Wednesday, July 30, 2008

DADÁ


DA HISTÓRICA, DA POÉTICA E DA ESTÉTICA
SURREALISTA
Dr. Lúcio Coelho

Por breve que seja abordagem de Surrealismo e da importância que teve na História da Arte do Século XX, não é possível fazê-lo sem mencionar o fenómeno Dada (ou Dadaísmo) que imediatamente o precedeu.

Com efeito, é em pleno período da 1ª Guerra Mundial, ou no seu prelúdio, que têm lugar, em Nova York, as primeiras manifestações Dada, com chegada e fixação nesta cidade de Marcel Duchamp e de Francis Picabia. Na mesma, tinha acabado de acontecer (1913) a mais fantástica e 1ª Exposição de Arte de Vanguarda Europeia - a Armory Schow. E contra a mesma já se levantavam vozes dissonantes, não só as daquelas dois artistas Europeus, como doutros artistas locais entre os quais sobressaí o fotógrafo, cineasta e pintor Man Ray.

Não só a guerra, por si só, poria em causa toda a cultura internacional, como aquelas figuras e o movimento que as haveria de congregar levam à contestação absoluta de todos os valores, a começar pela própria arte.

A redacção de manifestos, a autonomia criativa de cada uma das figuras envolvidas, o seu desejo de modificar radicalmente a abordagem mental do produto artístico, o seu carácter anarquisante e niilista tendente a destruir todas as convenções, a escolha do acaso e do absurdo como temas preferênciais, espalham ràpidamente o espirito dadaista a outras partes do Mundo.

É em Zurique, e à volta do cabaret "Voltaire" que, em 1916 se juntam, numerosos intelectuais, poetas, pintores e filósofos, dos quais se destacam Tristan Tzara, Hans Arp e Hugo Ball. É aí que se institucionaliza o movimento e se lhe dá o nome. Dada, palavra encontrada ao acaso em dicionário aberto ao acaso também.

E é nesse espaço que têm lugar espectáculos de carácter escandaloso e provocatório, "sessões culturais" de cunho anti-nacionalista e antibelicista, tudo numa estética de aparente banalidade, perversidade sexual e indiferença contra a solenidade e a monumentalidade.

Marcel Duchamp já havia dado a conhecer os seus "ready-made" mais famosos : "A Roda da Bicicleta" (1912), "O Secador de Garrafas" (1914), "A Fonte" - urinol invertido (1916). Dá-nos depois "A Gioconda com Bigode" (1919).

Em, 1917, o movimento irradia para a Alemanha. Após o encerramento do Cabaret Vontaire por decisão das autoridades é fundado em Berlim o "Club Dádá" pelo agitador Hulsenbeck. Dele se aproximam os pintores George Grosz e Otto Dix que na altura praticam uma arte de critica contundente aos valores instituídos, misturada de acutilante humor macabro. Outros se dedicam à "fotomontagem" que privilegia a crítica política.


(33% da dimensão original)

"Cada um dos cinco pintores que intervieram na sua realização - António Dominques (n. 1921), Fernando de Azevedo (n. 1923), António Pedro (1909-1966), Vespeira (n. 1926), J. Moniz Pereira (1920-1989) -, preencheu a sua parte da tela antecipadamente dividida, sem saber o que os outros tinham pintado, ocultado, limitando-se a encadear, em extremidades das formas por eles deixadas visíveis, as que lhe apeteceu pessoalmente pintar." (José Augusto França, Pagela dos CTT, 1999)

A emissão comemorativa dos 50 anos do surrealismo em Portugal, com cores manifestamente diferentes do original (ver Jornal de Filatelia nº 61, Julho 2000) foi o pretexto para este artigo.


Em Berlim é erguido o monumento à Internacional Dádá, feito em cartão e papel velho, parodiando Tatllin e o seu monumento à Internacional Socialista. Aqui é proclamada a "morte da Arte".

Em Hannover, e na mesma altura, cresce a personalidade impar de Kurt Schwitters que funda a revista "Merz" em 1923 (a própria palavra Merz surge ao acaso, retirada do meio da palavra Comerz Banck). Pratica uma "arte de recolagem do mundo destroçado", fundamentada nas colagens cubistas mas recorrendo a desperdícios e objectos inúteis do quotidiano para os agrupar segundo um imaginário de extrema delicadeza e sensibilidade à qual acrescia a côr da sua paleta. Eram assim os seu MerzBilder, hoje procurados por autenticas fortunas. Foi assim o seu Merzbau, espécie de construção edificada no interior de um apartamento, destruído pelos bombardeamentos e cuja memória se tornou percursora das modernas e recentes "Instalações"

Duas Personagens Silenciosamente Sempre Presentes

Karl MARX (1818-1883), alemão, filósofo, economista e político. Denuncia a exploração na sociedade capitalista, fundamenta o fim do capitalismo como fase inevitável do processo histórico e define a estratégia política de construção do socialismo. (Selo da URSS, 1958, 75º aniversário da sua morte, YT 2046)

Sigmund FREUD (1856-1939), austríaco, neurologista. Estudou e desenvolveu teorias sobre a camada profunda da nossa mente, o inconsciente. Chama a atenção para a importância da sexualidade infantil. Funda a Psicanálise, com grandes impactos na Psicologia e na Psiquiatria. (Selo da Austria, 1981, 125º aniversário do seu nascimento, YT 1497)


Pela mesma época em que, em Hannover, Kurt Schwiterz apresentava as suas colagens dos objectos mais díspares e casuais (o 1º Merzbild data de 1914), em Colónia, o seu compatriota Max Ernest inicia o seu trajecto artístico com outro tipo de colagens, conjugando figurações provenientes de diferentes contextos, com frases extraídas das mais diversas situações, fundindo tudo numa poética de aparente estranheza e sem sentido e levando à destruição da relação entre a palavra e a imagem.

Lider do Movimento Surrealista

André Breton (1896-1966), poeta e crítico francês. Representado na série de poetas franceses do século XX, 1991, YT 2682

Terminada a 1ª Guerra Mundial, regressam a Paris os maiores artistas de Movimento Dada: Arp, Duchamp, Ernst, Picábia, Man Ray, Tristan Tzara. A eles se junta André Breton, escritor , filósofo, psiquiatra e estudioso de Freud. Surge a revista "Literatura" e é através dela também que surge o fim da Experiência Comum do Dadaismo com o conflito que entretanto opôs Tzara e André Breton em 1922 e que haveria de dar lugar ao nascimento do Surrealismo. Um pouco na sua base estaria a crítica ao carácter destrutivo, anarquista e niilista do primeiro dos referidos movimentos que tudo negava e nada afirmava. Que não sugeria alternativas. Se de facto isso tem um fundo de verdade, também é verdade que sem a espícula irritativa do escândalo dadaísta seriam inimagináveis muitos dos desenvolvimentos posteriores da história de arte, como a arte conceptual, a arte informal e a arte "pobre", sem falar, naturalmente, na sua filiação mais directa, na sua verdadeira herança que seria o surrealismo.

É pois com a revista "Literatura" e com as poetas e ensaístas que à volta da mesma gravitavam -- e de que é justo destacar André Gide (Prémio Nobel), Paul Valery e Louis Aragon - que a personalidade e André Breton se agiganta. Ele próprio companheiro dos Dadaístas já falados da Escola de Paris, deles se vai distanciando na busca de uma sistematização da transgressão. Para ele, o escândalo é um meio para atingir um fim e não um fim em si mesmo. Daqui diferia profundamente de Tristan Tzara que era um dadaista inconsequente, que apenas queria o escândalo pelo escândalo. A rotura com este poeta Romeno e coma aventura que ele representava, era inevitável.

O prelúdio do Surrealismo acontece pois nesta altura (1920-1924), coincidindo cronologicamente, por um acaso quase irónico, com o pensamento nacionalista, com o rigor formalista, de eficácia técnica e produtividade económica, do racionalismo e do funcionalismo, no chamado Ciclo Cultural da Necessidade, conotado, em termos artísticos, com o construtivismo Russo, com o "De Stijl" holandês e com a Bauhaus germânica.

E a ele se opunha com o Ciclo Cultural da Liberdade, apostando na plenitude individual, na autenticidade existencial, valorizando sempre a parte lúdica, irracional e aleatória da vida. Era o "homo-ludens" a opôr-se ao "homo-faber". Era a condenação dos princípios da direita nacionalista (pátria, família, ordem) com a valorização exaltante da "poesia, amor e revolução".

Aos núcleos centrais da poética dadaista, os surrealistas acrescentaram dois pensamentos fundamentais: o psicanalítico e o marxista.

E estes, tantas vezes encarados como dogmáticos, acabarão, no decorrer dos anos, por justificar as roturas e cisões que haveriam de acontecer no seio do grupo, como a seu tempo falaremos.

A influência da psicanálise de Freud, do seu caracter de revelação das forças ocultas do inconsciente, da libertação de uma série de tabus e de imposições vigentes no domínio da sexualidade, levam André Breton e os seus companheiros de aventura à recriação de todos os aspectos da existência humana e que, no domínio artístico, se traduziu na execução de obras cuja componente temática fundamental é evidentemente erótica e cujo resultado técnico mais relevante consistiu em elevar à categoria de método o autoproclamado "automatismo psíquico".

Tuesday, July 29, 2008

MAIO DE 68 E OS SITUACIONISTAS


“A arte está morta, não consuma seu cadáver”.

“Mude a vida transforme seu mode d’emploi”

A Internacional situacionista foi criada em julho de 1957, em Cosio d’Arroscia, na Itália a partir da fusão de 3 grupos: a Internacional Letrista, o Movimento Internacional por uma Bauhaus Imagista e a Associação Psigeográfica de Londres. Ela teve em seus 12 anos de existência 70 membros de 16 diferentes nacionalidades. Mas devido às constantes exclusões (45 dos 70 foram excluídos e 19 desligaram-se) a I.S. poucas vezes teve mais de 10 integrantes simultâneos. Quando questionados sobre quantos eram, os situacionistas davam a seguinte e divertida resposta: “somos um pouco mais que o núcleo inicial de guerrilha em Sierra Maestra, mas com menos armas. Um pouco menos que os delegados que estiveram em Londres em 1864 para fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores, mas com um programa mais coerente. Tão firmes como os gregos da Termópilas, mas com um porvir mais belo”.

A primeira fase da I. S. que vai até o início dos anos 60, ainda está muito marcada pela importância que davam aos temas arte e cultura. O grupo se apresenta como uma “frente revolucionária na cultura”. Para os situacionistas a arte sempre foi a mais alta forma do trabalho criador. E foi na crítica a arte contemporânea que o movimento inicialmente construiu sua crítica a sociedade espetáculo.

Recusavam uma arte fechada apenas nos seus propósitos estilísticos e formais. Queriam uma arte de ambiência, uma arte que negasse o sentido da própria arte, que afirmasse aos homens as impossibilidades contemplativas, uma arte como criação permanente e permanentemente reconstruível. Tinham um ponto de vista dialético da arte, assumindo a tarefa de “superar” a arte, ao abolir a noção de arte como uma atividade especializada e separada e transformando-a naquilo que seria parte da construção da vida cotidiana.

Do ponto de vista situacionista, a arte ou é revolucionária ou não é nada. A superação da arte só viria pela transformação ininterrupta do meio urbano. O que demandava fazer do urbanismo e da arquitetura as ferramentas da revolução do cotidiano. Segundo o programa Situacionista a imaginação deveria tomar de assalto o vazio existencial da cidade, subvertendo um cotidiano cego pelo hábito, restituindo significando aos espaços, despertando um passado mítico.

No período de 1960-61 acontece um grande expurgo dos “artistas” da I.S. que marca a passagem da “fase artística” para a “fase política”. À medida que o grupo se aprofunda em seu projeto de se tornar político, cada vez mais tomam destaque as questões objetivamente políticas, a organização de conselhos operários, a avaliação da nova fase do capitalismo… Os insultos aos surrealistas vão diminuindo, e cresce o número de insultos contra stalinistas, leninistas e intelectuais em geral. Freqüentemente aparentam parodiar os Trotskistas com suas exclusões, rachas, remissões à revolução permanente, hábito de batizar de “congressos internacionais” conversas de bar de 5 ou 6 pessoas.

O Trabalho teórico á que se dedicam Debord e Vaneigem (os dois principais teóricos situacionistas) depois de 1962 faz com que a I.S. se torne levemente discreta no período, o que é apenas um intervalo preparatório para uma nova fase da guerra que eles vêem à frente. A construção de textos com a atenção minuciosa daqueles que fazem bombas, desembocou nos principais livros do grupo, “A sociedade do espetáculo” de Guy Debord e a “Arte de viver para as novas gerações” de Raul Vaneigem, lançados quase simultaneamente no final de 1967.

Em 1966, os situacionistas usam todos os fundos do escritório da UNEF de Strausbourg para a publicação de um caderno intitulado: Sobre a miséria do meio estudantil. Esse texto foi reproduzido em praticamente todas as universidades. Em Nanterre, os estudantes usam o texto para começar sua própria revolta. Um desses estudantes, Daniel Cohn Bendit depois se lembraria: “o texto funcionou como uma espécie de detonador, nós fizemos tudo o que pudemos para distribuí-lo”.

EM 1968 aconteceu aquilo que muitos consideram a grande “obra de arte” situacionista, as revoltas francesas, que marcam o início do fim da I.S. efetivado através de um decreto de autodissolução em 1972. Talvez os mais importantes textos situacionistas sejam aqueles que apareceram nos muros de Paris de 68 como “Não trabalhe jamais”.

Teorias
“A mercadoria nós a queimaremos”.

“Abaixo a sociedade de consumo”.

Foram os situacionistas, e centralmente Guy Debord, que numa mescla de marxismo, anarquismo e surrealismo fizeram a crítica mais certeira à sociedade “espetacular mercantil” onde tudo se associa à mercadoria e essa se dá como espetáculo. Toda a vida é envolta por uma imensa acumulação de espetáculos.

A sociedade do espetáculo é o mundo das pseudo-necessidades, do consumo, o mundo em que o viver tornou-se uma representação caricata espetacular dos bens de consumo, “o mundo em que a cultura é redefinida por um processo de comercialização, transformada num campo de investimentos, especulação e consumo como qualquer outro, criando uma indústria que se esforça por compensar o extremo empobrecimento da vida social, cultural e emocional, arrebatando as pessoas para uma celebração permanente das mercadorias, saudadas como imagens, como novidades, como objetos eróticos, como espetáculo” (Sevcenko). A mercadoria se torna o centro absoluto da vida social e as trocas entre os sujeitos passam a ser indiretas, tendo por intermediária a imagem.

Ao fazer o diagnóstico da deturpação da sociabilidade pela mercadoria eles propõem uma “revolução integral na vida cotidiana” que haveria de reivindicar o viver do tempo histórico, buscando a desmontagem do capitalismo enquanto civilização. Isso aconteceria pela implementação dos conselhos operários, pela autogestão e pela inovação do surrealismo. O surrealismo é revivido sob o signo não conformista absoluto que têm como linguagem os elementos semânticos da revolução, se erguendo contra todos inclusive os revolucionários. Em todos os lugares, sustentavam incondicionalmente todas as formas de liberdade dos costumes, a chamada libertinagem.

Esse coletivo coloca-se não só como o negativo da sociabilidade burguesa, mas também como o negativo daqueles que se antepunham “formalmente” a ela. Ele busca afrontar as vicissitudes dos projetos revolucionários de seu tempo, para anunciar-lhes a derrota antecipada. Para eles as palavras “movimento político” escondem o aparelhamento promovido pelos lideres de grupos e partidos, que se servem da a passividade organizada de seus militantes e da força opressiva de seus poderes. A I.S. repudia o poder hierárquico, sob qualquer forma que se apresente. Logo não é um movimento político clássico.

LUIS BUÑUEL


Mestre do surrealismo no cinema, Buñuel morreu há 25 anos

ALICIA GARCÍA DE FRANCISCO
da Efe, em Madri

Poucos cineastas desenvolveram uma carreira tão coerente e, sobretudo, pessoal, quanto o grande Luis Buñuel, que deixou para a história imagens tão impactantes como a da lâmina cortando um olho ou as formigas saindo de um buraco na palma de uma mão.

Neste dia em que se completam 25 anos de sua morte, na Cidade do México, em 29 de julho de 1983, a obra do "mestre de Calanda", como era conhecido por ter nascido na localidade de mesmo nome no norte da Espanha, é mais difundida do que nunca.

Nascido em 22 de fevereiro de 1900, na Espanha, Buñuel estudou história em Madri, mas foi sua estadia na Residência de Estudantes da capital --onde conheceu Federico García Lorca, Salvador Dalí e Rafael Alberti-- que orientou sua vida em direção à arte, razão pela qual se transferiu para Paris, onde começou a trabalhar no cinema.

Seu primeiro filme, "Um Cão Andaluz" (1929), foi um manifesto do surrealismo à altura de André Breton, e, apesar de seus evidentes erros técnicos, continua sendo, na atualidade, a ostentação da imaginação e originalidade.

Desse filme, de apenas 18 minutos, procedem as duas impactantes e perturbadoras cenas já citadas, que são uma clara mostra da influência dos sonhos nas primeiras obras do cineasta: a do olho cortado por uma lâmina, procedente de um sonho do próprio Buñuel, e a das formigas, saída da capacidade onírica de Salvador Dalí.

Junto com "A Idade do Ouro" (1930), são os dois exemplos mais claros do surrealismo no cinema. Filmes cujo "radicalismo estético se transformou na garantia de seu prestígio cultural", segundo o jornal "The New York Times".

Crítica social

Após esse início radical, Buñuel saltou para um gênero completamente diferente, o documentário, mas elegeu um tema que, apesar de ser realista, não deixava de ser surreal: a situação na região espanhola de Las Hurdes.

O duríssimo documentário de 27 minutos retrata a desoladora situação dessa região espanhola em 1932 e oferece seqüências terríveis como a do enterro de uma criança em seu caixão branco descendo pelo rio.

Embora Buñuel se centrasse depois na ficção, seus filmes sempre estiveram carregados de uma forte crítica social, uma denúncia da situação de grupos marginalizados, como ocorreu com "Os Esquecidos", uma obra-prima pela qual obteve o prêmio de melhor direção e o da crítica internacional no Festival de Cannes de 1951.

Trata-se de um filme rodado em 1950 no México, país para o qual o cineasta foi após a Guerra civil espanhola e depois de viver em Paris e nos Estados Unidos, de onde teve que sair pelas pressões sofridas ao ser acusado de ser comunista por Dalí.



México

No México, rodou alguns de seus filmes mais significativos, como "Nazarín" (1959) --palma de Ouro em Cannes-- ou "O Anjo Exterminador" (1962), com uma volta temporária à Espanha para produzir "Viridiana" (1961), uma dura crítica à falsa caridade.

"Viridiana", que também ganhou a palma de Ouro de Cannes, em 1962, gerou um grande escândalo quando o jornal do Vaticano "L'Osservatore Romano" o chamou de blasfêmia e sacrilégio, o que fez com que a censura espanhola proibisse a obra.

Retorno à França

Após sua fase mexicana, Buñuel retornou à França, onde rodaria os filmes que lhe trouxeram mais prestígio e com os quais alcançou uma enorme sutileza em suas críticas sociais, além de uma maior liberdade criadora devido aos mais e melhores meios técnicos que tinha em mãos.

Com "A Bela da Tarde" (1966) conquistou o Leão de Ouro de Veneza por ser um filme muito avançado no qual Catherine Deneuve interpreta o papel de uma burguesa que é incapaz de manter relações sexuais com o marido e que começa a trabalhar em um bordel para satisfazer seus desejos e fantasias.

A trilogia formada por "A Via Láctea" (1968), "O Discreto Charme da Burguesia" (1972) -que ganhou um Oscar de melhor filme estrangeiro-, e "O Fantasma da Liberdade" (1974) é provavelmente o ápice de sua carreira.

Nem por um milhão

O absurdo se transforma em protagonista destas histórias com as quais Buñuel atacou sem piedade a vida burguesa, especialmente com essa reunião de amigos em "O Discreto Charme da Burguesia".

Seu último filme, "Esse Obscuro Objeto do Desejo" (1977), foi menor em comparação com as obras geniais realizadas anteriormente, mas, da mesma forma que com todas as suas produções, é uma amostra a mais de que Buñuel sempre fez o que quis e contou o que sentia, sem se importar com convenções.

"Não acho que tenha feito algo por dinheiro. O que não faço por um dólar não faço nem por um milhão", reconheceu Buñuel.

O cineasta russo Andrei Tarkovsky disse sobre ele: "A força dominante de seus filmes é sempre o inconformismo. Seu protesto --furioso, sem compromissos e exacerbado-- se expressa sobretudo na textura sensível do filme, e é emocionalmente contagioso".

E "acima de tudo, Buñuel é o portador de uma consciência poética", acrescentou.

Sunday, July 27, 2008

MANIFESTO DA MADRUGADA


Deixei de acreditar nos amanhãs que cantam. Os situacionistas ainda depositam esperança nos Conselhos Operários mas eu sinceramente não estou a ver uma união dos operários nem dos proletários em geral na sua versão abrangente.Aliás, começo a estar descrente em qualquer tipo de união. Tornei-me céptico e egocêntrico, de ego inflamado, dizem alguns.
No partido já diziam que eu não me adequava ao trabalho colectivo. Quase sempre privilegiei o individual em detrimento do colectivo. Quando muito admito a união em pequenos grupos de três ou quatro individuos.
Lautréamont escreveu que a poesia deveria ser feita por todos. Eu acredito no individuo enquanto criador. Acredito que a revolução está dentro da cabeça. Acredito no poeta enquanto espírito livre no sentido nietzscheano. Acredito no poder da imaginação. Acredito na liberdade da criação. Acredito no terrorismo poético. Acredito no xamã.

http://tripnaarcada.blogspot.com
http://xamachama.blogspot.com

Friday, July 25, 2008

BRETON


Nadja, o romance onírico surreal
Pedro Maciel





"Não é o temor da loucura que vai nos obrigar a içar
a meio pau a bandeira da imaginação." (A. Breton)

O movimento surrealista é herdeiro da revolução socialista de Marx e da rebelião romântica de Rimbaud. O poeta tinha a missão de unir em um só ato, a poesia, o amor e a revolta. John Donne diz que, "antes muerto que mudado". André Breton (1896-1966), ideólogo do surrealismo, não mudou de opinião - cultivou ao longo da vida um mesmo sistema de idéias. A paixão e a magia eram fundamentais para a sobrevivência dos mitos e utopias.

Em "Prolegômenos a um Terceiro Manifesto", Breton desabafa: "Enquanto os homens não tomarem consciência da sua condição (...) não vale a pena falar, não vale a pena opormo-nos uns aos outros, ainda menos vale a pena amar sem contradizer tudo o que não seja o amor, ainda menos vale a pena morrer..." Toda a obra de Breton retoma o imaginário de metáforas da própria criação e da "recuperação do ser humano em sua totalidade". O poeta destaca três caminhos para o homem alcançar a harmonia: o amor, a poesia e a liberdade.

"Nadja", romance-colagem, publicado em 1928 (Ed. Imago, tradução de Ivo Barroso), é a prova de uma experiência radical de linguagem e, ao mesmo tempo, é um testemunho de um ser apaixonado: "Por mais vontade que tivesse, e também talvez alguma ilusão, nunca estive à altura do que ela me propunha. Mas afinal, que me propunha? Não importa. Só o amor no sentido em que o compreendo - ou seja, o misterioso, o improvável, o único, o confundível e indubitável amor".

André Breton, narrador-personagem do romance, percorre as ruas de Paris em busca da jovem Nadja. Há encontros do acaso e desencontros planejados. "Nem podia ser de outra forma, considerando o mundo de Nadja, em que tudo tomava imediatamente a aparência da queda ou da ascensão." Ela vaga nos sonhos de Breton. O narrador-personagem, num clima de romantismo fantástico, inventa a misteriosa Nadja para interpretar os seus próprios sonhos.

A narrativa onírica e inconsciente, apóia-se em fotos dos lugares parisienses - sugerindo ao leitor que as histórias são reais. A vida vale pelos sonhos. Hölderlin diz que o homem é um deus quando sonha, um mendigo quando reflete. Nadja apresenta-se de corpo e alma no enredo do romance. O personagem-narrador vê Nadja como "um gênio livre, algo como um desses espíritos do ar que certas práticas de magia permitem momentaneamente fixar, mas em caso algum submeter". Mas Nadja deixa-se enlouquecer pelas excentricidades e é internada no hospício de Vaucluse.

Breton, personagem-autor, aproveita a "deixa" para protestar: "Todos os internamentos são arbitrários. Continuo a não ver por que motivo se privaria um ser humano de liberdade. Prenderam Sade; prenderam Nietzche; prenderam Baudelaire". "Se fosse louco", continua, "aproveitaria o impulso do delírio para assassinar o primeiro - médico, de preferência - que me caísse nas mãos. Ganharia com isso pelo menos, como acontece com os loucos furiosos, o privilégio de ocupar um compartimento sozinho. Talvez assim me deixassem em paz".

"Nadja" é um romance autobiográfico, narrado através da escrita automática, da alucinação e delírio. E nos transporta para além da ficção.

Trecho de "Nadja", de André Breton
"No instante de deixá-la, quero fazer-lhe uma pergunta que resume todas as demais, uma pergunta que somente eu seria capaz de fazer, sem dúvida, mas que, pelo menos desta vez, encontrou resposta à altura: 'Quem é você?' E ela, sem hesitar: 'Eu sou uma alma errante.' Combinamos nos encontrar no dia seguinte no bar que existe na esquina da rua Lafayette com o faubourg Poissonnière. Diz que gostaria de ler um ou outro dos meus livros e insiste quando sinceramente ponho em dúvida o interesse que possa ter por eles. A vida é diferente do que se escreve".

Já deste a tua contribuição de hoje
para a sociedade do espectáculo?
És feliz no papel de mercadoria?
Quantas imagens consumiste hoje?
Consideras-te um espectador fiel?
Vendes-te alegremente no mercado?

Monday, July 21, 2008

FARC


Los Comandantes de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (Farc) Rodrigo Granda y Jesús Santrich reiteraron su posición ante el pueblo y el conflicto colombiano.

En un documento publicado en el portal web Bolívarsomostodos, ambos comandantes farianos manifestaron que "empeñarán sus vidas de ser necesario" con el fin de "no defraudar a quienes creen en las luchas de los pueblos".

A continuación el texto completo:

CARTA A NUESTROS HERMANOS DE LUCHA

Escrito por Rodrigo Granda y Jesús Santrich.

jueves, 17 de julio de 2008

"Dichosísimo aquel que corriendo por entre los escollos de la guerra, de la política y de las desgracias públicas, preserva su honor intacto".

Simón Bolívar.

Estimados compañeros, militantes y simpatizantes de nuestra causa revolucionaria por la Nueva Colombia, el Socialismo y la Patria Grande.

Con un saludo fariano, marulandista y bolivariano reciban nuestro optimismo en el presente de lucha y algunas consideraciones que en principio estaban destinadas a ser compartidas con los camaradas de nuestro firme Partido Comunista Clandestino y especialmente con nuestros prisioneros de guerra que se encuentran en las cárceles de Colombia y en el exterior, pero que con certeza tendrán mejor destino si también llegan a las conciencias y los corazones de esa extensa comunidad de copartidarios, colaboradores, aliados y simpatizantes bolivarianos que sostienen la esperanza en un pronto futuro mejor para los pobres de la tierra.

Apreciados Quijotes de la comunera parcela de José Antonio Galán; perseverantes de la Colombeia de Miranda; queridos compatriotas también de la América Nuestra. En medio de muchas circunstancias favorables y adversas, vicisitudes luctuosas algunas…, y en todo caso en la estrada del combate por el poder para los oprimidos, por el que hemos jurado vencer, con la certeza de que venceremos, hemos recibido con satisfacción las voces de respaldo y de fe absoluta que ustedes han ratificado, sin dilaciones, por las FARC-EP y por el proyecto que juntos llevamos adelante, sobre todo la reafirmación en los principios como en los propósitos, en las vías y en las formas de alcanzarlos en esta hora en que muchos desearían vernos en la ruta de la claudicación.

Queríamos expresar sobre los documentos que por diversas rutas nos han hecho llegar para el estudio, que la mayoría son críticos, y al mismo tiempo solidarios, sin adulaciones pero con apropiado reconocimiento, sobre todo los de compañeros dignos y respetables como lo son James Petras, Domingo Alberto Rangel, Vladimir Acosta, Narciso Isa Conde, Dax Toscano, Duglas Bravo…, Heinz Dieterich, entre muchos y muchos otros consecuentes revolucionarios y pensadores honorables, lo mismo que organizaciones sociales y políticas, que han expresado sus condolencias y opiniones alrededor de la muerte del Comándate en Jefe Manuel Marulanda Vélez y sobre las circunstancias que rodean la lucha de resistencia de las FARC-EP. Creo que todos ustedes en la ciudad y nosotros en la montaña, estamos llenos de gratitud, por la manera como han bien ponderado nuestra lucha como factor necesario y expresión del decoro de los pueblos, que como el colombiano combaten contra un régimen pérfido y criminal.

Hay que reconocer que se requiere independencia intelectual, criterio propio, entereza moral y valentía además, para adoptar juicios rectos y categóricos como los de estos compañeros, en momentos en los que es lo más cómodo, de ventaja, conveniencia y muy común la hipocresía, la ponderación falsaria…, y todos esos retruécanos con los que se suele manosear la realidad sin asco de arrastrar los principios para mostrarse revolucionario mientras se es oportunista, sobre todo cuando se aprovecha sinceras pero equívocas posiciones de buena fe que han venido de probados buenos hombre y mujeres, gobernantes o no, que claman por el desarme de las insurgencias anti oligárquicas y anti imperialistas, creyendo que ese es el camino para encontrar la anhelada paz para los oprimidos.

No vamos a retomar ahora los argumentos de los mencionados por que creemos que además de que han sido bastante difundidos y de manera magistral expresados, como suelen hacerlo con esa buena escritura que tienen por espada, ustedes ya los habrán debatido suficientemente. Sólo queremos decir que como revolucionarios, los guerrilleros de las FARC, tratamos de aplicar el principio de la crítica y la autocrítica con ecuanimidad, de manera constructiva, y nos complace escuchar con atención a quienes nos enaltecen señalándonos los errores o lo que ellos creen que es desacierto o inconveniencia. Detestamos sí la adulación tanto como el oportunismo, y como el poeta Juvenal Herrera pensamos también en que es el silencio la cobardía de los intelectuales; por ello valoramos mucho más las palabras que con valentía salen a combatir en el terreno de la lucha ideológica, sobre todo cuando la asquerosa unipolaridad que pretenden los fundamentalistas del gran capital, impone por la fuerza y con el engaño mediático el unanimismo pernicioso que conviene a los déspotas, en el que individuo y sociedad son un todo, pero sumiso a los dictámenes de las trasnacionales.

Queremos dejar bien en claro la posición determinante que seguramente quienes siempre han confiando en nosotros la conocen, y es que empeñaremos nuestras vidas, como en efecto lo estamos haciendo, en no defraudar a quienes creen en las luchas de los pueblos, a quienes como ustedes respaldan la necesidad de la lucha armada en las circunstancias que rodean a los pobres de Colombia, y de otros pueblos pisoteados por la bota militarista y usurera de los yanquis y de sus émulos, acólitos y cómplices en la desbocada rapiña neo colonial.

No seremos inferiores al mayor compromiso que nos inspira la fe de aquellos que sin temer a las estigmatizaciones de la infame guerra antiterrorista, han levantado su voz contra los verdaderos terroristas del planeta y en especial contra aquellos que desde la Casa Blanca tienen ya en vilo la existencia de la humanidad, porque efectivamente somos lo que con sangre y vidas hemos jurado ser: soldados de Bolívar, indios bravos como Lautaro, Tupac Amaru, La Gaitana…, Calarcá; ¡guerrilleros de Manuel hasta la victoria o hasta la muerte! Somos luchadores con principios, comunistas convencidos, que asumimos con orgullo y persuasión absoluta el combate por la liberación y la justicia social. No deshonraremos el altar sagrado de nuestros muertos, no seremos indignos de su sangre que se derramó para que se mantenga la esperanza, no rebajaremos el sacrificio de Bolívar ni el de Martí, como el de ninguno de nuestros próceres de la independencia y la libertad, porque preferimos un San Pedro de Abanto a una paz de Zanjón; un Manifiesto de Montecristi, un Grito de Yare o un Grito de Baire, un 19 de mayo en Boca de Dos Ríos…, un octubre en la Higuera, un septiembre en La Moneda abrazando ametralladora y convicciones antes que rendición; un sablazo en Ayacucho, la suerte del Negro Primero en Carabobo, el destino de Caamaño en San José de Ocoa, el camino de Avelito Santa María, evocar a Mariguela, la senda de Carlos Fonseca Amador y Farabundo Martí, las cananas de Zapata y de Sandino, la suerte de Atanasio Girardot, de Raúl Reyes e Iván Ríos, la persistencia de Jacobo Arenas, partir en átomos al lado de Ricaurte en San Mateo…, al Charle Magne Peralte que isa la dignidad Haitiana, el ejemplo del imbatible Manuel Marulanda Vélez… en fin, partir entre humo y metralla, una muerte en combate, que una claudicación del pensamiento, porque también nosotros creemos en que la ley primera debe ser "el culto a la dignidad plena del hombre" y actuamos con la máxima de que "Al acero responda el acero, y la amistad a la amistad", según lo expresara el Apóstol de las Antillas, pues a nosotros también se nos ha enseñado lo que pensaba el Titán de Bronce en cuanto a que "la libertad no se mendiga sino que se conquista con el filo del machete…" o aquello que decía el Che en cuanto a que "en una revolución se triunfa o se muere si esta es verdadera".

En nombre del fusil de Fabricio Ojeda, en nombre de Albizu Campos y los macheteros de Filiberto Ojeda, en nombre de Camilo Torres, cura y guerrillero; en nombre de los héroes del Moncada y de Alegría de Pío, en nombre de los sufrientes del Cuartel San Carlos, en nombre de los mártires de la embajada japonesa en el Perú, en nombre del comandante Cerpa Cartolini y de cada guerrillero y revolucionario que ha entregado su vida por el sueño de la emancipación…, en nombre de los sueños y de cada gota de sangre de los combatientes caídos en Nuestra América por evitar el yugo de los opresores es que juramos que no seremos nosotros quienes arriemos sus espadas, sus lanzas, sus machetes, sus fusiles y sus banderas. No seremos nosotros, NO y mil veces no quienes bajemos las armas de Marulanda, las armas del pueblo, que se han levantado por la emancipación.

Hay ciertas concesiones inadmisibles entre revolucionarios, pues definidos estamos no sólo como marxistas-leninistas sino como bolivarianos, y en tal compromiso no estamos dispuestos sólo a lograr lo que se nos manifieste asequible sino lo que nos imponga la conciencia por deber. Como en la gesta del Libertador, "es imperturbable nuestra determinación de independencia o nada" y así, en el mejor sentido bolivariano reiteraremos como constante que, cuando la opresión no deja más alternativa, la insurrección, la guerra de liberación, constituye el legítimo recurso de los pueblos para lograr la libertad.

Estamos en una confrontación que no ha de cesar mientras no se acabe con las profundas causas sociales que la engendraron o se instaure un nuevo poder que establezca la justicia social. Entretanto se nos presentarán éxitos que no nos deben envanecer y reveces que son propios de este tipo de lucha que hemos emprendido obligados por la perfidia de este régimen del terror…, pero en nada nos deberán perturbar las adversidades; de ellas sólo debemos sacar las experiencias que también nos aporten para desbrozar el camino de la victoria, pues como expresaba el Libertador "El hombre de bien y de valor debe ser indiferente a los choques de la mala suerte".

Somos marulandistas; es para nosotros un orgullo haber sido y seguir siendo guerrilleros de Manuel, perseverantes, optimistas, íntegros, sencillos y desinteresados, como él. Y para quienes nos reprochan por nuestra condición insobornable en el desenvolvimiento de la táctica de la combinación de las formas de lucha, creyendo que es posible lograr una transformación pacífica de su entorno social a favor de los desposeídos, no podemos menos que expresarles nuestros mejores deseos en su loable causa; pero al mismo tiempo reiteramos ante la faz del mundo que no somos nosotros quienes hemos empujado a Colombia a la guerra sino aquellos que no permiten que el pueblo tome la senda de la democracia y de la paz en la definición de su destino.

Por nuestras convicciones sólo nos es dable estar por la Colombia Nueva más que por nuestras propias vidas, de tal suerte que si alguien ve improbable vencer que sepa que nadie nos podrá negar el derecho de morir por un mundo mejor en nombre de todos quienes lidian por su emancipación en medio de la guerra sucia y el terrorismo de Estado imperial y criollo.

Nunca faltan los Judas, que se dejan sobornar por unas cuantas monedas de oro o por dádivas y promesas de cualquier tipo. Pero lo fundamental es que la codicia siempre será tenida como un asco entre los verdaderos revolucionarios.

Es preferible sin duda mantenerse en una guerra de resistencia por la dignidad, la justicia y la libertad que mantenerse sumiso a la tiranía que como bien lo expresó Bolívar es el compendio de todas las guerras.

Había escrito Lenin alguna vez refiriéndose a quienes sostenían la posición política del desarme aduciendo que tal reivindicación era la expresión más franca, decidida y consecuente de la lucha contra todo militarismo y contra toda guerra, que "precisamente en este argumento fundamental reside la equivocación fundamental de los partidarios del desarme.

Los socialistas, - decía Lenin- si no dejan de serlo, no pueden estar contra toda guerra.

En primer lugar, los socialistas nunca han sido ni podrán ser enemigos de las guerras revolucionarias. La burguesía de las "grandes" potencias imperialistas es hoy reaccionaria de pies a cabeza, y nosotros reconocemos que la guerra que ahora hace esa burguesía es una guerra reaccionaria, esclavista y criminal. Pero, ¿qué podría decirse de una guerra contra esa burguesía, de una guerra, por ejemplo, de los pueblos que esa burguesía oprime y que de ella dependen, o de los pueblos coloniales, por su liberación?" (…) ¿Desde aquellos tiempos de la valerosa resistencia bolchevique habrá cambiado, compañeros, la esencia criminal, "reaccionaria de pies a cabeza", de esas burguesías imperialistas? ¿Cómo se han conquistado los cambios favorables para los oprimidos, incluso en procesos cuyos conductores, en varios casos, dan votos por el desarme?

Falta mucho trecho de lucha aún por los desposeídos en el mundo; son más los escenarios del orbe donde se mantiene y crece la explotación con más saña y avaricia que nunca, que aquellos donde se profundiza la emancipación; de tal manera que no hay más que decir con Lenin que "Sólo cuando hayamos derribado, cuando hayamos vencido y expropiado definitivamente a la burguesía en todo el mundo, y no sólo en un país, serán imposibles las guerras. Y desde un punto de vista científico sería completamente erróneo y antirrevolucionario pasar por alto o disimular lo que tiene precisamente más importancia: el aplastamiento de la resistencia de la burguesía, que es lo más difícil, lo que más lucha exige durante el paso al socialismo. Los popes "sociales" y los oportunistas están siempre dispuestos a soñar con un futuro socialismo pacífico, pero se distinguen de los socialdemócratas revolucionarios precisamente en que no quieren pensar ni reflexionar en la encarnizada lucha de clases y en las guerras de clases para alcanzar ese bello porvenir".

En el caso de las FARC, que desenvuelven su lucha en medio de las peores atrocidades que contra el pueblo desatan las oligarquías, jamás condenaremos ni desistiremos de la insurrección armada porque es, al menos en nuestras circunstancias terribles de sobre vivencia en Colombia, la manera que nos garantiza poder hacer verdadera resistencia a tan sanguinaria autocracia, a tan vil tiranía y a tan macabro terrorismo de Estado impuesto por las oligarquías que atienden los mandatos de Washington.

Aunque la resistencia popular colombiana que es donde se inscribe cada esfuerzo de las FARC como pueblo en armas, aún con su sacrificado heroísmo, a veces pareciera una lucha en solitario, lo cierto es que por estos días, con tanta expresión de apoyo y solidaridad, lo que tenemos es la constatación de que en ella se congregan los anhelos de millares y millares de compatriotas de la América Nuestra, de millares y millares de sojuzgados que sienten que en nuestras banderas, en nuestros lutos, en nuestros fusiles se expresa su propia lucha y sus propias esperanzas de justicia y Patria Grande.

Entonces, ¿está la lucha de los pobres de Colombia y de las FARC como su legítimo puño armado marchando en solitario contra el mundo entero?

¡No! porque son sin duda también la expresión sentida de aquellos que en cualquier rincón del planeta no tienen la posibilidad del acogimiento mediático ni del lisonjeo capitalista. De todos ellos nuestra lucha de alguna manera es aliciente de su fe en la posibilidad de la resistencia y del triunfo de los desposeídos.

El imperialismo siempre tendrá pretextos para alimentar su avaricia. Cuando no los tiene los inventa. Así que está fuera de lógica responsabilizar de su perfidia, su tiranía y sus agresiones a quienes resisten por su derecho de defender su sobre vivencia y su dignidad. Por lo demás todo aquel que pretenda oponerse a los designios de Washington será tildado de terrorista, de tal suerte que quien persista en la posición serafínica de que es el abandono de los fusiles lo que nos traerá la paz no estará más que actuando como aquellos que buscan la causa de la fiebre en las sabanas y al final podrían terminar convencidos de que con tal de vivir no importa permanecer arrodillado.

Nosotros tenemos frente a estas posiciones el mismo convencimiento del Libertador en cuanto a que no importa perecer con tal que sobre viva un pueblo.

Tenemos certeza de la justeza de nuestra lucha, de la pertinencia de las vías y las formas y de la posibilidad del triunfo; pero ni aún estando en la circunstancia de perderlo todo cejaríamos en nuestro empeño porque nuestro rumbo es el de colmar el cumplimiento del deber a costa de todo.

Sabemos que la victoria solo es posible con la constancia, sobre todo cuando lo que se profesan son sentimientos de profundo amor al pueblo; sabemos que "el gran poder existe en la fuerza irresistible del amor". Combatimos con fe, lo hemos abandonado todo por la causa de los pobres y en ese camino nos preguntamos, ¿desde cuando contra los canallas no se pueden utilizar, sin rebajarnos a la perversidad, las armas que usan ellos mismos; desde cuando esa máxima bolivariana asusta a los bolivarianos?

No es admisible para un verdadero revolucionario existir por existir, es en la lucha donde se debe concebir el modo propicio de la existencia. Y en esa convicción estamos. Ya hemos dicho que "Hoy, como sucede desde medio siglo atrás, los dueños del poder, de las haciendas y del dinero organizan bandas criminales encargadas de agredir al pueblo y sembrar el terror en la población, paralelas y siamesas de las fuerzas policiales y militares oficiales, para eternizarse como gobernantes, nutridos en esta oportunidad con las inagotables finanzas del narcotráfico y conformando así un Estado paramilitar y mafioso de características fascistas", y que es por todo esto que "hoy, al igual que hace medio siglo, la ilegitimidad del Régimen y el terror del Estado dan vigencia al alzamiento popular y convalidan ante el mundo el sagrado derecho del pueblo colombiano a la rebelión"( del Manifiesto de las FARC, enero de 2007).

Nada nos detendrá, ni las calumnias, ni el concejo del apaciguamiento, ni las posturas derrotistas, ni las intrigas, desconsideraciones y felonías de los ingratos, desleales y traidores.

Sabemos que tenemos que batallar contra el imperio pero también deberemos sortear las emboscadas de los perjurios y las defecciones que se suelen dar en el escenario de algunos de nuestros propios aliados de causa, y que es en las adversidades cuando mejor se puede identificar la firmeza de los propios y la verdadera amistad, como también dentro de ellas es cuando más se desbocan los insidiosos, pues bien sabido es que "más hace un intrigante en un día que cien hombres de bien en un mes". De tal forma que no solo tendremos que sobreponernos a traiciones, insolidaridad de muchos y obstrucción de otros sino que deberemos incluso, seguramente, escuchar las ignominias del imperio en boca de no pocos de los que se dicen nuestros amigos.

Este gobierno y muchos enemigos y hasta amigos verdaderos, han confundido nuestra generosidad con debilidad sin percatarse que quien actúa con venganza lo que hace es escalar las calamidades. Nuestra praxis es la sensatez; nosotros sabemos y lo tenemos por conocido de la práctica que "en las revoluciones como en las guerras, hay contratiempos indispensables", y que es fácil mirar desde el puerto la tempestad y parlotear sin considerar las vicisitudes del que navega en alta mar. Dejemos que parloteen y concentrémonos en lo que nos imponen el deber, nuestros principios y certezas sin caer en esas trampas que se urden cuando se enreda en la diplomacia los conceptos morales y políticos colocándolos en contradicción los unos con los otros hasta hacer al fin de la primera el compendio de la hipocresía. Nosotros con nuestros amigos, independientemente de lo que ocurra, siempre deberemos mantener por sentimiento y convicción el respeto y la consideración. Y con nuestros enemigos, la altura y la dignidad.

El colombiano, pueblo al que pertenecemos como pueblo en armas, siempre nos ha brindado la luz y la esperanza que alimenta nuestras convicciones, así que, como lo indica el Libertador, ha nada hemos de temer si el pueblo nos ama, y como siempre y ahora más que nunca, si en esta hora la América necesita del pueblo en armas para luchar contra el imperio, sin duda estará en los fusiles de las FARC el combate por el continente todo hasta las últimas consecuencias, pues ciertos estamos que nunca se nos arrancará nada por la fuerza o el chantaje y que frente a la perfidia no claudicaremos jamás, independientemente de la magnitud de las dificultades, porque preferiremos siempre la muerte a la existencia deshonrosa, la muerte a la expatriación , la muerte a la sumisión, la muerte a la triste resignación.

¡Por la Nueva Colombia, la Patria Grande y el Socialismo, hasta la victoria siempre!

¡Hemos jurado vencer y venceremos!




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FARC piden a Ortega reunión para tratar asuntos de la guerra y de la paz

O programa para abolir tudo o que é separado do individuo- a ecomomia, o Estado, a religião, as obras de arte- para que ele possa ter acesso directo à construção da sua vida quotidiana é, sem dúvida alguma, um programa que prossegue a obra de desmistificação encetada por Marx e Freud.
(Anselm Jappe, "Guy Debord")

Saturday, July 19, 2008

DA CARLA

road movie

Uma tenda à beira rio, uma revolução, opressão
medo, desfragmentação lutar, combater pensar à frente
brincar experienciar
criar revolucionar
intervir, educar, dar cor
o universo do sonho,
a dimensão alucinante
uma revolução para fazer
um sonho a defender,
a liberdade, foda-se !

http://voodooexperience.blogspot.com

Friday, July 18, 2008

OS TRIBUNAIS TAMBÉM SÃO UMA PALHAÇADA

Major condenado por abuso de poder e prevaricação
Valentim Loureiro e Pinto de Sousa absolvidos dos crimes de corrupção
18.07.2008 - 12h14 Lusa, PÚBLICO
O Tribunal de Gondomar absolveu Valentim Loureiro e Pinto de Sousa dos crimes de corrupção. O major foi condenado pelos crimes de abuso de poder e prevaricação e Pinto de Sousa por abuso de poder, durante a leitura da sentença esta manhã. Castro Neves, vereador da Câmara de Gondomar e director do Departamento de Futebol do Gondomar SC, foi absolvido de todos os crimes de que estava indiciado.

Valentim Loureiro foi condenado por 25 crimes de abuso de poder, o que lhe valeu uma pena de dois meses de prisão por cada um dos crimes. A condenação por prevaricação ditou-lhe a perda do mandato autárquico, situação que só terá efeito quando a sentença transitar em julgado. Ainda não se sabe se o antigo presidente do Boavista vai recorrer da sentença.

O tribunal suspendeu a pena de prisão de Loureiro, pelos crimes de abuso de poder, por três anos e dois meses. A pena de Pinto de Sousa, condenado por 25 crimes de abuso de poder, foi suspensa por dois anos e três meses.

José Luís Oliveira foi condenado por abuso de poder e corrupção desportiva activa. A pena única de três anos de prisão foi suspensa por igual período.

Nos casos dos observadores de árbitros Barbosa da Cunha e João Soares Mesquita, os juízes entenderam que nem sequer deviam ser acusados.

Thursday, July 17, 2008

OLHA O ROBOT!



O poeta e cantor dos UHF, António Manuel Ribeiro, escreveu na canção: "Mais um dia sem remédio/mais um dia sem emprego/ mais um dia desespero/ há-de alguém pagar o preço/ Estou em guerra/ faca afiada/ aqui à espera/ não vejo nada. /só me resta lixar o mundo/ estou contra todos e contra tudo." ("Cavalos de Corrida- A Poética dos UHF).
Ancorado numa roupagem de rigor, seriedade e eficácia, o primeiro-ministro José Sócrates não é mais do que uma farsa.
Sócrates governa contra os desempregados, contra os pobres, contra os reformados, contra os operários, contra os professores, contra a Função Pública, contra o proletariado e o "luppen" proletariado.
O primeiro-ministro governa, ao invés e sem qualquer pudor, ao lado de Belmiro de Azevedo (aliás, ele e os seus ministros fazem questão de aparecer sempre ao lado do mega-empresário na fotografia...), de Balsemão, dos senhores das OPAS, dos banqueiros dos lucros astronómicos, dos empresários do "Compromisso Portugal", de Cavaco, de Durão Barroso e até de Bush.
A sua pose pretensamente determinada, mas, no fundo, arrogante, robótica, intolerante, inerte, "tecnológica" lembra a de alguns ditadores que passaram e passam pela História.
Sócrates é uma fraude, um protótipo desprovido de humanismo.
Os apupos e vaias que tem ouvido na rua são prova disso.
A atitude gélida e autoritária de Sócrates perante o drama quotidiano dos seus concidadãos em dificuldades, a ausência de sentimentos em função da paixão pornográfica pelo défice e a reverência sadomasoquista pelas sacrossantas leis do mercado e da exploração capitalista, já metem dó.
Falta dar-lhe o "ré" e o "mi".
Mas, para tal, não bastam as críticas que os partidos de esquerda (sobretudo o BE) lhe dirigem- frouxas, insuficientes, não tendo sequer o objectivo de derrubar o governo.
A revolução nunca se fez no Parlamento.
Sócrates não presta.
Merece cair na rua.
E pode cair se nós, os proletários de hoje, nos unirmos na rebelião, sem embarcar em protestos meramente corporativos.
Até porque já pouco há a perder.
Lí por aí

«A videovigilância em zonas públicas ao ar livre foi já autorizada, não sendo de admirar que as câmaras proliferem como cogumelos (há gente que acha que é assim que se acaba com o vandalismo; preferem a Polícia à Educação).»





Américo Rodrigues, em Café Mondego

publicado por manuel a. domingos às 21:09 0 comentário(s) ligações

Homem,
vê no que te tornaste
numa mercadoria que se compra e vende
vendes a mercadoria que é a tua força de trabalho
troca-la por outra mercadoria, a pior de todas,
o dinheiro
compras a mercadoria que é o lazer
estás à venda no mercado
tal como as batatas, os detergentes, as melancias
espectador, limitas-te a contemplar o espectáculo
és sempre comandado por outros
alienado
consomes
e se não consegues consumir
ficas na mesma na merda

Homem,
vê no que te tornaste,
num farrapo.

Wednesday, July 16, 2008

MANIFESTO ANTI-SÓCRATES


)

Topic: Manifesto Anti-Sócrates (adaptado do Manifesto Anti-Dantas)


Basta Pum! Basta!
Um Povo que consente deixar-se governar por um Sócrates, é um Povo que nunca o foi!
É uma resma de proxenetas e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo o Eleitorado!
Caia Sócrates, caia Pim!
Um Povo com um Sócrates a cavalo, é um burro impotente!
Um Povo com um Sócrates à proa, é um canoa em seco!
O Sócrates é um Tirano!
O Sócrates é meio Tirano!
O Sócrates saberá Gramática, saberá Sintaxe, saberá inglês, saberá fazer negócios para Capitalistas, saberá tudo menos Política, que é a única coisa que ele faz!
O Sócrates é um habilidoso! O Sócrates faz birrinhas! O Sócrates é Sócrates!
Caia Sócrates! Caia Pim!
E o Sócrates tem claque! Tem palmas! E agradece!
O Sócrates é mil vezes Tirano!
Não é preciso disfarçar-se para ser salteador! Basta governar como o Sócrates, basta não ter escrúpulos, nem morais, nem governativos, nem humanos! Basta andar com as modas e as opiniões!
Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar gravata e olhos meigos!
Basta ser Judas! Basta ser Sócrates!
Caia Sócrates! Caia Pim!
O Sócrates nasceu para provar que nem todos os Políticos sabem governar!
O Sócrates é um Fascista que deita para fora o que a gente já sabe que vai saír! Mas, é preciso deitar dinheiro!
O Sócrates é uma Lei dele próprio!
O Sócrates é a anulação da consciência!
Se o Sócrates é português, eu quero ser cubana!
O Sócrates é a vergonha da Política portuguesa! O Sócrates é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Sócrates! E ainda há quem lhe estenda a mão! E quem lhe lave a cara! E quem tenha dó do Sócrates! E, ainda há quem duvide de que o Sócrates não vale nada, não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem Zero! É menos Zero!
E fique sabendo o Sócrates que se um dia houver Justiça em Portugal, todo o País saberá que o criador da PIDE é o Sócrates, que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Salazar!
E fique sabendo o Sócrates, se todos fossem como eu haveria tais munições de moções de censura que levariam dois séculos a gastar!
Mas, julgais que isto se resume há Política portuguesa?
Não! Mil vezes não!
E a demência de Portas! E as infelicidades de Menezes! E o talento insólito de Louçã! E as opiniões do ilustríssimo excelentíssimo senhor António Vitorino! E as imbecilidades do Peres Metello! E as vaidades do Sócrates!
E os Jornalistas do Público, e do DN, e do Correio da Manhã! Todos os Jornais!
E os Comentadores de todos os canais de Televisão! E todos os Artistas de Portugal de quem não gosto! E a estupidez do Pacheco Pereira! E todos os Eventos anuais, deportivos e culturais e outros que tais!
E os Mellos, os Berardos, os Belmiros, os Jardins Gonçalves, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os vendidos, os imbecis, os corruptos, os ladrões, os mentirosos, e todos os Diabo que os leve! E todos os Sócrates que houver por aí!
E as convicções urgentes do Homem Cristo Pai, e as convicções absolutas do Homem Cristo Filho!
E tudo! Tudo por causa do Sócrates!
Caia Sócrates! Caia!
Portugal que com todos estes Senhores conseguiu a classificação do País mais atrasado da Europa, e de todo o Mundo! O exílio dos degradados e dos indiferentes! O entulho das desvantagens e dos sobejos!
Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável - e então gritará comigo a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de novo!
Caia Sócrates! Caia Pim!
Reply | Report Abuse Posted by alessandra guevara

Saturday, July 12, 2008

ODISSEIA NO NOVA EUROPA


A ODISSEIA NO NOVA EUROPA

Acordo de manhã e sinto-me um conquistador. A saúde esplêndida. Sou o rei punk que regressa enquanto o Rocha hiberna. Bues de fixe altamente como a Carlinha. A cidade onde nasci é bela e cinzenta. A gaja do café limpa os vidros. O Manuel controla. Até me apetecia beber uma cerveja. Mas não o vou fazer. Não preciso. Sou o rei punk que regressa. No alto da barca. A vida sorri como nos anúncios. Mas sei que se escapa aos bocados. Aos poucos, não sobra nada. Sobras tu amor perdido na aldeia. Amor perdido em Braga. Coxas, voz doce, bandeja, "Astória". Era em Braga que deveria estar. Uma vez mais. Rei punk na tua imagem. Cinto desapertado, cowboy que chicoteia. Quanto te vir quero um beijo, um beijo louco na boca. E o Rocha que hiberna. E tu, loirinha, no "Púcaros". E tu no filme da poesia. No concerto cancelado da banda. "Loirinha". Sabes que temos uma canção chamada "Loirinha"? E o teu poema é o "Trip na Arcada". Sim, deveria estar em Braga à tua procura. Menina que vens do Gerês e entras na cama. Que me dás o amor e a vida.
Agora sim, estou possesso. Li dois livros de madrugada. Um sobre os Clash e outro de Eduardo Lourenço. Rei punk. Punk aristocrata. Eis a súmula. E o Manuel carrega as águas. E o Rocha que não sai da cama. 11:20. Nova Europa. Estou só e não preciso de ninguém. O pasteleiro carrega os bolos. Falta o Rocha para analisar os golos. Estou speedado demais para este pessoal. Estou noutro comprimento de onda. E o Aires e o Macedo que se cuidem. Rei punk. Poeta punk. Com o António Variações no ar. Estou com um speed do caralhão. Até me apetece discursar acerca do Estado da Nação. Anda apanhar-me agora, ó bardo da corte. Podes vir de fato e gravata e pastinha na mão. Anda apanhar-me que eu estou para lá. E tu, musa do Velvet, nunca mais te vi. Poeta punk. Vomito poemas ao som dos Clash. Sandinista! Combat Rock, London Calling. E os engravatados abandonam o café apavorados. Coitados, fogem de mim. Estou cheio de pedal. Até apareço no Telejornal. E o Rocha sempre a xonar. Eu produzo e os outros xonam. Como tu, Xoninhas, no Funchal. E tu, na rádio, a gozar. Sinto-me uma estrela. Ah!Ah! De novo, a estrela. Rei punk. Poeta punk. Há tanto tempo que não danço. Nietzsche deve andar satisfeito comigo, o Jim também. Não, não fui feito para linhas rectas nem para quadrados, nem para a razão. Sou do outro lado. Do lado louco, do lado subversivo, do lado punk. Rei punk. Um punk com maneiras. Um punk à maneira. É este o manifesto que fica. Até o Manuel já sorri. Sou doido. Absolutamente doido. Estou-me a despir perante vós. Não importa. Já passei por muita merda. E o Rocha permanece na cama. E se tu me desses um beijo? Quem vem amar-me ao palco? Hoje estou na companhia do divino marquês. Não há limites. O mundo começa hoje. Rei doido. Rei punk. Rei anarquista aos papéis em Paredes de Coura. Ouço vozes. Delírios. Alucinações.
Odisseia no "Nova Europa". Idade do ouro. E o Quim pede um queque. E o Rocha a dormir. E a gaja agarrada à loiça. Estou aqui a expôr-me. E daí? São 11:35. Estou no "Nova Europa". O destino da Humanidade passa por aqui. O padre renegado trata-me por rapaz. E eu rejuvesneço 20 anos. Ou talvez 2500. Volto à Idade do Ouro. À maravilha da criação. Zaratustra dança comigo e com as Bacantes. Dionisos punk. Quem vem amar-me? Hey! Isto é um happening. Dança! Sou o rei punk. Sou absolutamente sem limites.

Thursday, July 10, 2008

ANTÓNIO JOSÉ FORTE


Retrato do Artista em Cão Jovem

Com o focinho entre dois olhos muito grandes
por trás de lágrimas maiores
este é de todos o teu melhor retrato
o de cão jovem a que só falta falar
o de cão através da cidade
com uma dor adolescente
de esquina para esquina cada vez maior
latindo docemente a cada lua
voltando o focinho a cada esperança
ainda sem dentes para as piores surpresas
mas avançando a passo firme
ao encontro dos alimentos

aqui estás tal qual
és bem tu o cão jovem que ninguém esperava
o cão de circo para os domingos da família
o cão vadio dos outros dias da semana
o cão de sempre
cada vez que há um cão jovem
neste local da terra

Tuesday, July 08, 2008

TERRORISMO POÉTICO


TERRORISMO POÉTICO
Hakim Bey



DANÇAR BIZARRAMENTE A NOITE INTEIRA em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém & o faça feliz. Escolha alguém ao acaso & o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna - digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário & talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.

Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc.

Fique nu para simbolizar algo.

Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência & beleza espiritual.

A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô & sóbrios monumentos públicos - a arte - TP também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques & restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco...

A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é "assinado" ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas & previsíveis.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.

Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vnto, etc.) elementos constitutivos da obra.

Tradução de Jersson de Oliveira

(Arquivo Rizoma)

MANIFESTO UTÓPICO-ECOLÓGICO EM DEFESA DA POESIA & DO DELÍRIO


Roberto Piva


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Manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia & do Delírio



Invocação


Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.

Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro.

Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano. Por isso em nome da saúde mental das novas gerações eu reivindico o seguinte:

1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.

2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os garotos (as) da Febem, únicos capazes de transformar a violência & angústia de suas almas em música das esferas.

3 - Saunas para o povo.

4 - Construção urgente de mictórios públicos (existem pouquíssimos, o que prova que nossos políticos nunca andam a Pé ) & espelhos.

5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o Totem da nacionalidade. Organizar grupos de Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver as onças que vivem trançadas em zoológicos às florestas. Abertura de inscrições para voluntários que queiram se comunicar telepaticamente com as onças para sabermos de suas reais dificuldades. Desta maneira as onças poderiam passar uma temporada de 2 semanas entre os homens & nesse período poderiam servir de guias & professores na orientação das crianças cegas.

6 - Criação de uma política eficiente & com grande informação ao público em relação aos Discos-Voadores. Formação de grupos de contato & troca de informação. Facilitar relações eróticas entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.

7 - Nova orientação dos neurônios através da Gastronomia Combinada & da Respiração.

8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os) explicando por que o coito anal derruba o Kapital

9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.

10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica & do Pornosamba. O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ".

O TRATADO DA IMBECILIDADE


O gordo imbecil tem a mania que tem piada
os imbecis lá fora confratenizam
o bigodes imbecil tosse
o poeta imbecil escreve
a vida imbecil prossegue
os concorrentes imbecis vão ao programa imbecil
as gajas boas e imbecis mostram-se
o poeta imbecil embebeda-se
os concorrentes imbecis vão ao concurso imbecil sacar o prémio imbecil
sempre atrás do prémio sempre atrás do caralho do dinheiro imbecil
puta de vida imbecil
imbecil como o apresentador gordo e imbecil
imbecil como o país imbecil que não avança
imbecil como o cidadão comum imbecil que não se revolta
imbecil como as relações imbecis entre as pessoas
imbecil como os presentes imbecis do presidente da Câmara
imbecil como o ferro de engomar imbecil do "Preço Certo"
imbecil como os fins de tarde imbecis em Vilar do Pinheiro
imbecil como a patroa imbecil que não se cala
imbecil como o poeta imbecil que se debruça para apanhar a caneta
imbecil como o telemóvel imbecil que não toca
imbecil como a criança imbecil que brinca
imbecil como o rock n' roll imbecil que não passa
imbecil como o cofre imbecil na televisão
imbecil como a cerveja imbecil que desliza
imbecil como o "Deslize" imbecil que foi à vida
imbecil como as cartas imbecis ao gordo imbecil
imbecil como o presidente da Câmara imbecil que processa
imbecil como a concorrente gorda e imbecil que tropeça nas escadas
imbecil como o mundo imbecil que não muda
imbecil como o cliente imbecil que não entra
imbecil como as mamas da concorrente imbecil que saem por fora
imbecil como o Pires imbecil que ganha um sofá
imbecil como o sofá imbecil onde se senta o Pires
imbecil como os carros imbecis que circulam na estrada
imbecil como esta lenga-lenga imbecil que não acaba
imbecil como as árvores imbecis que não saem do sítio
imbecil como a roda imbecil que anda à roda
imbecil como o sorriso imbecil do barbudo pateta
imbecil como a postura sóbria e imbecil do pivot do Telejornal
imbecil como as notícias imbecis das oito da noite
imbecil
tremendamente imbecil
absolutamente imbecil
e acaba.

PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO

POR UM OUTRO MUNDO


POR UM OUTRO BRASIL

Por Marcelo Salles, da redação - salles@fazendomedia.com

A globalização atual é perversa, fundada na tirania da informação e do dinheiro, na competitividade, na confusão dos espíritos e na violência estrutural, acarretando o desfalecimento da política feita pelo Estado e a imposição de uma política comandada pelas empresas.

Milton Santos, em "Por uma outra Globalização", Editora Record

Poucas vezes li uma síntese tão precisa sobre o atual estado de coisas. O geógrafo Milton Santos acerta em cheio quando coloca no centro da discussão a tirania da informação, termo que inclusive dá o título de um excelente livro de Ignácio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique. É no campo da subjetividade que o sistema capitalista se impõe e se enraíza. E a mídia é, hoje, a instituição com maior capacidade de produzir subjetividades, ou seja, de definir maneiras de agir, sentir, perceber e viver.

Sobre o estímulo constante à competitividade vale a pena consultar o escritor chileno Humberto Maturana e sua obra-prima "Emoções e linguagem na educação e na política" (Editora UFMG), onde mostra que um sistema cooperativo é infinitamente mais importante para a construção de uma sociedade harmônica do que um sistema competitivo, louvado dia e noite pelos ideólogos do capitalismo (um bom exemplo pode ser visto nas reportagens do tipo "hoje em dia não temos tempo para mais nada" ou "a correria do dia-a-dia não deixa tempo para nada, nem para ter filhos". Dizem isso sem revelar que, no fundo, o que se deu foi um aprofundamento da exploração capitalista, esse sim o motivo da falta de tempo, que não é falta de tempo, e sim a desvalorização do tempo de trabalho de cada um de nós).

Como resultado, temos espíritos confusos – ou alienados – submetidos a uma violência contínua e distribuída sob diversas formas, desde o assédio moral no trabalho até o caveirão na favela, passando pela brutalidade de grupos de extermínio e pelo extravio dos recursos naturais via empresas multinacionais, que no Brasil batem recordes atrás de recordes.

Como conseqüência, temos a destruição da política voltada para a maior parte do povo. Em seu lugar afirma-se o Estado voltado para garantir o lucro das empresas privadas a qualquer custo, e isso inclui o despejo violento de gente que se encontra em área de especulação imobiliária, preços abusivos de remédios (pouco importando se pessoas morrerão sem dinheiro para comprar a medicação) e a liberação de alimentos sabidamente cancerígenos sem qualquer aviso (como foi o caso dos cigarros durante anos) ou de alimentos ainda sem estudos definitivos, como o milho transgênico recém-liberado no Brasil.

Nesse sentido, aponta Milton Santos, o papel do intelectual é fundamental. No mundo de hoje, é o pensador livre quem poderá combater os ideólogos da morte. São os intelectuais orgânicos que poderão construir novos paradigmas e oferecer novas propostas, novos conhecimentos. Por isso o sistema capitalista esconde, demoniza ou captura todos aqueles que ousam enfrentá-lo. E o geógrafo deixa claro que as mudanças de que o país precisa virão de baixo.





Um intelectual, para Milton Santos, não precisa estar encastelado em sua Torre de Marfim, distante do povo. Ele pode estar na favela da Maré construindo uma casa flutuante com material reciclável, pode estar numa borracharia da Av. Brasil inventando peças que prolongam a vida útil dos carros em até dez anos, modelos que nem os engenheiros que criaram os veículos são capazes de compreender. Esses intelectuais podem também ser cantores e compositores de hip-hop e funk (no Rio muitos já foram cooptados pelo sistema), militantes de movimentos sociais e mesmo jornalistas alternativos, entre muitos outros.

Ao fim e ao cabo, Milton Santos afirma que uma outra globalização passará pela mutação filosófica da espécie humana. Ou seja, uma mudança radical de mentalidade, que depende de um processo elevado de conscientização. Novamente, estamos diante de um embate com as corporações de mídia, pois como afirmou a psicanalista Maria Rita Kehl, em depoimento ao documentário Muito Além do Cidadão Kane: “A Globo conseguiu, melhor do que qualquer política repressiva, de proibição, de censura, alterar a consciência do brasileiro sobre sua condição”. Essa deve ser a luta de quem quer fazer do Brasil um país mais humano e fraterno.

Sunday, July 06, 2008

DA MISÉRIA NO MEIO ESTUDANTIL


Assunto: da miséria do meio estudantil


DA MISÉRIA DO MEIO ESTUDANTIL

CONSIDERADA NOS SEUS ASPECTOS ECONÓMICO, POLÍTICO, SEXUAL E ESPECIALMENTE
INTELECTUAL E DE ALGUNS MEIOS PARA A PREVENIR

Libelo escrito por membros da Internacional Situacionista & estudantes da
cidade de Estrasburgo no ano de 1966


A espectacularização da reificação no capitalismo moderno impõe a cada
indivíduo um papel na passividade generalizada. O estudante não escalpa a
uma tal lei. Trata-se, no seu caso, de desempenhar um papel provisório, que
o prepara para o definitivo papel que virá a assumir, na sua qualidade de
elemento positivo e conservador, no funcionamento do sistema mercantil. Este
seu papel não é outra coisa senão uma iniciação.

Iniciação que retoma, magicamente, todas as características da iniciação
mítica, mantendo-se inteiramente separada da realidade histórica, individual
e social. O estudante é um ser partilhado entre um estatuto presente e um
estatuto futuro claramente distintos, e cuja fronteira vai ser mecanicamente
transposta. A sua consciência esquizofrénica permite-lhe isolar-se numa
"sociedade de iniciação", desconhecendo o seu futuro e encantando-se com a
unidade mística que lhe oferece um presente ao abrigo da história. A razão
de ser do derruimento da verdade oficial -quer dizer, económica - é bastante
simples de desmascarar: a realidade estudantil só dificilmente se encara de
frente.

(...)
A colonização dos diversos sectores da prática social limita-se a deparar
com a sua mais gritante expressão no mundo estudantil. A transferência, para
os estudantes, de toda a má consciência social, dissimula, na realidade, a
miséria e a servidão de todos.

São, porém, de ordem bem diversa as razões em que se alicerça o nosso
desprezo pelo estudante. Tais razões não dizem apenas respeito à sua miséria
real; referem-se, também, à sua complacência perante todas as misérias; à
sua doentia propensão para consumir, em sossego, alienação, com a esperança,
perante a falta de interesse geral, de interessar a sua privação particular.
As exigências do capitalismo moderno fazem com que os estudantes, na sua
maioria, venham a ser quadros profissionais secundários (isto é, algo
equivalente àquilo que era, no século XIX, a função do operário qualificado
) .Perante o carácter miserável, que facilmente se pressente, deste futuro
mais ou menos próximo que o "indemnizará" da vergonhosa miséria do presente,
o estudante prefere voltar-se para o seu presente e decorá-lo com ilusórios
prestígios. A compensação, em si mesma, é por demais lamentável para que
nela nos detenhamos; e tão-pouco com ela poderá cantar vitória no futuro. É
a razão por que se refugia num presente irrealmente vivido.

Escravo estóico, o estudante julga-se tanto mais livre quanto o tolhem todas
as grilhetas da autoridade. Tal como a sua nova família, a Universidade, ele
supõe-se o mais "autónomo" dos seres sociais, quando, pelo contrário,
depende directa e conjuntamente dos dois mais poderosos sistemas de
autoridade social: a família e o Estado. O estudante é deles o filho bem
comportado e reconhecido. Seguindo a mesma lógica do filho submisso,
participa de todos os valores e mistificações do sistema, e em si os
concentra. Aquilo que eram ilusões impostas aos assalariados torna-se
ideologia interiorizada e veiculada pela massa dos futuros quadros
profissionais secundários.

(...)
Recolhendo um pouco dos sobejos de prestígio da Universidade, o estudante
ainda se sente satisfeito por ser estudante. Tarde demais! O ensino mecânico
e especializado que recebe está tão profundamente degradado (em relação ao
antigo nível da cultura geral burguesa ) quanto o seu próprio nível
intelectual na altura em que a tal ensino acede, e isto pelo simples facto
de a realidade que domina o conjunto destas coisas - o sistema económico
-reclamar uma fabricação maciça de estudantes incultos e incapazes de
pensar. Que a Universidade se tenha tornado uma organização – institucional
- da ignorância, que a própria "alta cultura" se dissolva ao ritmo da
produção em série dos professores, que todos estes professores sejam uns
cretinos, de tal modo que a maior parte dentre eles provocaria a algazarra
de qualquer público de liceu -, tudo isso o ignora o estudante; e,
respeitosamente, continua a escutar os seus mestres, com a vontade
consciente de perder todo e qualquer espírito crítico, a fim de melhor
comungar na ilusão mística de se ter tornado um "estudante", isto é, alguém
que seriamente se ocupa na aprendizagem de um saber sério, na expectativa de
assim lhe serem confiadas as últimas verdades. Trata-se, aqui, de uma
menopausa do espírito. Tudo quanto se passa hoje nos anfiteatros das escolas
e das faculdades será condenado na futura sociedade revolucionária como
ruído, socialmente nocivo. O estudante, desde já, dá vontade de rir.

O estudante não se dá conta sequer de que a história altera também o seu
irrisório mundo "fechado". A famosa "Crise da Universidade", detalhe duma
crise mais geral do capitalismo moderno, continua a ser objecto de um
diálogo de surdos entre diferentes especialistas. Mas apenas traduz, muito
simplesmente, as dificuldades de um ajustamento tardio deste sector especial
da produção a uma transformação de conjunto do aparelho produtivo. Os
-resíduos da velha ideologia da universidade liberal burguesa banalizam-se
na altura em que a sua base social se dissolve. A Universidade pôde
julgar-se uma força autónoma na época do capitalismo de livre-câmbio e do
seu Estado liberal, que lhe concedia uma certa liberdade marginal. Na
realidade, porém, ela dependia estreitamente das necessidades deste tipo de
sociedade: fornecer à minoria privilegiada, que seguia estudos, a cultura
geral adequada, antes de esta se integrar nas fileiras da classe dirigente,
da qual, a bem dizer, mal tinha saído. Daí o ridículo desses nostálgicos
professores exasperados por terem perdido a sua antiga função de cães de
guarda dos futuros dirigentes em proveito dessoutra, bem menos nobre, de
cães de pastor que conduzem, segundo as necessidades planificadas do sistema
económico, as fornadas de "colarinhos brancos" para as suas fábricas e
escritórios respectivos. São eles, esses ridículos professores, que opõem os
seus arcaísmos à tecnocratização da Universidade e imperturbavelmente
continuam a debitar os restos duma cultura dita geral a futuros
especialistas que não saberão o que fazer dela.

(...)
Por virtude da sua situação económica de extrema pobreza, o estudante é
condenado a um certo modo de sobrevivência bem pouco invejável. Mas, sempre
satisfeito por ser aquilo que é, eleva a sua miséria trivial à categoria de
um "estilo de vida": o miserabilismo e a boémia. Ora a "boémia", já longe de
constituir uma solução original, nunca é autenticamente vivida a não ser na
sequência duma rotura completa e irreversível com o meio universitário. Os
partidários da boémia no seio dos estudantes (e todos se gabam de o ser um
pouco) limitam-se pois a agarrar-se a uma versão artificial e degradada do
que não passa, e no melhor dos casos, duma medíocre solução individual. Até
o desprezo das velhinhas provincianas, por isso, eles merecem. Estes
"originais" continuam, trinta anos depois do que fez esse excelente educador
da juventude que foi Wilhelm Reich, a ter os comportamentos erótico-amorosos
mais tradicionais, reproduzindo as relações genéricas da sociedade de
classes nas suas relações intersexuais. A aptidão do estudante para se
transformar em militante de toda e qualquer espécie é, aliás, da sua
impotência, elucidação bastante. Na margem de liberdade individual permitida
pelo espectáculo totalitário, e apesar do seu emprego do tempo mais ou menos
descuidado, o estudante continua a ignorar a aventura, a ela preferindo um
espaço-tempo quotidiano feito de estreiteza, ordenado em sua intenção pelas
barreiras desse mesmo espectáculo.

(...)
Mas a miséria real da vida quotidiana estudantil encontra a sua compensação
imediata e fantástica naquilo que é o seu ópio principal: a mercadoria
cultural. No espectáculo cultural, o estudante encontra naturalmente o seu
lugar de discípulo respeitador. Próximo do lugar de produção sem nunca a ele
aceder -o Santuário mantém-se-lhe inacessível-, o estudante descobre a
"cultura moderna" na sua qualidade de espectador admirativo. Numa época em
que a arte morreu, ele continua a ser o principal fiel dos teatros e dos
cine-clubes, e o mais ávido consumidor do seu congelado cadáver, agora
difundido, embrulhado em celofane, nos supermercados feitos para as
donas-de-casa da abundância. Nisso participa ele sem reservas e de boa fé. É
esse o seu elemento natural. Se as "casas da cultura" não existissem, o
estudante tê-las-ia inventado. Ele é a perfeita demonstração das mais banais
análises da sociologia norte-americana do marketing: consumo ostentatório
estabelecimento duma diferenciação publicitária entre produtos idênticos na
sua nulidade (Pérec ou Robbe-Grillet; Godard ou Lelouch).

(...)
Na sua aplicação, o estudante julga-se de vanguarda porque viu o último
filme de Godard, porque comprou o último livro argumentista ou porque
participou no último happening duma besta chamada Lapassade. Este ignorante
toma por novidades "revolucionárias", garantidas por marca, os mais
descorados sucedâneos de antigas pesquisas efectivamente importantes no seu
tempo, posteriormente adoçadas com vista ao mercado. A questão reside, a
este respeito, para o estudante, em preservar continuamente a sua posição
cultural. O estudante orgulha-se de comprar, como toda a gente compra, as
reedições em livros de bolso duma série de textos importantes e difíceis que
a "cultura de massas" propaga a uma cadência acelerada. Acontece,
simplesmente, que o estudante não sabe ler, contentando-se em consumi-los
com os olhos.

(...)
Porque o estudante não pode revoltar-se contra o quer que seja sem se
revoltar contra os seus estudos; e a necessidade desta sua revolta faz-se
nele sentir menos naturalmente do que no operário, que se revolta
espontaneamente contra a sua condição de operário. O estudante, porém, é um
produto da sociedade moderna, ao mesmo titulo que Godard e a Coca-Cola. A
sua extrema alienação só pode ser contestada pela contestação da sociedade
no seu conjunto. De modo algum esta crítica pode realizar-se no terreno
estudantil: o estudante, como tal, apropria-se de um pseudovalor que o
impede de tomar consciência do seu desapossamento real, e é por tal facto
que patina no cúmulo da falsa consciência. Por toda a parte onde a sociedade
moderna começa a ser contestada, todavia, isso significa que há na juventude
a revolta, revolta que corresponde, de imediato, a uma crítica total do
comportamento estudantil.