Sunday, January 27, 2013

ABSOLUTAMENTE CERTO

À hora do jantar o "Vip" está às moscas. Estão longe os tempos do Luís e da Carla quando havia motivos de conversa e eu bebia aqui umas cervejas e até vendia uns livros.


A gaja da novela das 7 continua a excitar-me. É uma óptima actriz. Mas eu definitivamente não sou de telenovelas. Não segui essa via. Era bom que houvesse mulheres bonitas aqui no café e não na TV. As da TV não as posso tocar. Só posso olhar para elas. Se bem que, para mim, os tempos estejam a mudar. Há coisas que começam a estar ao meu alcance, assim o penso. De qualquer forma, já pouco tenho a perder. Essa é a verdade. Não tenho que esconder as minhas opiniões e convicções. As pessoas vão envelhecendo, é certo. Contudo, eu não envelheci por aí além. Há aspectos em que até rejuvenesci. Sinceramente rejuvenesci. Estou mais solto do que estava há 10, 15, 20 anos. Pelo menos em certos aspectos. Acredito em mim mais do que acreditava. Do nada nasce o texto. Só preciso de encontrar companheiras, companheiros. Uns, mal ou bem, vão criando os filhos. Eu vou inventando textos. É a minha profissão, a minha missão na Terra. Além disso, sou um actor. Represento nos palcos e na vida. Ás vezes até sou um bocado sacana. Aprendi a sê-lo. Apanhei patadas. Já não sou o menino puro dos 18 anos. Ganhei vícios. Como este de permanecer no café em vez de ir para casa. Raramente escrevo em casa. Vou seguindo o meu pensamento. Espeto-o no papel.

Não é provável que venha a ter filhos. Não poderia sustentá-los. Embora, no fundo, até os desejasse. Enfim, já poderia ter acontecido. Estou aqui para a vida, não para a morte em vida. Vim gozar, celebrar mas também descobrir, conhecer. Chego à conclusão de que estou certo, de que, no fundo, quase sempre estive certo. E começo a perder o medo. Temo os pitbulls, temo os leões mas não temo os governantes nem os capitalistas. Enfrento-os com ou sem a caneta. Realmente eu é que estou certo. Não me quero armar em detentor da verdade mas eu é que estou certo. Cometi erros mas, ao fim e ao cabo, fiz o que tinha a fazer, disse o que tinha a dizer. Só preciso de me esforçar um pouco mais, de fazer um pouco mais, de dizer um pouco mais, de escrever um pouco mais.



Friday, January 11, 2013

A DITADURA DA ECONOMIA

Edição 84, 11 Janeiro 2013


CONTRA A DITADURA DA ECONOMIA

Eis o que a ditadura da economia, da poupança e do sacrifício nos traz, nas palavras do filósofo José Gil: a diminuição da liberdade, a redução do espaço de expansão dos corpos, dos movimentos próprios de exploração, de investimento afectivo, de espontaneidade do desejo, o controlo permanente, a autodisciplina mutiladora da vontade de vida. As pessoas podem deslocar-se, podem ir até ao café mas há qualquer coisa que as impede de serem plenamente elas, qualquer coisa que violenta a sua essência, qualquer coisa que vem das palavras e das leis impostas pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças, qualquer coisa que vem dessa linguagem fria, mecanizada, castradora, que tem por trás de si uma máquina mediática e financeira. É por isso que importa pensar, que importa questionar, que importa desmontar e, ao mesmo tempo, gritar bem alto que este não é o caminho, que este não é o único caminho possível, que viemos para a vida, que viemos para a liberdade, que não temos de nos sacrificar, que não temos de obedecer a deuses nenhuns nem aos da economia.

Fomos abençoados à nascença. A vida é uma aventura, não uma prisão. Viemos para nos realizarmos aqui, para desenvolvermos ao máximo as nossas potencialidades aqui na Terra. Não temos que aceitar qualquer ditadura.


A MORTE EM VIDA

Às vezes questiono-me sobre o que é que determinadas pessoas vêm fazer à vida. Na infância ainda brincam mas depois começam a ser encaminhadas para o mercado. Na escola, de uma maneira geral, salvo umas asneiras, acabam por ser alinhadas com o sistema. Refugiam-se nos grupos, na moda, fazem parte da manada. E ainda que questionem tudo isso, esse questionamento é passageiro. Depois começam a entrar no mercado de trabalho, a integrar-se na máquina, hoje cada vez mais castradora, mais privadora de liberdades. A cabeça é feita pelos media, por aparelhos simplificadores, por programas e canções imbecis. O espírito crítico vai sendo destruído. A rebeldia ficou para trás, completamente minada. Casam-se ou não. Têm filhos. Transmitem aos filhos a sua ignorância ou até o desamor. Trabalham, produzem, consomem. Correm para casa para ligar o ecrã. Raramente são autênticos, raramente são vivos, raramente têm um gesto de grandeza, celebram apenas nas datas marcadas. Normalmente são mesquinhos, invejosos, intriguistas, merceeiros. Querem "subir na vida" e acumular dinheiro, passar por cima do parceiro se preciso for. Perdem o espírito crítico, nunca colocam as grandes questões. Estão sempre às ordens do chefe, do governo, do especulador. Fazem do futebol a religião. Coscuvilham sobre a vida alheia. Serão sempre homens e mulheres pequenos, como dizia Nietzsche, sem luz, sem nobreza, sem grandeza, sem liberdade, sem poesia, quase sem amor. Chegam a velhos e o que fizeram? Alguma vez celebraram verdadeiramente a vida? Alguma vez questionaram o sentido da vida? Alguma vez puseram a máquina em causa? O que fazem aqui? Porque vieram? Serão realmente humanos?

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Monday, January 07, 2013

A. PEDRO RIBEIRO NA VILATECA

Poeta, dos bons, e poeta que escreve na mesa de café, é considerado um dos últimos poetas românticos. No final deste texto vão ficar a perceber porquê. E se calhar ficaram desapontados com o romantismo, por passar a conhecer o lado desconhecido do romantismo.






Na sociedade moderna existem demasiadas coisas com que nos preocupemos, demasiada informação para assimilarmos e bastante pouco tempo livre para desfrutarmos. O poeta portuense António Pedro Ribeiro parece não querer acreditar nisso e poderá vir a ser o último poeta romântico português.





Edita com regularidade por editoras que passam despercebidas ao público em geral. António Pedro Ribeiro, é um poeta, que segue a máxima de Rui Reininho, é preciso subir ao povo. O poeta não se considera um autor exclusivamente político. Até porque, na senda de Breton, a política não existe separada da vida. O amor, o sexo, a liberdade e a revolução são todas uma coisa só que as máquinas castradoras do sistema sempre tentaram dividir. Mas, ao fim e ao cabo, felizmente nunca o conseguiram no que respeita a alguns homens e mulheres. Nietzsche fala no espírito livre e em Dionisos e eu acredito. Diz.





Afirma que já fez muitos disparates. Diz que assim evitar apodrecer de tédio ou apodrecido de tédio ou de depressão. Mesmo quando estou a brincar ou com os copos, penso que as pessoas inteligentes entendem que já escolhi o meu lado da barricada. Há quem me ame e quem me odeie.





Sente-se um “poeta maldito”, como o eram Rimbaud, Baudelaire ou Sade? Afirma.

Mas não se coloca ao nível de Rimbaud, Baudelaire ou Sade. No entanto, tem a certeza que é deles, que vem dessa linha de malditos onde incluo também Blake, Lautreamont, Jim Morrison, Nietzsche, Henry Miller, Bob Dylan, Allen Gingsberg, Péret e tantos outros. Retorque que não nasceu para os empregos das 9 às 5 – dou-me mal neles, a rotina mata-me. Léo Ferré disse que o artista aprende a profissão no inferno. Eu vou lá muitas vezes e gosto, porque o céu, muitas vezes, é uma seca, com todos aos beijinhos, aos abracinhos, aos boatos, aos mexericos, às panelinhas e eu detesto. Serei um poeta maldito, mas isso não significa que não ame a Humanidade, as mulheres bonitas, o sol, as crianças. Esta merda que nos querem impingir é que eu não aceito. De qualquer modo, não sou, não quero ser, o versejador da corte.

Eis o busto de António Pedro Ribeiro, em carne e osso; e em poesia. Para terminar deixo-vos um poema presente o livro Saloon. Que podem conhecer ou adquirir na Vilateca Livraria Galeria.

Madalena





Para a Paula





Deste-me a morada

A meio da tempestade

Vieste por entre os duendes ao lugar a trip





Imaculada

Levaste-me do túmulo

E levaste-me pela mão de Deus

Para fora dos bares e dos artifícios do demo

Das cassetes pirateadas das notícias do templo

Beijaste-me a outra face e amaste-me.




Publicada por Vilateca Livraria Galeria em 09:08
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