa perderia o valor. Como a compra e venda, a relação comercial, o dinheiro. Seríamos deuses, seres de luz, efectivamente filhos das estrelas, da primeira luz. A ideia seria realmente soberana, seríamos capazes de tudo, de atingir o belo, o bem, o sublime. Poderíamos ser terríveis mas também infinitamente bons, capazes de dar amor a todo o momento. Ultrapassaríamos a política, a economia, tudo seria alma e céu. Sim, o que poderíamos ser se nos realizássemos aqui na Terra e além dela. Seríamos reis, rainhas, seres encantadores, extáticos, livres. Deixaríamos de andar ordenados, ao ritmo do relógio, sem tempo, sem limites, sem trabalho. O que seria o homem para lá do homem? Belo, soberbo, magnífico, um senhor sem escravos, ao seu ritmo, como no início dos tempos.

Sunday, March 10, 2013

REINO

É noite. Escrevo. Este é um dos dias mais felizes da minha vida. Celebro. Nada me deitará abaixo. Sou sublime. Ouço os galos. Escrevo ao ritmo da terra. O coração bate forte. Tenho medo de ter um ataque. Ainda assim reino. Penso na Leonor. Está infeliz. Coitada daquela menina. Chora. Tão incompreendida. Ainda assim reino. Saio nas entrevistas. Vou aparecendo nos media. Escrevo e sou feliz. Tomo Roma e Atenas. Percorro as ruas em triunfo como Alexandre. Exércitos que me protegem. Estou pronto para a batalha. A palavra é a minha arma. Exércitos que me protegem. Sou Nero. Toco lira. Recito poemas. Nunca mais haverá alguém como tu. Soberano da vida. Rei. Deus. Que se lixem os poetas menores! Eu estou aqui vivo. Com Morrison e Zaratustra. Há outra vida. O meu reino não é deste mundo. Palácios. Castelos. Reinos por conquistar. Este sou eu, menina. Não me faças a cabeça, ó coquete televisiva. Este sou eu. Continuo aqui. Não saio daqui. Não saio do meu país. Isso queriam eles...O reino é meu. Vou reclamar o trono. Terra inóspita. O Santo Graal. Artur de Camelot. Galaad. Vejo-te, ó Graal. És meu. O cálice. Vejo-te claramente. Estou em Deus. Às 7 da madrugada de 8 de Março. Dia da mulher. Todas as mulheres são minhas irmãs. Danço com elas. Vou até ao infinito. Bebo do cálice. Bebo whisky. Expulso os vendilhões. Sou soberano. A escrita é automática. Passa da mente para o papel, sem interferências. A mente arde. Estou em Deus e além de Deus. Não me apanhais, ó merceeiros, homens pequenos, escravos da vidinha. Estou para além. Muito para além. Bebo o Graal. Danço. Canto. Tenho o riso soberano.

Wednesday, March 06, 2013

O NOVO HOMEM

Venho anunciar-vos o novo homem. Bem sei que permaneceis nos vossos afazeres, nos vossos comércios, nas vossas vidinhas. No entanto, sei também que alguns de vós se têm cruzado comigo nas ruas, nos cafés, nos bares. Sei também que alguns de vós me tendes tentado compreender. Falo-vos, portanto, do novo homem. Do homem que nasce livre e permanece livre, que não segue um caminho imposto, uma via definida, que vadia pela vida, que recusa o jogo. Venho dizer-vos que ele está entre vós, que quer desencaminhar-vos a vós e aos vossos filhos. Ele vem dizer-vos de que muito do que fazeis aqui na Terra é ditado pela repressão e pelo medo. O vosso Deus expulsou-vos do paraíso. O trabalho que fazeis é a negação do paraíso. Fostes escravizados pelo dinheiro. Assim nunca vos sentireis realizados. Homens, mulheres, contemplai o novo homem. É ele que dá o sentido à Terra.