Friday, May 27, 2011

RIBEIRO NAS QUINTAS DE LEITURA

«A 117ª sessão das "Quintas de Leitura", ciclo poético promovido pela Câmara Municipal do Porto através da Fundação Ciência e Desenvolvimento, realiza-se no próximo dia 26 de Maio de 2011, às 22h00, no Café-Teatro do Teatro do Campo Alegre.



A sessão intitula-se "Vida no Campo" e tem um carácter vincadamente performativo, juntando dois grandes comunicadores: o geógrafo Álvaro Domingues e o poeta A. Pedro Ribeiro.



Depois do êxito de "A Rua da Estrada" (2009) e "Casas Kitadas" (2010), Álvaro Domingues vai, desta feita, surpreender-nos com uma conferência esquisita sobre "Vida no Campo". Álvaro Domingues desvenda um pouco do que está na origem da sua dissertação performativa:



"Vida no Campo é esta vida difícil de não ter tido ainda tempo de ruminar o sentimento de perda de um certo rural profundo. Nos anos 50 do Séc. XX, Portugal atingiu o auge da população e do território mobilizado pela agricultura. Hoje, o PIB na agricultura não chega aos 4%. É esse o número que mede o que se denomina como desruralização . Venha o Freud para explicar este mau luto pelo que se perdeu e ainda teima em persistir, como presente-ausente, na paisagem, em quem a olha e nos destroços que deixou.”



Na segunda parte, sobe ao palco A. Pedro Ribeiro, poeta situacionista libertário e tudo, que contará, nas leituras, com a cumplicidade de Susana Guimarães. A sua performance será, como habitualmente, marcada pelo tom audaz e provocatório que, estamos certos, agitará a plateia. Este espectáculo será também uma noite cheia de música.



Na primeira parte, a tão esperada e reclamada actuação de "NOISERV", o indelével projecto do músico David Santos que já encantou salas emblemáticas como as do Music Box, Santiago Alquimista, Coliseu dos Recreios, Coliseu do Porto, Cinema S. Jorge, Casa da Música, Galeria Zé dos Bois, Mercado Negro, entre muitas outras.



David Santos será acompanhado em palco pela ilustradora Diana Mascarenhas. Oportunidade ainda para ouvir os "OPUS DIABOLICUM", habituais companheiros de estrada dos Moonspell. A banda de classical metal , formada por quatro violoncelistas e um percussionista/pianista, irá mostrar-nos que o TCA fica algures entre o Inferno e o Paraíso. E, como diria o Poeta, "no FIM disto tudo um Azul-de-prata."»

Saturday, May 21, 2011

QUEIMAI O DINHEIRO


Arquivo: Edição de 07-05-2009

SECÇÃO: Cultura

Entrevista a António Pedro Ribeiro


Voz Sem Dono
António Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em Maio 1968, e vive em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. É Licenciado em Sociologia. Tem sete livros de poesia editados, destaque para: à mesa do homem só, Silêncio da Gaveta, 2001; Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, Objecto Cardíaco, 2006; Sallon, Edições Mortas, 2007; Um poeta a Mijar, Corpos Editora, 2007. A 22 de Maio em Braga, na Centésima Página, apresenta o seu mais recente livro “Queimai o Dinheiro”.




António Ribeiro
A Voz da Póvoa – O título é o fósforo que incendeia os poemas do livro?


António Pedro Ribeiro – “Queimai o Dinheiro”, está claramente ligado ao livro. O dinheiro e tudo o que gira à volta da economia de mercado é cada vez mais como um deus. Há um discurso económico das estatísticas, das percentagens, das bolsas, dos mercados, que domina tudo. Há uma linguagem quase hermética que poucos dominam. O livro funciona como uma denúncia.


A.V.P. – A forte carga política que o livro tem pretende mexer consciências?


A.P.R. – Tem uma parte claramente politizada, rebelde, anti-capitalista, onde vou buscar muita coisa aos surrealistas, aos situacionistas e a Nietzsche. Há muitos textos poéticos que vão contra esta sociedade de rebanho, de merceeiros que temos. Isto está tudo nas mãos de banqueiros e especuladores bolsistas. Temos ladrões nos bancos e nas bolsas e ninguém é punido.


A.V.P. – Para um poeta de intervenção a denuncia deve ser uma luta permanente?


A.P.R. – Hoje faz mais sentido que nunca. Não nos mesmos moldes do antes do 25 de Abril, porque há novos dados. O capitalismo não é o mesmo, mas a luta é. Neste livro há também poemas e textos que são mais ligados às deambulações nocturnas, ao jogo sensual e sexual, muito claramente à mulher, com uma parte mais mística ligada ao sentido da procura do amor.


A.V.P. – Transportas esta ideia do livro para o palco dos recitais?


A.P.R. – Tenho feito intervenções com a poesia de choque e tento transpor isso para o palco. Às vezes de uma maneira mais teatral, utilizando elementos cénicos, queimando notas falsas. Já tenho tido manifestações de pessoas que vem falar comigo no fim. Há sempre quem não goste e até se sinta incomodado.


A.V.P. – Queimar o dinheiro é metafórico, ou é possível recuar ao tempo da troca?


A.P.R. – Tem um sentido metafórico, mas também levanta a questão da troca directa. O dinheiro é muito mais que uma moeda ou um papel. O dinheiro é um símbolo, um deus que parece estar acima de tudo, que comanda todas as relações. Poucas vezes conseguimos escapar à sua influência. Talvez em algumas relações de amor, de amizade ou fraternidade. Tornou-se uma espécie de monstro que está em todo lado. Domina todas as outras ciências. Subjuga todas as artes.


A.V.P. – A sua poesia é muito referenciada, os mestres estão sempre presentes...


A.P.R. – Tem a ver com o que leio. Ultimamente voltei ao Nietzsche, li pela primeira vez filósofos gregos como Platão e indirectamente Sócrates. Tenho a vantagem de ter muito tempo para ler. Isso naturalmente reflecte-se no que escrevo.


A.V.P. – Tal como Mário Viegas dizia, a poesia é mais forte que uma arma?


A.P.R. – Não sei se tem mais força que todas as armas, mas é poderosa. É a arma que os poetas têm e que as pessoas que contactam com a poesia podem ter. É uma arma que acaba por ter muito mais influência do que outras vias de luta.

"A Voz da Póvoa", entrevista por José Peixoto.

Thursday, May 19, 2011

LADRÕES CAPITALISTAS


Gestores das cotadas portuguesas ganham 125 milhões de euros por ano
Lisboa, 19 mai (Lusa) - As remunerações globais dos administradores das empresas cotadas na NYSE Euronext Lisboa ascenderam a 124,7 milhões de euros e...



Gestores das cotadas portuguesas ganham 125 milhões de euros por ano
Lisboa, 19 mai (Lusa) - As remunerações globais dos administradores das empresas cotadas na NYSE Euronext Lisboa ascenderam a 124,7 milhões de euros em 2009, quase 300 mil euros por administrador, segundo os dados da CMVM a que a agência Lusa teve hoje acesso.

Durante a tarde, num seminário que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) promoverá em Lisboa dedicado ao "Bom Governo das Sociedades", deverão ser divulgadas as remunerações individuais dos gestores das cotadas portuguesas.

De acordo com a CMVM, em média, cerca de 9,1 em cada 10 euros de remunerações pagas concretizou-se sob a forma de remunerações fixas (55,9 por cento) ou variáveis (35,2 por cento).

As remunerações restantes, menos comuns, que reflectem fundamentalmente responsabilidades de médio e longo prazo (designadamente pensões), representaram 8,8 por cento do total de remunerações recebidas pelos administradores considerando todo o perímetro de consolidação das respetivas empresas.

"As remunerações fixas assumiram particular relevância entre as empresas não integrantes do PSI20, representando 71,4 por cento do total de remunerações dessas empresas. Nas empresas que adoptaram o Modelo Dualista, as remunerações variáveis corresponderam a 61,9 por cento das remunerações totais", destacou o supervisor do mercado português.

Contudo, as duas empresas que adoptaram este modelo de governo tiveram comportamentos distintos. No caso da EDP, as remunerações variáveis atingiram 74,5 por cento do total de remunerações (o valor mais elevado registado nas empresas da amostra), enquanto no caso do BCP apenas houve remunerações fixas.

Em média, para a globalidade das empresas da amostra, a componente variável das remunerações dos membros executivos dos órgãos de administração foi de 40,0 por cento.

As remunerações que reflectem responsabilidades de médio e longo prazo destacam-se pelo relevo que assumiram - cerca de 12 por cento - entre as empresas não integrantes do PSI20 e as do Modelo Anglo-Saxónico. Em ambos os casos, os pagamentos baseados em ações e/ou outros instrumentos financeiros (cerca de 6 por cento das remunerações totais) foram preponderantes.

As empresas do Modelo Dualista foram as que assumiram menos responsabilidades de médio e longo prazo (2,5 por cento das remunerações totais).

DN.

Lusa/Fim

Wednesday, May 18, 2011

RUA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO

Rua Antônio Pedro Ribeiro - Jaboticabal - Bairro: Planalto Itália - Cep: 14890-444 - São Paulo

Monday, May 09, 2011

ILUMINAÇÃO


Iluminação

É de novo madrugada. E escrevo. Ao som dos Led Zeppelin. Não sei o que passa comigo. Será o Graal? Será o Quinto Império? Será o Jesus do padre Mário? Há várias noites seguidas que não prego olho. A música dos Zeppelin em vez de me fazer adormecer põe-me em cima. Apetece-me berrar. Acordar a aldeia toda. Despertá-los da vidinha e do trabalhinho de todos os dias. Bem era preciso um abanão desses. A ver se esta gente ACORDA. Dormem. Estão todos mortos e eu aqui cheio de pedal. ACOOOOOOOOOOOOOORDEM! Um desses berros à Jim Morrison. Para despertar as consciências. Para os fazer ver a vidinha estúpida e fútil que levam. Casa-trabalho-família e pouco mais. Estais mortos! Comunicais mortos. Amais mortos. Assim permanecereis por mil anos até ao romper do feitiço. Escrevi isto há muitos anos. E está cinco estrelas. E é a verdade. Estais mesmo mortos. Viveis mortos. A vossa vida não tem sentido. Por quanto mais tempo deixareis que vos enterrem a cara na merda? Por quanto mais tempo permanecereis mortos? Não escutais o amor, não vêdes o Graal, como eu? Porque não me seguis? Porque tendes medo da liberdade? Porque não me acompanhais? Porque não sois como eu? Será que sou feito de matéria diferente? Será que já estive morto e voltei à vida? Será que sou o cavaleiro do Graal? Porque é que tenho iluminações? Alucinações? Delírios? Mas é tão bom ser irmão dos deuses. É tão bom partilhar com os meus companheiros a Boa Nova. É tão bom ser humano. Não pensar nas coisas em que os outros passam a vida a pensar. É tão bom conseguir passar a mensagem. Conciliar Jesus com Zaratustra e com Artur. Esta noite renasço. Definitivamente, renasço. Não mais mesquinhez, não mais inveja, não mais rivalidades. Sou o rei que procura. Sou o poeta do bem e da eternidade. Estas palavras não são minhas: são-me ditadas por alguém que desconheço. Estou iluminado pelos deuses, como dizia Platão. E que importa dormir se estou às portas do paraíso? Que importa dormir se me estou a encontrar, a tornar-me naquilo que sou, como dizia Nietzsche. Era bom que este estado fosse eterno, que nunca mais voltasse à terra da bruma e da desolação. Mas eu tenho de regressar, de descer à montanha, de ir ter com a populaça ao mercado. Porque é o mercado que comanda tudo. E eu odeio o mercado e por isso tenho de o combater. Estou do lado da Vida.

António Pedro Ribeiro

Publicada por manuel em 11/27/2009

DECLARAÇÃO DE AMOR EM BRAGA




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LIVRO APRESENTADO EM BRAGA
Poeta Pedro Ribeiro faz "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro"


[14/06/2006 14:00] O politicamente incorrecto poeta portuense António Pedro Ribeiro veio a Braga, quinta-feira, apresentar a sua "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas - Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário", obra surrealista e directa que não poupa nas palavras fortes para fazer uso da liberdade de expressão.



"Ele tem um modo de estar arrogante, intolerante e mecânico, um modo de falar robótico, tecnológico", diz Pedro Ribeiro sobre José Sócrates, actual chefe do Governo português, a quem dedica o poema que dá nome ao seu mais recente livro.

Mas além do primeiro-ministro, que o autor, rebelde assumido, pretende ver "num filme porno", há outros visados. "Este livro não é apenas uma dedicatória a José Sócrates, é um livro assumidamente anarquista, guevarista. Todos os poderes estão em causa, não é só o primeiro-ministro", explicou o próprio ao Jornal Digital aquando do lançamento na Livraria Centésima Página, em Braga, cidade onde viveu muitos anos.

"Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", título cuja escolha "não foi inocente", reconhece o autor, é também um manifesto contra o que se passa actualmente nos partidos políticos em Portugal. Os três primeiros textos são dedicados à Póvoa de Varzim, Porto e Vila do Conde "e respectivos presidentes de Câmara", refere o poeta. Com a primeira autarquia diz ter "uma especial relação de amor. Mais até do que com Sócrates". E nem a Igreja nem os jornalistas escapam à visceral "paixão" de Pedro Ribeiro.

A obra, editada no início do ano pela objecto cardíaco, do escritor valter hugo mãe, que esteve presente na apresentação, é "muito influenciada" por leituras que o autor fez no Verão passado.

Admirador dos situacionistas e dos surrealistas, o poeta utiliza algumas técnicas que estes usaram, nomeadamente a colagem. Em muitos dos seus textos mistura, por exemplo, excertos de notícias de jornais com frases suas ou de outros autores.

Fundador da revista "aguasfurtadas", A. Pedro Ribeiro, que nasceu no Porto no famoso ano de 1968, publicou já outros livros e manifestos. "Eu também escrevo poemas de amor melancólicos", lembra o escritor que é também autor do blog "trip na arcada" e membro da banda Las Tequillas. Alguém que acredita "que a criatividade é o último reduto da rebelião".

Madalena Sampaio

Sunday, May 08, 2011

DIONISOS E O NOVO HOMEM


Pelo mundo inteiro há uma juventude que já não aceita passivamente a redução da vida a uma fórmula única e irreversível. As palavras de Jim Morrison, desaparecido há 40 anos, voltam a fazer sentido perante uma revolta sem líderes, sem hierarquias, não dirigida, convocada pelo Facebook. "We Want the World and We Want it Now!" de "When The Music's Over" é o grito daqueles que já nada têm a perder, P daqueles que reclamam o mundo e a vida que lhes têm sido roubados pelos banqueiros, pelos mercados e pelos políticos ao serviço destes e daqueles. No Cairo, em Atenas, mesmo em Lisboa, no Porto ou em Braga, está a nascer um novo homem. Um homem ainda em fase embrionária, o "homo sapiens-demens" de Edgar Morin que volta aos tempos bíblicos, aos ensinamentos dos mestres antigos, de Jesus, de Buda, de Platão, de Sócrates (mesmo não os lendo) mas que, ao mesmo tempo, se serve da Internet, do Facebook, para comunicar e para fazer a revolta. Como diz, Carlos Coelho (Jornal "I", 7/3/2011), curiosamente criador de marcas, "hoje, pela primeira vez na História, existe uma consciência planetária, supraterritorial, supracultural, suprarreligiosa, supra-económica e suprapolítica. Uma gigantesticamente invisível bomba nuclear, constituída pela energia atómica de cada um de nós e que nenhuma arma de guerra convencional conseguirá parar". Há uma consciência que afirma, na esteira de Nietzsche, Morrison e Henry Miller, a própria vida, a vida em si mesma, como valor fulcral- e ao afirmar a vida, afirma também a defesa da natureza, do planeta ameaçado. Um novo homem que se recusa a ser o macaco que mercadeja e rasteja, que está farto do paleio da economia e da competividade, que ama o conhecimento e a beleza. Um homem que não aceita mais esmolas e migalhas- se muitos pedem esmola é porque outros lhes roubaram e roubam o que é seu de direito, a sua própria vida. Um novo homem que sabe que é único e irrepetível, abençoado pela graça do nascimento que não tem preço e, por isso, próximo de Deus ou de ser, ele próprio, um deus. Um homem que está a nascer de novo, que está a tornar-se naquele que é, na criança sábia de Nietzsche. Um homem que é sobretudo Arte, a quem foi confiada a Criação, a quem compete afastar as Trevas dos mercados, do tédio e da ganância e trazer ao mundo o Amor da mulher pela criança. Um novo homem que é também dança, canto, celebração, que não aceita ser escravo de coisa nenhuma, que quer viver, gozar a vida na sua plenitude e não ter a felicidade controlada pelos media ou pelas agências de "rating". Um novo homem, Dionisos talvez.·

Monday, May 02, 2011

RENATO FILIPE CARDOSO

Renato Filipe Cardoso 2 de Maio de 2011 12:54

bênção da pasta

o senhor ministro tem a bênção da pasta.
repito, o ministro tem a bênção da pasta
não lhe importa quanto gasta
não quer sequer que lhe digam quanto gasta
está-se a cagar para o que se cá gasta.
a regalia a mordomia principal não lhe basta
a principesca impunidade imoral não lhe basta
o autismo a esquizofrenia social não lhe basta
pois se a opulência ministerial não deve ser casta
gasta o que gasta
e pronto
e basta

o instituto da treta que asila o tio-avô influente e sisudo não basta
a filha subsidiadamente tonta e prolífera não basta
o filho pródigo galardoado com um salário chorudo não basta
a irmã de caridadezinha carnuda o cunhado cornudo não basta
o primo feito director administrador yes-man sim-senhor não basta
a assessoria que sustenta o amigo chico-expert não basta
a amiga artista iconoclasta da inefável praça tiesca insuflável não basta
o zelador de segredos compadre burgesso barrigudo não basta
o desfile de despesas ajudas de custo ao entrudo não basta
o prémio rechonchudo do habilidoso do guloso do jeitoso não basta
o criado mudo de língua cuidadosamente arquivada em formol não basta
o tecto que retribui o afecto da amante com periquito e cão não basta
a obrigação de retenção na fonte feita cumprir pelo mastodonte não basta
a teta de uma incomensurável vaca a greta aberta à faca não basta
a reforma daqui a reforma dali a outra reforma de acoli não basta
a casinha a casa o casarão do passarão o palácio do felácio a quinta
a sexta a sétima a seguinte não basta
o mercedes e as sedes
o bê eme e o delirium treme
o lexus e os sexus de insuspeitos conexos
o motorista de sua excelência orçamental que se despista
e derrapa nos multimilhões alcatroados da autopista
do carro o escarro que brutalmente nos atira à cara não basta
a bastonada cirúrgica e justificada pela soberana pancada
do taco número cinco para o par o birdie o eagle não basta
o country club elitista exclusivo para gente oca e rasca não basta
a conta na suíça que nenhum barbeiro consegue aparar não basta
a negociata o submarino a fragata o cruzeiro a regata não basta
o off-shore o off-limit o of course não basta
o fuck you very much não basta
o polvo é quem mais ordena não basta
o contribuinte transformado em pedinte não basta

o ministro tem a pasta do Que Se Fodam Todos
ei-lo excelência reverendíssimo senhor ministro dos engodos
usando e abusando da sua governação de inspiração pederasta
financiado pelo programa feder a torto e a direito
e por uns quantos amigos do partido do peito
que ao fim e ao cabo
para elogiar e limpar a ministerial trampa do rabo
dão sempre jeito

nada do tudo que tem e do tanto que rouba alguma vez lhe basta
e toda a decisão dialéctica de poupança se arrasta
e qualquer hipotética solução de mudança se arrasta
enquanto o país deriva e se afasta
enquanto o povo se criva e se priva e se enfrasca
enquanto ainda lhe dão crédito na tasca
(já que nos bancos só emprestam uma ferrugenta piasca)
enquanto a vida se atasca
enquanto o futuro se enrasca
porque o ministro detém, detém firme e hirta realmente a pasta
detém porque a sua experiência é relevante, impactante e vasta
detém apesar do esforço abnegado e sobrehumano que tanto o agasta
e afinal mudar é coisa que sempre acarreta uma consequência nefasta
e para nefasta
a realidade actual já basta

o penhor sinistro tem a bênção da pasta
a bênção é a roca que traz desde o berço maçónico em que nasceu
ou então foi depois alguém que lha opus deu
ou a grande puta que o pariu
ou outra qualquer que ele fodeu
mas qualquer das hipóteses perdura, não se desgasta.
depois, para compensar o que gasta
para recuperar o que nunca jamais em tempo algum lhe basta
o ministro é o primeiro
e segundo e terceiro
e quarto até se de seis estrelas houver
(pois que se recusa a deitar numa cama qualquer)
a executar ao povo a sua perdulária canastra
a aplicar cegamente a lei seca com que a justiça vergasta
a leiloar tudo o que se assemelhe a humanidade em hasta

hasta quando?
hasta siempre comandante,
hasta

renato filipe cardoso (17.04.2011)