Sunday, August 31, 2008

JOAQUIM CASTRO CALDAS

JOAQUIM CASTRO CALDAS



António Pedro Ribeiro



Foi o Joaquim Castro Caldas que me ensinou a dizer poesia. Foi o Joaquim Castro Caldas que me mostrou aquele jeito rebelde e sarcástico de lidar com as palavras. O Joaquim foi o mentor das noites de poesia no Pinguim quando uma multidão acorria àquele bar no Porto para ,simplesmente, ouvir e dizer poesia. O Joaquim foi um dos maiores divulgadores da poesia neste país. E era, também, um excelente poeta. Quando escrevo estas linhas o Joaquim se não está morto deverá estar às portas da morte. Agora é fácil culpar o álcool, as úlceras, a vida que o Joaquim levava. Agora toda a gente vai procurar os escritos que o Joaquim deixou por aí espalhados.

O Joaquim Castro Caldas tinha um feitio difícil. Por vezes, parecia arrogante. Mas por detrás dessa aparente arrogância havia uma grande generosidade. A generosidade de quem viu o inferno mas também o céu.

A obra do Joaquim não teve o reconhecimento que merecia. Porque o Joaquim era um verdadeiro poeta. Levou uma vida de poeta. Andou pelos bares, procurou a loucura. Não foi um desses versejadores da corte, bem comportadinhos, sempre à cata do prémio. Olha, Joaquim, espero que te safes desta. Senão vai para o céu. Vai para o céu, porque o mereces.

Saturday, August 30, 2008

DIÁRIO

Um gordo imbecil e brasileiro fala ao telemóvel e exibe-se. Os cães passeiam-se. A gaja bonita vem. A cerveja vai-se. A Gotucha espera em casa. O Tribunal permanece defronte. Até parece que o dinheiro não é necessário. Até parece o paraíso. Mas depois vem sempre o cobrador e a máquina registadora. Merda!

Friday, August 29, 2008

Este blog está com pouca actividade. Consultar http://xamachama.blogspot.com, http://tripnaarcada.blogspot.com ou www.myspace.com/manacalorica.

BRAGA


Há gajos que só têm bolas de futebol no cérebro
Eu? Correr atrás de uma bola?
Que corram os gajos!
Se ainda fosse atrás de uma mulher ou de uma revolução...

e os gajos que entram e saem
está-se sempre a entrar e a sair
como no sexo
aqui na "Brasileira" ao menos os gajos
cumprimentam-me sempre
mesmo que não me vejam há mil anos

gosto desta cidade.

Thursday, August 21, 2008

REVOLUÇÃO

Deixei de depositar qualquer esperança na classe operária. Tinhas razão, Gotucha, quando dizias que eu andava demasiado agarrado aos conceitos marxistas-leninistas. Sim, ainda acredito na revolução. Mas não numa revolução dirigida por uma única classe. Numa revolução baseada no terrorismo poético, uma revolução poética, artística que exclui naturalmente os poetas da corte, sempre prontos a receber as honrarias do poder.

Thursday, August 07, 2008

SANGUE EM DIRECTO


SANGUE EM DIRECTO

Ao Adolfo Luxúria Canibal

Assalto a banco em Lisboa com reféns
armas apontadas à cabeça
e as cãmaras apontadas da televisão
jornalistas patéticos
um balázio nos cornos
a polícia é uma delícia
é a sociedade-espectáculo
aqui a tens
nua e crua
tiros e sangue
gritos
o far west
em directo para a televisão
e tu assistes
vibras
bates palmas
em directo para a televisão

sangue em directo
sangue em directo
sangue em directo

MACEDO E SALMONELAS


CANDIDATURA DO PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO À CÂMARA DA PÓVOA



O Partido Surrealista Situacionista Libertário e a Frente Guevarista Libertária decidiram apoiar a candidatura do camarada António Pedro Ribeiro à Câmara da Póvoa de Varzim em solidariedade com os blogues povoaonline e povoaoffline, por considerar que Macedo Vieira e a sua equipa querem instaurar um regime semi-fascista na Póvoa com estátuas de majores fascistas (Major Mota) e com o silenciamento de toda a crítica, além de gestão duvidosa. Por considerar ainda que os partidos institucionais da esquerda à direita fazem o jogo do capitalismo, uns mais, outros menos, o PSSL/FGL apresenta-se em lista própria, anarquista, sem chefes nem controleiros. Porque queremos um mundo sem dinheiro e o céu na terra, agora!



Póvoa de Varzim, 7 de Agosto de 2008,



Com os melhores cumprimentos,

Pelo PSSL/FGL

António Pedro Ribeiro

César Taíbo

Joana Dias

tel. 965045714

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http://xamachama.blogspot.com

http://partido-surrealista.blogspot.com

www.myspace.com/manacalorica

Wednesday, August 06, 2008

A VOZ DA PÓVOA


SECÇÃO: Cultura

Entrevista a Perfecto Cuadrado


Reabilitação do Quotidiano
Perfecto Cuadrado nasceu numa aldeia de Zamora, Espanha, em 1949. Catedrático de Filologias Galega e Portuguesa da Universidade Ilhas Baleares. Coordenador do Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, Vila Nova de Famalicão. Investigador, Ensaísta, Critico e Tradutor. Organizou várias antologias de poesia portuguesa, com destaque para os poetas surrealistas. Prémio de tradução Giovanni Pontiero, em 2004.


Voz da Póvoa – O que pensa da constante adulteração da palavra surrealismo?


Perfecto Cuadrado – Infelizmente, estamos num momento de progressiva degradação, banalização, corrupção e prostituição da linguagem. As palavras, como dizia Mallarmé, têm que ser recuperadas outra vez e devolvidas ao seu sentido puro. O termo surrealismo é usado alegremente, como se significasse gente maluca, coisas bizarras, disparates. É extraordinário, provavelmente poucas palavras chegaram a um nível de degradação tão profunda como esta do surrealismo.


V.P. – O que sugere como elemento de transformação e mudança?


P.C. – Convém declarar que o surrealismo é um movimento de vanguarda do século XX, com os seus poetas e artistas, as suas obras plásticas ou literárias. É uma proposta que pretende juntar a vida à arte. Mas por detrás de tudo isso, é uma proposta profunda de revolução social, ética e política. Isto é esquecido sempre. O termo surrealista deveria designar o mais alto nível do nosso desejo, dos nossos anseios de transformação positiva de reabilitação de vida quotidiana.


V.P. – Como explica o acaso e o objectivo no surrealismo?


P.C. – Para Breton, se formos pela vida com a curiosidade infinita da criança, do forasteiro, do poeta e, absolutamente disponíveis, o amor que procuramos, os objectos dos nossos mais íntimos desejos que passamos na vida, obrigatoriamente vão ter que se manifestar. Aí está o acaso. Por isso, tinha que me encontrar não só com o surrealismo, mas também com Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Risques Pereira, todos os surrealista portugueses, como me encontrei na vida com muita gente.


V.P. – A poesia pode estar no mais fundamental da vida quotidiana?


P.C. – Há uma antologia de poesia surrealista, em francês, com o título “as palavras fazem amor”. O poeta o que tem de conseguir é pôr a cama no melhor espaço e melhor ambiente para que as palavras façam amor. Este é o poeta que consegue criar o ambiente adequado para que nele, e através dele, as palavras cheguem a viver, a gozar e, a partir daí, procriar outras palavras maravilhosas, outras imagens, outro mundo.


V.P. – Qual é o objectivo do Centro de Estudos do Surrealismo?


P.C. – Com a promessa da construção do Centro de Surrealismo em Famalicão, o projecto passa por reunir, preservar e divulgar o surrealismo português. Entre doações e compras, temos mais de 2500 obras importantíssimas, uma biblioteca extraordinária, com manuscritos e obra inédita de vários autores, que queremos ver ampliada. A ideia é fazer de Famalicão uma espécie de foco, de radiação, de divulgação, de difusão e de internacionalização do surrealismo português.


V.P. – Investigador, crítico, tradutor, há algo mais em Perfecto Cuadrado?


P.C. – Estou integramente em tudo aquilo que faço. Estou naqueles que aprendi e apreendi muita coisa, dos que fiquei com parte deles e que também ficaram com parte na minha vida. O Perfecto Cuadrado de toda a vida continua a ser o mesmo. Pessoa absolutamente curiosa, fascinada e embriagada pela própria vida, sempre à procura de alguma coisa mais.