Monday, August 12, 2013

FIM

O blog PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO chega ao fim. Obrigado a todos aqueles que nos seguiram ao longo destes seis anos. Para continuar a seguir-nos, ide a http://tripnaarcada.blogspot.com. Obrigado.

Thursday, July 25, 2013

HOMENS E HOMENS

Há homens e homens. Homens que se vão safando, que se vendem por tuta e meia, que vão fazendo número. Há também homens que dedicam a vida aos outros homens, que se entregam à causa da humanidade e da construção da sociedade nova, homens que enfrentam o capitalismo e a desumanização do homem. Entre esses homens figuram Fidel Castro, Hugo Chávez, Che Guevara, Yasser Arafat, Nelson Mandela.

Friday, June 28, 2013

ANTES SER POETA

Há gente endinheirada que exibe os automóveis, que parece que leva uma boa vida mas que, no fundo, não leva. Antes ser poeta e estar aqui a olhar para as mulheres. Antes ser poeta e estar aqui a escrever à mesa. Antes ser poeta e não ter obrigação nenhuma. Antes ser poeta e viver o dia. Antes ser poeta e estar descomprometido. Antes ser poeta e ser livre. Antes ser poeta.

Sunday, June 16, 2013

JORNAL FRATERNIZAR

Edição 89, sexta-feira 14 Junho 2013 A VIDA NÃO PRESTA Bem sei que é necessário derrubar esta gente. Mas não menos necessário é esclarecer as pessoas. Em 2013, sec. XXI, a vida não presta. O safanço, o interesse, a competição, a rapina sobrepõem-se à inteligência, à cultura, à curiosidade, à verdadeira vida. Triunfam os oportunistas, os vendilhões, os executivos. O homem perde até a capacidade de amar, muitos afogam-se na depressão, alguns no suicídio ou então caem na uniformidade do pensamento, no conformismo. O trabalho é intragável, o lazer muitas vezes é controlado pelas modas ou pela ideologia dominante, o desemprego avança, tal como a pobreza e a miséria. A vida torna-se repetitiva, entediante, monótona. As vedetas cor-de-rosa vivem a nossa vida. Não, não há razão para sorrir. No entanto, ainda podemos buscar a vida dentro de nós. No entanto, se ainda não estamos moldados podemos ainda encontrar-nos. Ainda somos donos de nós próprios. Ao contrário do que nos vendem, ainda somos donos da verdade e da beleza, ainda podemos criar e dançar, ainda podemos mudar o mundo. CIDADÃOS DA TERRA Devemos educar as nossas crianças no amor, na busca do saber, na descoberta. Devemos formar cidadãos íntegros, virtuosos, que se preocupem com as grandes questões da humanidade, com o sentido da vida, que não se fechem no egoísmo. Devemos fazer da vida um experimento permanente, uma aventura. Devemos ser todos cidadãos da Terra, das mesas partilhadas. Devemos cumprir o que viemos fazer à vida. Que viemos cá fazer? Amar, dar, descobrir, conhecer. Por isso leio, por isso escrevo. Tenho 45 anos. Não vim fazer negócios, não vim atrás do dinheiro. Vim para muito mais. Vim abrir portas. Vim construir mundos, ideias. Vim também para o mito, para o Graal, para a magia. Por isso não aceito entregar-me ao útil, ao quantificável, ao cronometrado. Por isso sou luz, sol, embriaguez. Não me dou com controlos, castrações, mecanizações. Procuro o enigma da vida. Estou na demanda. Percorro com Sócrates as ruas de Atenas. A mente explode, abre-se. Posso saber mais, posso saber sempre mais. A caneta desliza no papel. Sou um poeta. Desejo a mulher. Canto-a. Endeuso-a. Nasci hoje há 45 anos. Vim para reinar, para me dar. Há dias, noites em que me solto, em que não tenho limites. Que sentido faz toda a barbárie? Amemo-nos. Sejamos cidadãos da Terra.

Monday, June 03, 2013

ESQUIZOFRENIA

E, de repente, a metamorfose. Não foi a manif, foi a discussão posterior no Gato Vadio. Soltei-me, libertei-me, disse o que pensava. Disse que não aceito o primado da economia, falei no capitalismo que violenta a essência do homem, no capitalismo que conduz à esquizofrenia e que é, ele mesmo, esquizofrenia. Falei no aumento galopante das doenças mentais, das depressões, dos suicídios e das tentativas de suicídio. Disse que essas questões não se resolvem só com dinheiro. E agora acrescento que as relações entre as pessoas são muitas vezes falsas, de compra e venda, de competição como manda o capitalismo que nos controla, que nos bombardeia, que nos imbeciliza via televisão, via media, que nos droga, que nos empurra para a mera sobrevivência. Disse também que, paralelamente ao agir, é preciso discutir o homem, o que é o homem, o que veio fazer á vida e à terra. Creio que é essa a minha missão enquanto escritor, enquanto pensador, se assim me posso definir. Tentar iluminar as consciências. E assim volto a mim mesmo.

Sunday, May 26, 2013

A DÁDIVA

A dádiva, o gesto desinteressado, o amor. São manifestações da alma felizmente ainda observáveis. No entanto, o sistema impõe o preço, a competição, as relações gélidas. Isso tem dado cabo da alma, tem diminuído a espécie, tem propagado as doenças mentais. O problema está mesmo na alma, no nosso interior. Ultrapassa em muito as questões económicas e financeiras. O homem tem de crescer, tem de se encontrar, tem de se agarrar à verdadeira vida. Tem de desenvolver as suas potencialidades em comunhão com os outros, tem de derrotar dentro de si o capitalismo. Tem de ser plenamente alma e coração.

Saturday, May 18, 2013

CARNAVAL

Há dias em que apetece viver desmesuradamente, agarrar ao máximo a vida, agarrar ao máximo o instante. Há dias em que, mesmo estando sozinho, celebro a vida, celebro a terra, celebro a mulher. Há dias, noites em que beber e viver é realmente um gozo, em que não apetece parar. Há dias, noites, em que sou plenamente o artista, o homem integral. Há dias em que a vida é um perpétuo carnaval.

DO ALÉM

Ás vezes escrevo para me situar. Anteontem fiz 45 anos. Sofri, fui ameaçado, apanhei porrada, até fui humilhado na praça pública. Outros já partiram. Eu permaneço aqui. Se permaneço aqui por algum motivo é. Não vim para ganhar a vida. Vim para descobrir, para me descobrir, para desenvolver as minhas potencialidades. Sem castrações. Sou o homem da liberdade. Amo a humanidade, apesar dos patrões, apesar dos papões. Amo o homem a construir. Amo a própria vida. Vou onde só alguns foram- ao paraíso, ao inferno. Sou da dádiva, do conhecimento pelo conhecimento. Amo os grandes. Amo loucamente. Já escrevi páginas menores. Agora ultrapasso. Agora sou do além. Agora não tenho limites.

Saturday, May 11, 2013

O HOMEM EM CRISE

O homem está em crise. Há um mal de alma escondido nas nossas cavernas interiores enquanto permanecemos no café, enquanto trabalhamos, enquanto percorremos as ruas. Ainda há os amigos, o encontro, os livros mas, na maior parte do tempo, não nos sentimos realizados. Algo nos empurra para a náusea, para a angústia, para o tédio. A economia, as leis do cálculo, da competição e da eficácia controlam as nossas vidas. Só a espaço damos o grito libertador, animal. Só a espaços nos entregamos à sabedoria. De resto, raramente se dá o inesperado, a descoberta. A política está entregue a tecnocratas, a peritos. Não compreendemos a linguagem da economia nem sequer sabemos se é compreensível. Muitas vezes estamos condenados ao metro/trabalho/casa. A pressa repele a reflexão e a meditação. Não, não viemos para isto, não nos tornamos únicos para isto. Não foi para isto que lemos Homero, Platão, Shakespeare, Nietzsche. Não foi para sermos escravos de outros homens e da máquina mediático-tecnocrática.

Wednesday, May 08, 2013

DO CAPITALISMO

O capitalismo é inimigo de tudo o que é humano- o sentimento, a sensibilidade, o amor, a amizade, a poesia. Reduz tudo á mercadoria, à mecanização, ao cálculo. O homem vende-se a si mesmo e á sua força de trabalho no mercado. Tudo é medido pelo dinheiro e pela sua acumulação. Uns nadam na riqueza e no poder, outros morrem de fome. O capitalismo é absolutamente desumano. Como diz Charles Dickens em "Tempos Difíceis": as pessoas são parecidas umas com as outras, "saindo e voltando a casa todas às mesmas horas, andando com o mesmo passo pelo mesmo passeio, fazendo o mesmo trabalho, e para as quais cada dia era parecido com o da véspera e com o seguinte, como cada ano condizia com o anterior e com o que se lhe seguia". Em suma, uma vida sem brilho, sem luz, entediante. Só os artistas e os filósofos podem contrariar esta tendência através do espírito crítico, da transgressão, da criatividade. Só através da busca interior, do culto do amor e da amizade, das mesas partilhadas é possível contrariar o poderio do dinheiro e do capitalismo. E também através da curiosidade, da descoberta. Só assim poderemos atingir o homem pleno, integral, o inimigo do capitalismo.

Thursday, May 02, 2013

VISÃO

Eu tive a visão. Eu fui Deus, Jesus, imperador de Roma. Matava e ressuscitava pessoas. Eu ouvia vozes. Fazia a revolução. Tinha em mim o universo. Eu nascia, formava-me. Exércitos protegiam-me, exércitos perseguiam-me. Eu era um iluminado. Possuía as mulheres belas. Duendes, palhaços cercavam-me. Eu fui Deus.

Saturday, April 27, 2013

A RUA É TUA

Descansa, Pedro. Já leste muito, já tomaste muitas notas. Mas o cérebro não consegue parar. É o que é. Tens em ti a vontade e a potência da vida. Produzes ao ritmo da vida. Não andas com queixumes, competições, fados, fatalidades. Escreves porque é isso que sabes fazer. Hoje serias capaz de escrever o poema contínuo. Travas uma batalha com o papel. Começas a ser mestre nestas coisas. Estás aqui nos "Sonhos de Verão" e já estás muito longe, num espaço muito para lá das mesas, das cadeiras, dos bolos e do cliente que entra e pede um pingo. Estás noutro lugar sem precisares de ácidos ou de cocaína. A mente está a libertar-se. És capaz de o sentir fisicamente. És mesmo doido, Pedro. Consegues fugir completamente às normas. Navegas no "barco ébrio" dentro do teu pensamento. Não és realmente daqui. Pertences à vida e ao além da vida. Como pudeste perder tanto tempo com coisas pequenas e mesquinhas? Estavas a aprender, sobretudo quando fizeste asneiras. Estavas a pôr a realidade à prova, como o Jim. É o que fazes agora. Estás para lá da política e da economia. És íntegro, integral. O tempo é teu. A rua é tua. Talvez a mulher seja também tua. Ainda não a compreendeste. Olhas para ela. Porque não danças?

Wednesday, April 24, 2013

ESCREVER

Estou retido em casa. Além do pé doente, tenho o olho esquerdo a arder e, por isso, não consigo ler. Resta-me a escrita. Escrevi os primeiros poemas aos 14/15 anos. Ganhei um prémio no Liceu Sá de Miranda em Braga. Depois comecei a escrever as letras em inglês do Peter Owne para a banda imaginária The Vikings. Aos 18 anos escrevi os primeiros bons poemas: "Mulher Ausente", "Arké", "Túmulo", "Anjo em Chamas". Mais tarde escrevi "Ausência", "Representação", "O Absurdo Vivo". Foi uma grande mudança em termos qualitativos. Ainda há quem diga que "Á Mesa do Homem Só" é o meu melhor livro. Escrevia coisas boas mas também escrevia coisas más. Não escrevia, nem de perto nem de longe, ao ritmo que escrevo agora. Agora, para mim, escrever é viver, é respirar, como dizia Anais Nin.

Friday, April 19, 2013

VALTER HUGO MÃE SOBRE A. PEDRO RIBEIRO

valter hugo mãe conta que a primeira vez que lhe chamaram maldito foi quando roubou uvas num quintal, em miúdo, e a dona da fruta lhe disse “maldito cachorro, vou dizer à tua mãe” . Depois vieram os livros da Hiena, “essa editora toda maldita”, que lhe deu Baudelaire e Genet, entre outros, e cujos livros, transportados na mochila, lhe davam a ideia de deixar um rasto de sangue à passagem da mala. E os episódios sucedem-se: o elogio de Alberto Pimenta e a acusação da professora, dizendo que estava a encher os colegas “de porcarias”, as histórias de Adília Lopes, distribuindo pagelas, ou de Isabel de Sá, fugindo de encontros e respondendo que não a tudo o que se lhe pergunta, ou de A. Pedro Ribeiro entrando num hipermercado com um facalhão na mão e gritando palavras contra o capitalismo. E encerra dizendo que ‘não é maldito quem quer’. Já se desconfiava.




Monday, April 15, 2013

GENTE SEM ALMA

Vê-se esta gente que governa, que vive da política, os banqueiros, os grandes empresários, os especuladores, os usurários. Vê-se esta gente sem alma, sem escrúpulos, sem vida. Esta gente que nos rouba, que nos rouba a vida, que se serve à vez e acumula. Estes bandidos. Estes oligarcas. Gente sem ética, integridade ou virtude. Esta gente que se passeia nas televisões. Os comentaristas. Gente que vive à nossa custa. Os inimigos da vida. Não sei sequer se merecem estar na vida.


Estamos claramente do outro lado da vida. Com Sócrates, Platão e Aristóteles do lado da virtude, da ética, da sabedoria. Não ao lado desses sacanas que nos chulam. Mas sim do lado da vida, do lado do bem, do belo, da liberdade. Da poesia da vida que deve aprender-se nas escolas, de maneira a formar cidadãos de corpo inteiro. Não do negócio, das riquezas, dos mercados mas da vida, da vida autêntica, exuberante, plena como Nietzsche preconizava.

Monday, April 01, 2013

A POESIA DA VIDA

O homem comum não se debruça sobre as grandes questões da humanidade. Leva a sua vidinha, fala sobre ela, preocupa-se essencialmente com o sustento e com a conta bancária. Não desenvolve o pensamento, tem raciocínios superficiais, "práticos", deixa-se levar pela ideologia dominante ou pelas religiões. Não questiona o que veio fazer aqui, para que vive, porque foge á morte. Não questiona o próprio tempo. Daí que, em parte, seja culpado da escravização que lhe é imposta por alguns dos seus semelhantes. Esses semelhantes, àvidos de poder e de riquezas, também desconhecem os grandes mistérios da vida e duvido que sejam felizes mas conhecem as técnicas da propaganda e da manipulação. Criaram um sistema capitalista de dominação onde uns são arrastados para o desemprego, para a pobreza e para a miséria e outros vendem o seu trabalho por um preço cada vez mais barato, caindo na infelicidade, no tédio, no aborrecimento. É preciso que o homem evolua, que desenvolva a curiosidade intelectual e a capacidade de amar e de se libertar das correntes da máquina ideológica, do cálculo, da quantificação para que se reconcilie com aquele que realmente é, com o seu espírito, com a poesia da vida.

Monday, March 25, 2013

OS NOVOS ESCRAVOS

A imbecilização e a infantilização reinam na TV e não só. Não há a procura do elevado, do conhecimento, da sabedoria. Anda tudo á volta do futebol e das bolas que entram ou então dos mexericos. Por isso temos governantes como Passos Coelho ou Vítor Gaspar. O cálculo, o utilitarismo e a economia imperam. Ainda há alguma simpatia mas o ser humano não se interroga sobre si próprio, sobre o que faz aqui. Limita-se a cumprir os dias, a obedecer ao relógio, a sobreviver. Não percebe que é do ócio, como diz Agostinho da Silva, que surgem as grandes ideias, que despontam os poetas vadios, os poetas à solta. A maioria dos seres humanos perdeu a curiosidade, a capacidade de sonhar, de inventar. Eis o resultado do capitalismo. Eis os novos escravos. Caminham ordenados, vencidos, cumpridores. Fazem tudo em função do deus-dinheiro, compram e vendem-se, perdem a sua essência. Nas crianças ainda vemos a vida mas logo elas serão encaminhadas para o mercado. Competem, guerreiam-se, não procuram a unidade, o xamã, aquele que une deuses e espíritos. Por isso levam uma vida imbecil, obedecem aos patrões, aos governos, ao deus-dinheiro. Alguns, a espaços, celebram à noite nos bares, nas salas de espectáculos. Mas é só a espaços. A sobrevivência predomina, impõe as suas leis, diminui o homem. Não questionamos o que viemos fazer aqui. Não questionamos a dádiva que é estar aqui. Não vamos atrás da vida autêntica de Rimbaud, de Nietzsche. Não vamos buscar a verdade a nós mesmos. Andamos por aí. Escravos da imbecilidade, do papão imbecil. Não evoluímos, regredimos até, como macacos. Comemos, bebemos e safamo-nos. Fugimos à riqueza da vida. A riqueza de estarmos vivos. Aceitamos tudo o que nos vendem. Duvido até que estejemos vivos.

Tuesday, March 19, 2013

A DESTRUIÇÃO DA VIDA

Que vida ordenada, segura, confortável leva esta gente. Não fossem as crianças pareceriam todos programados, autómatos, cumprindo as horas, cumprindo as tarefas. Não questionam a vida, não questionam o transe. Comem, bebem, trabalham, consomem, procriam. O próprio lazer é condicionado pelas leis castradoras da economia. Esta gente ainda ri mas é um riso passageiro que a máquina abafa. É sempre o "até amanhã!", o amanhã sempre igual, a correr para casa, para a TV, para a imbecilização, para o tédio. O capitalismo, além de atirar para a fome e para a pobreza, destrói a vida. Deu cabo do homem primitivo, do xamã que celebrava com os deuses e com os mitos. Está a dar cabo da alegria autêntica, da criança despreocupada que brinca, do prazer da criação, do conhecimento, da descoberta. Está a dar cabo da poesia, da comunhão, do amor, da mesa livre e partilhada.



Thursday, March 14, 2013

BELO

E se a nossa mente explodisse, se elevasse ao máximo as suas potencialidades? O que seríamos capaz de criar? Muita coisa perderia o valor. Como a compra e venda, a relação comercial, o dinheiro. Seríamos deuses, seres de luz, efectivamente filhos das estrelas, da primeira luz. A ideia seria realmente soberana, seríamos capazes de tudo, de atingir o belo, o bem, o sublime. Poderíamos ser terríveis mas também infinitamente bons, capazes de dar amor a todo o momento. Ultrapassaríamos a política, a economia, tudo seria alma e céu. Sim, o que poderíamos ser se nos realizássemos aqui na Terra e além dela. Seríamos reis, rainhas, seres encantadores, extáticos, livres. Deixaríamos de andar ordenados, ao ritmo do relógio, sem tempo, sem limites, sem trabalho. O que seria o homem para lá do homem? Belo, soberbo, magnífico, um senhor sem escravos, ao seu ritmo, como no início dos tempos.

Sunday, March 10, 2013

REINO

É noite. Escrevo. Este é um dos dias mais felizes da minha vida. Celebro. Nada me deitará abaixo. Sou sublime. Ouço os galos. Escrevo ao ritmo da terra. O coração bate forte. Tenho medo de ter um ataque. Ainda assim reino. Penso na Leonor. Está infeliz. Coitada daquela menina. Chora. Tão incompreendida. Ainda assim reino. Saio nas entrevistas. Vou aparecendo nos media. Escrevo e sou feliz. Tomo Roma e Atenas. Percorro as ruas em triunfo como Alexandre. Exércitos que me protegem. Estou pronto para a batalha. A palavra é a minha arma. Exércitos que me protegem. Sou Nero. Toco lira. Recito poemas. Nunca mais haverá alguém como tu. Soberano da vida. Rei. Deus. Que se lixem os poetas menores! Eu estou aqui vivo. Com Morrison e Zaratustra. Há outra vida. O meu reino não é deste mundo. Palácios. Castelos. Reinos por conquistar. Este sou eu, menina. Não me faças a cabeça, ó coquete televisiva. Este sou eu. Continuo aqui. Não saio daqui. Não saio do meu país. Isso queriam eles...O reino é meu. Vou reclamar o trono. Terra inóspita. O Santo Graal. Artur de Camelot. Galaad. Vejo-te, ó Graal. És meu. O cálice. Vejo-te claramente. Estou em Deus. Às 7 da madrugada de 8 de Março. Dia da mulher. Todas as mulheres são minhas irmãs. Danço com elas. Vou até ao infinito. Bebo do cálice. Bebo whisky. Expulso os vendilhões. Sou soberano. A escrita é automática. Passa da mente para o papel, sem interferências. A mente arde. Estou em Deus e além de Deus. Não me apanhais, ó merceeiros, homens pequenos, escravos da vidinha. Estou para além. Muito para além. Bebo o Graal. Danço. Canto. Tenho o riso soberano.

Wednesday, March 06, 2013

O NOVO HOMEM

Venho anunciar-vos o novo homem. Bem sei que permaneceis nos vossos afazeres, nos vossos comércios, nas vossas vidinhas. No entanto, sei também que alguns de vós se têm cruzado comigo nas ruas, nos cafés, nos bares. Sei também que alguns de vós me tendes tentado compreender. Falo-vos, portanto, do novo homem. Do homem que nasce livre e permanece livre, que não segue um caminho imposto, uma via definida, que vadia pela vida, que recusa o jogo. Venho dizer-vos que ele está entre vós, que quer desencaminhar-vos a vós e aos vossos filhos. Ele vem dizer-vos de que muito do que fazeis aqui na Terra é ditado pela repressão e pelo medo. O vosso Deus expulsou-vos do paraíso. O trabalho que fazeis é a negação do paraíso. Fostes escravizados pelo dinheiro. Assim nunca vos sentireis realizados. Homens, mulheres, contemplai o novo homem. É ele que dá o sentido à Terra.



Friday, February 22, 2013

AGARRAR A VIDA

Ainda não fui reconhecido enquanto escritor como outros o são. No entanto, não me considero inferior a eles. Fazem uns truques, dizem umas coisas engraçadas mas nada de verdadeiramente profundo. Não vão à essência da vida. Não questionam a luta pela existência, o esforço, o trabalho nem os macacos que trepam uns para cima dos outros em busca do lugar, do emprego, do estatuto. Claro que há o esforço, o trabalho em prol de uma obra de arte, de um poema maior. Mas há também o trabalho alienado, o trabalho escravo em favor de um explorador, de um capitalista, o trabalho que é sacrifício, que provoca a dor em vez do prazer ou então o tédio.

Neste momento estou num café de Vila do Conde e observo um grupo de macacos a vociferar em torno de um jogo de futebol. O que é que esta gente tem na cabeça? Tem instintos agressivos, primários, é totalmente manipulada pelo jogo e pela máquina. Esta gente tira prazer da bola, vive da bola, não é capaz de um raciocínio elevado. Vive de cânticos, de gritos, de insultos ao clube inimigo. Não sou da espécie deles. Não estou na mesma galáxia. Esta gente nunca questionou a existência, o que faz aqui, julga-se afirmativa, agressiva mas é dominada pelo chefe, pela televisão, pela polícia. Arrisco-me a dizer que não tem alma, que não tem humanidade. Que é incapaz de apreciar uma obra de arte, que é incapaz de ouvir ou entender uma mulher sensível. É gente sem cultura e sem educação. São macacos que trepam. Não são os únicos, claro. Há mais.

Verdadeiramente começo a compreender a vida. Temos de agarrar a vida, é certo. Mas colocam-nos a competir uns contra os outros desde muito cedo. Há as notas escolares, há a pressão para integrarmos os grupos, mesmo que nos descaracterizemos, que adulteremos o nosso crescimento. Só a espaços acontece a verdadeira união, a comunhão, a celebração. Temos de agarrar a vida, repito, mas a vida não tem que ser guerra, luta, corrida, competição. A vida são os dias em que criamos mas são também os dias, noites em que dançamos, em que partilhamos, em que construimos em comum. Daí que não possamos admitir que eles nos roubem o tempo, que eles nos manipulem, que eles nos façam guerrear uns com os outros seja por que motivo for. É isto que eu vos tenho a dizer.

Monday, February 18, 2013

GUERRA

 Estamos a destruir-nos. Mesmo que não haja uma guerra estamos a destruir-nos. De qualquer forma, vivemos numa guerra, numa competição de todos contra todos, pelas notas escolares, pelo emprego, pelo poder. Não faz sentido assim a vida. Vivemos a prestações, só a espaços damos amor, só a espaços nos damos ao outro. Somos o homem das meias-medidas. Não conseguimos ser plenos, exuberantes de vida, como defendia Nietzsche. Alguns exploram os outros, a esmagadora maioria é explorada.  Não, não viemos para isto. Viemos para brincar, para experimentar, para descobrir. Viemos também para pensar, para filosofar, para conhecer. Não para guerrear, para competir, para impor a lei do mais forte.

Wednesday, February 13, 2013

O GRITO PLENO

Edição 85, sexta-feira, 8 Fevereiro 2013


O GRITO PLENO E A INOCÊNCIA

O fracasso das manifestações de 2 de Fevereiro 2013 prova que o 15 de Setembro 2012 já lá vai, abafado pelo bombardeamento diário da máquina dos media, dos mercados e dos políticos ao serviço destes. Também é falso que esteja tudo dito acerca do capitalismo como alguns advogam porque todos têm acesso à net, etc. O capitalismo é mesmo o contrário da vida, quer reduzir-nos à condição de escravos, destrói-nos com privatizações e sacrifícios. O capitalismo quer reduzir-nos ao infantilismo, atira-nos filmes e programas imbecilizantes, quer reduzir-nos ao primarismo intelectual, à futebolite aguda. O capitalismo droga-nos de modo a que não discutamos, a que não pensemos os problemas, a que não desenvolvamos as nossas potencialidades. E é necessário, mais do que nunca, pensar, debater, discutir. Sem dúvida que é também necessário discutir o que fazer. Teremos que fazer chegar a palavra. Continuamos a dizer que há gente irremediavelmente perdida. Que há gente até onde a palavra nunca chegará, de tal modo está contaminada pela máquina. Mas há também certamente gente angustiada, cheia de dúvidas. É a esses que teremos de chegar. Em todos os palcos que pisamos. Assim a vida não é vida. Assim a vida são filmes menores, telenovelas. Assim a vida é, na maior parte das vezes, obrigação, castração. Não é liberdade, amor, poesia. Não é experimento permanente, não é banquete. É sempre o homem e a mulher violentados, o homem e a mulher cheios de medo de perder o dinheiro, de perder o emprego, de perder a vida. Raramente há o grito pleno, primordial, inaugural do homem que nasce, do homem que cresce, do homem que reina. Apesar da amabilidade de alguns, há sempre o dinheiro que tens de dar, há sempre o cálculo, há sempre a mercearia. Com alguns e algumas ainda manténs conversas elevadas mas, de resto, é o deserto, é a vidinha. Ainda depositas esperanças nas crianças que brincam. Ainda há a inocência. Inocência que ainda tens, em parte, apesar das patadas.


CONTRA A MÁQUINA

Há os que estão irremediavelmente perdidos para a vida. Eu questiono. Eu desmonto a máquina tanto quanto me é possível desmontá-la. Não percebo nada de mercados nem de finanças mas sei que esse é o mundo que nos sufoca, que reduz o homem ao gélido, ao entediante, ao mecânico. Sei que não nasci para isso. Vim para me realizar, para desenvolver as minhas potencialidades, para criar. Vim para pensar, para puxar pela cabeça mas também para intervir no mundo. Mas para pensar convenientemente tenho de ter a mente liberta de contaminações. Daí que tenha de me afastar da TV dominante, da máquina. Daí que vá de encontro ao amor e à poesia. Há muito que me deixei de americanices. Há muito que coloquei certos venenos de lado. Vejo nos meus semelhantes o desejo de ganhar. Eu não vim para ganhar nada. Não vim para competir nem para ganhar taças. Vim, como dizia Jim Morrison, para performear a minha arte e para completar ou perfectibilizar a minha vida. Vim enriquecer-me, vim aumentar a minha alma. Não penso só na próxima refeição, como muitos fazem. Por isso leio, estudo, escrevo, recito. Não faz sentido vir ao mundo para estar permanentemente preocupado com o dinheiro e com a próxima refeição. É preciso desfrutar, é preciso gozar, é preciso celebrar. Para tal não são necessárias grandes viagens. Às vezes bastam as viagens interiores. O diálogo que mantemos connosco próprios, como dizia Henry Miller.


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Monday, February 11, 2013

VIEMOS PARA VIVER

Não, não me apanhais. Não aceito que a vida seja encaminhada para um trabalho fixo, para uma profissão. Não vim cá para isso. Aos 14/15/16 anos aprendi com alguns professores mas aprendi também com os meus melhores amigos do liceu: Jorge e Rui. Foram eles que me mostraram determinados discos, determinados livros. Estava no ensino com o objectivo de entrar na faculdade mas estava também a descobrir, estava a descobrir-me. Não aderi a determinados grupos, a determinadas modas. Fui construindo o meu caminho. Não tenho de estar aqui em função de um trabalho, de um mercado. Não tenho que ter uma vida predeterminada. Não tenho sequer de ter objectivos precisos. Vou andando por aqui, tenho curiosidade, investigo o homem e a vida. Não tenho que obedecer às vossas normas, às vossas leis. Estudo, leio, escrevo. Não quero tirar cursos nem procuro empregos. Porque raio temos de andar sempre atrás do dinheirinho? Ainda há certamente pessoas generosas, que se dão às outras. No entanto, isso vai rareando por causa da máquina que nos impõem. Vão havendo festas mas tudo está condicionado pela troca, pela sobrevivência. Nascemos, estamos aqui, viemos para viver, para gozar, não para o sacrifício. Somos, deveríamos ser, absolutamente livres como no início.




Thursday, February 07, 2013

DONOS DA LIBERDADE

Ser o dono de é ter o poder, segundo Agostinho da Silva. Viver sem donos, sem Deus nem amos, ser o próprio rei, o próprio Deus, eis a Liberdade que destrói o poder. Os nossos donos são os banqueiros, os grande media, os mercados, os políticos ao seu serviço. Urge matá-los na nossa mente, impedir que eles nos controlem, que destruam o nosso pensamento, a nossa alma. Tudo parte, portanto, do nosso pensamento, da forma como organizamos a ideia. A liberdade já está em nós, está connosco desde que nascemos. Somos donos da liberdade livre, absoluta. Saibamos enriquecê-la, fortalecê-la.




Sunday, February 03, 2013

O GRITO PLENO E A INOCÊNCIA

O fracasso das manifestações de ontem (2 de Fevereiro) prova que o 15 de Setembro já lá vai, abafado pelo bombardeamento diário da máquina dos media, dos mercados e dos políticos ao serviço destes. Também é falso que esteja tudo dito acerca do capitalismo como alguns advogam porque todos têm acesso à net, etc. O capitalismo é mesmo o contrário da vida, quer reduzir-nos à condição de escravos, destrói-nos com privatizações e sacrifícios. O capitalismo quer reduzir-nos ao infantilismo, atira-nos filmes e programas imbecilizantes, quer reduzir-nos ao primarismo intelectual, à futebolite aguda. O capitalismo droga-nos de modo a que não discutamos, a que não pensemos os problemas, a que não desenvolvamos as nossas potencialidades. E é necessário, mais do que nunca, pensar, debater, discutir. Sem dúvida que é também necessário discutir o que fazer. Teremos que fazer chegar a palavra. Continuamos a dizer que há gente irremediavelmente perdida. Que há gente até onde a palavra nunca chegará, de tal modo está contaminada pela máquina. Mas há também certamente gente angustiada, cheia de dúvidas. É a esses que teremos de chegar. Em todos os palcos que pisamos. Assim a vida não é vida. Assim a vida são filmes menores, telenovelas. Assim a vida é, na maior parte das vezes, obrigação, castração. Não é liberdade, amor, poesia. Não é experimento permanente, não é banquete. É sempre o homem e a mulher violentados, o homem e a mulher cheios de medo de perder o dinheiro, de perder o emprego, de perder a vida. Raramente há o grito pleno, primordial, inaugural do homem que nasce, do homem que cresce, do homem que reina. Apesar da amabilidade de alguns, há sempre o dinheiro que tens de dar, há sempre o cálculo, há sempre a mercearia. Com alguns e algumas ainda manténs conversas elevadas mas, de resto, é o deserto, é a vidinha. Ainda depositas esperanças nas crianças que brincam. Ainda há a inocência. Inocência que ainda tens, em parte, apesar das patadas.




Sunday, January 27, 2013

ABSOLUTAMENTE CERTO

À hora do jantar o "Vip" está às moscas. Estão longe os tempos do Luís e da Carla quando havia motivos de conversa e eu bebia aqui umas cervejas e até vendia uns livros.


A gaja da novela das 7 continua a excitar-me. É uma óptima actriz. Mas eu definitivamente não sou de telenovelas. Não segui essa via. Era bom que houvesse mulheres bonitas aqui no café e não na TV. As da TV não as posso tocar. Só posso olhar para elas. Se bem que, para mim, os tempos estejam a mudar. Há coisas que começam a estar ao meu alcance, assim o penso. De qualquer forma, já pouco tenho a perder. Essa é a verdade. Não tenho que esconder as minhas opiniões e convicções. As pessoas vão envelhecendo, é certo. Contudo, eu não envelheci por aí além. Há aspectos em que até rejuvenesci. Sinceramente rejuvenesci. Estou mais solto do que estava há 10, 15, 20 anos. Pelo menos em certos aspectos. Acredito em mim mais do que acreditava. Do nada nasce o texto. Só preciso de encontrar companheiras, companheiros. Uns, mal ou bem, vão criando os filhos. Eu vou inventando textos. É a minha profissão, a minha missão na Terra. Além disso, sou um actor. Represento nos palcos e na vida. Ás vezes até sou um bocado sacana. Aprendi a sê-lo. Apanhei patadas. Já não sou o menino puro dos 18 anos. Ganhei vícios. Como este de permanecer no café em vez de ir para casa. Raramente escrevo em casa. Vou seguindo o meu pensamento. Espeto-o no papel.

Não é provável que venha a ter filhos. Não poderia sustentá-los. Embora, no fundo, até os desejasse. Enfim, já poderia ter acontecido. Estou aqui para a vida, não para a morte em vida. Vim gozar, celebrar mas também descobrir, conhecer. Chego à conclusão de que estou certo, de que, no fundo, quase sempre estive certo. E começo a perder o medo. Temo os pitbulls, temo os leões mas não temo os governantes nem os capitalistas. Enfrento-os com ou sem a caneta. Realmente eu é que estou certo. Não me quero armar em detentor da verdade mas eu é que estou certo. Cometi erros mas, ao fim e ao cabo, fiz o que tinha a fazer, disse o que tinha a dizer. Só preciso de me esforçar um pouco mais, de fazer um pouco mais, de dizer um pouco mais, de escrever um pouco mais.



Friday, January 11, 2013

A DITADURA DA ECONOMIA

Edição 84, 11 Janeiro 2013


CONTRA A DITADURA DA ECONOMIA

Eis o que a ditadura da economia, da poupança e do sacrifício nos traz, nas palavras do filósofo José Gil: a diminuição da liberdade, a redução do espaço de expansão dos corpos, dos movimentos próprios de exploração, de investimento afectivo, de espontaneidade do desejo, o controlo permanente, a autodisciplina mutiladora da vontade de vida. As pessoas podem deslocar-se, podem ir até ao café mas há qualquer coisa que as impede de serem plenamente elas, qualquer coisa que violenta a sua essência, qualquer coisa que vem das palavras e das leis impostas pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças, qualquer coisa que vem dessa linguagem fria, mecanizada, castradora, que tem por trás de si uma máquina mediática e financeira. É por isso que importa pensar, que importa questionar, que importa desmontar e, ao mesmo tempo, gritar bem alto que este não é o caminho, que este não é o único caminho possível, que viemos para a vida, que viemos para a liberdade, que não temos de nos sacrificar, que não temos de obedecer a deuses nenhuns nem aos da economia.

Fomos abençoados à nascença. A vida é uma aventura, não uma prisão. Viemos para nos realizarmos aqui, para desenvolvermos ao máximo as nossas potencialidades aqui na Terra. Não temos que aceitar qualquer ditadura.


A MORTE EM VIDA

Às vezes questiono-me sobre o que é que determinadas pessoas vêm fazer à vida. Na infância ainda brincam mas depois começam a ser encaminhadas para o mercado. Na escola, de uma maneira geral, salvo umas asneiras, acabam por ser alinhadas com o sistema. Refugiam-se nos grupos, na moda, fazem parte da manada. E ainda que questionem tudo isso, esse questionamento é passageiro. Depois começam a entrar no mercado de trabalho, a integrar-se na máquina, hoje cada vez mais castradora, mais privadora de liberdades. A cabeça é feita pelos media, por aparelhos simplificadores, por programas e canções imbecis. O espírito crítico vai sendo destruído. A rebeldia ficou para trás, completamente minada. Casam-se ou não. Têm filhos. Transmitem aos filhos a sua ignorância ou até o desamor. Trabalham, produzem, consomem. Correm para casa para ligar o ecrã. Raramente são autênticos, raramente são vivos, raramente têm um gesto de grandeza, celebram apenas nas datas marcadas. Normalmente são mesquinhos, invejosos, intriguistas, merceeiros. Querem "subir na vida" e acumular dinheiro, passar por cima do parceiro se preciso for. Perdem o espírito crítico, nunca colocam as grandes questões. Estão sempre às ordens do chefe, do governo, do especulador. Fazem do futebol a religião. Coscuvilham sobre a vida alheia. Serão sempre homens e mulheres pequenos, como dizia Nietzsche, sem luz, sem nobreza, sem grandeza, sem liberdade, sem poesia, quase sem amor. Chegam a velhos e o que fizeram? Alguma vez celebraram verdadeiramente a vida? Alguma vez questionaram o sentido da vida? Alguma vez puseram a máquina em causa? O que fazem aqui? Porque vieram? Serão realmente humanos?

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Monday, January 07, 2013

A. PEDRO RIBEIRO NA VILATECA

Poeta, dos bons, e poeta que escreve na mesa de café, é considerado um dos últimos poetas românticos. No final deste texto vão ficar a perceber porquê. E se calhar ficaram desapontados com o romantismo, por passar a conhecer o lado desconhecido do romantismo.






Na sociedade moderna existem demasiadas coisas com que nos preocupemos, demasiada informação para assimilarmos e bastante pouco tempo livre para desfrutarmos. O poeta portuense António Pedro Ribeiro parece não querer acreditar nisso e poderá vir a ser o último poeta romântico português.





Edita com regularidade por editoras que passam despercebidas ao público em geral. António Pedro Ribeiro, é um poeta, que segue a máxima de Rui Reininho, é preciso subir ao povo. O poeta não se considera um autor exclusivamente político. Até porque, na senda de Breton, a política não existe separada da vida. O amor, o sexo, a liberdade e a revolução são todas uma coisa só que as máquinas castradoras do sistema sempre tentaram dividir. Mas, ao fim e ao cabo, felizmente nunca o conseguiram no que respeita a alguns homens e mulheres. Nietzsche fala no espírito livre e em Dionisos e eu acredito. Diz.





Afirma que já fez muitos disparates. Diz que assim evitar apodrecer de tédio ou apodrecido de tédio ou de depressão. Mesmo quando estou a brincar ou com os copos, penso que as pessoas inteligentes entendem que já escolhi o meu lado da barricada. Há quem me ame e quem me odeie.





Sente-se um “poeta maldito”, como o eram Rimbaud, Baudelaire ou Sade? Afirma.

Mas não se coloca ao nível de Rimbaud, Baudelaire ou Sade. No entanto, tem a certeza que é deles, que vem dessa linha de malditos onde incluo também Blake, Lautreamont, Jim Morrison, Nietzsche, Henry Miller, Bob Dylan, Allen Gingsberg, Péret e tantos outros. Retorque que não nasceu para os empregos das 9 às 5 – dou-me mal neles, a rotina mata-me. Léo Ferré disse que o artista aprende a profissão no inferno. Eu vou lá muitas vezes e gosto, porque o céu, muitas vezes, é uma seca, com todos aos beijinhos, aos abracinhos, aos boatos, aos mexericos, às panelinhas e eu detesto. Serei um poeta maldito, mas isso não significa que não ame a Humanidade, as mulheres bonitas, o sol, as crianças. Esta merda que nos querem impingir é que eu não aceito. De qualquer modo, não sou, não quero ser, o versejador da corte.

Eis o busto de António Pedro Ribeiro, em carne e osso; e em poesia. Para terminar deixo-vos um poema presente o livro Saloon. Que podem conhecer ou adquirir na Vilateca Livraria Galeria.

Madalena





Para a Paula





Deste-me a morada

A meio da tempestade

Vieste por entre os duendes ao lugar a trip





Imaculada

Levaste-me do túmulo

E levaste-me pela mão de Deus

Para fora dos bares e dos artifícios do demo

Das cassetes pirateadas das notícias do templo

Beijaste-me a outra face e amaste-me.




Publicada por Vilateca Livraria Galeria em 09:08
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