Sunday, December 30, 2012

A ECONOMIA DA SERVIDÃO

DAS ORIGENS DA ECONOMIA DA SERVIDÃO

A economia da exploração do homem pelo homem, do animal pelo homem e da natureza pelo homem, começou no dia em que uma criança de três anos disse "isto é meu", e as outras crianças a levaram a sério!



A partir daí criaram-se as condições para o mundo se transformar numa autêntica "criancice", e surgiram condições para aparecimento da escravatura do homem (sob as mais diversas formas: esclavagismo, servos da gleba, proletariado industrial), forjou-se a crueldade contra os animais pela mira do aumento e da concentração da propriedade privada (e claro pela mera diversão) , e forjou-se o desrespeito pelo ecossistema natural.



Numa palavra, a partir dessa "criancice" as sociedades humanas cairam na "canalhice"! Passou a predominar a adoração á concentração da propriedade privada , através da adoração do lucro sobre todas as coisas!



Por isso podemos concluir que o actual sistema de economia de mercado capitalista (pelo qual meia dúzia de accionistas exploram até ao tutano humanos, não humanos e natureza) é o expoente máximo de uma "criancice" (que inspirou o ensaio sobre a cegueira de Saramago) a qual nunca deveria ser toma da a sério. Mas foi, e essa criancice, plasmada no "isto é meu", gerou o maior boom do crescimento económico das sociedades humanas, mas um crescimento pelo crescimento, subordinado ao máximo lucro, à sua acumulação e concentração em cada vez menos mãos!



De facto, e olhando para o desrespeito com que alguns seres humanos, detentores da "propriedade privada", ou seja detentora da propriedade dos meios de produção tecnológicos e financeiros, tratam os outros seres humanos (considerados como meros factores de produção submetidos á lógica do máximo lucro que alimenta a riqueza dos proprietários), ao desrespeito e mesmo crueldade a que são submetidos os animais, igualmente submetidos a essa cadeia do lucro (apelidada de cadeia de criação de valor!), e o próprio desrespeito para com o equilíbrio do ecossistema natural pondo em perigo a viabilidade do próprio planeta terra, podemos então concluir que o nascimento da propriedade privada, e o seu correlativo endeusamento, ou seja o fortalecimento do"isto é meu" , começou a marcar o desaire fundamental que está na origem de todos os males de que padece o ser humano, o animal e a natureza na história marcada pela sociedade humana!







A CONSTRUÇÃO DE UMA ECONOMIA DA COOPERAÇÃO



Saramago explicou isso tudo no seu "ensaio sobre a cegueira"! Trata-se de desfazer a criancice do "isto é meu", ou seja de essa criancice não ser levada a sério, de as outras crianças não permitirem que essa criancice seja consolidada.



No estádio actual do desenvolvimento económico, social, cultural e histórico, a única via aceitável e operante só pode ser mesmo a da democracia directa e participada de todos os cidadãos, a qual terá o trabalho imenso de desconstruir as fundamentações jurídicas favorecedoras da propriedade privada, invertendo o seu favorecimento, e promovendo a cooperação económica e social, a equidade e a justiça social.



É um caminho que exigirá muito esforço e muita luta por parte de todos os cidadãos, mas que é necessário perseguir e persistir, para acabar com a economia da servidão e para implantar em seu lugar, de forma democrática e massivamente participada, uma economia da cooperação, solidária e integrada numa estratégia de desenvolvimento sustentável, ancorada na vertente humana, animal e ambiental.



Só dessa forma será possível dar andamento a uma práxis política baseada na SHAA proclamada por Gandhi, e traduzida concretamente na solidariedade humanística, animal e ambiental!



Mãos á obra! Para começar saibamos exigir e impôr uma democracia directa e participada que abula de vez com a Cleptocracia e com a corrupção do poder político!

  MANUEL SALGADO ALVES

Wednesday, December 26, 2012

O POEMA DO INFERNO





Menino,

Escuta,

Nós somos os teus fantasmas

Viemos infernizar-te a mente

Não fujas

Tudo o que realmente fizeste aqui

Está a ser julgado

Todos os teus passinhos de medo

Todas as tuas fraquezas

Quando não foste capaz de levantar a voz

Para defender a dama

Quando te acobardaste

Ou te refugiaste no racional

Sim, porque tu és racional, menino,

És mesmo o mais frio e racional de todos

Poderias ser um líder, um ditador

Ainda podes sê-lo, menino

De qualquer forma,

Agora nada tens a perder

És menino para isso

Quando o álcool se mistura

Com os medicamentos

É um cocktail molotov

Tens uma história, menino,

És um profissional da desordem

Como diz o ministro

És isso mesmo

Basta acender o rastilho

És um mau menino

Onde está o teu bom coração?

Onde estão as falinhas mansas?

Vá, menino, impõe-te

Toma conta disto

Chegou a hora do juízo final

Desta vez não te fiques

Por umas cervejas

Parte mesmo

Incendeia

Faz o teu número

O teatro

Que sabes fazer

Faz lá o risinho sarcástico

Enganaste-os a todos

Mesmo à dama

Chegou a hora de incendiar



Traz a tua rainha

Celebra-a

Deixa-te de escritos menores

Esta é a poesia

Que vem do inferno

Incendeia, menino,

Tu sabes fazê-lo

Agora são eles

Que começam a ter medo de ti

Também, coitados, só têm o futebol

E o dinheirinho na cabeça

Enquanto que tu és

Um revolucionário alucinado

Agora reinas

Rei da armadura dourada

Vens, de facto, dos séculos

Para travar a batalha

Não cedas mais

Não distraias a atenção

Com coisas menores

É a hora

É Natal

Ah! Ah! Ah! Ah!

O outro nasceu

Depois foi crucificado

Não estavas a brincar

Quando partiste os vidros dos carros

Não estavas a brincar

Quando derrubaste a estátua

Tens seguidores, menino

Com eles podes tomar o mundo



Eis o poema que vem do inferno

Directamente dos teus fantasmas

Estamos a dar-te forças, menino,

Agora já podes rir

Agora já podes dançar

És o super-homem de Nietzsche

Orgulhoso, cabotino, terrível

Deixa de parte a bondade

Não dês sinal de fraco

Há quem te esteja sempre

A pôr à prova

Brilha como um deus

Impõe-te nas tuas quintas

E fora delas

Aproveita a energia que te damos

A energia que estava adormecida

E que agora arde

E que agora queima

Que já esteve a espaços

Em alguns poemas

Mas que agora é total

Não tenhas medo, menino

Nós damos-te forças

És o anti-cristo

És Jesus

Como tu houve poucos na História

Não vieste para desempenhar

Tarefas menores

Rotineiras

Vieste para reinar

Reclama o trono

Não queriam o fim do mundo?

Aqui o tem,

Profeta do apocalipse

Poeta sem limites

Senhor das quintas e dos quintais

Vieste mesmo

Infernizar-lhes a vida

Julgavam-te um amigo do povo

Um esquerdista inofensivo

Mas tu odeias a gentalha

Odeias realmente a gentalha

E as suas conversas primárias e imbecis

No fundo, és um aristocrata

Um menino que teve necessidade

De criar mundos

Para combater o tédio

Serás sempre o menino

E por isso acreditam em ti

Mesmo quando fazes asneiras

Começas a assustá-los, sabes?

És mesmo um fora da lei

Não suportas os controleiros

E os polícias

Mesmo que aparentemente os respeites

És perigoso

Consegues ser fascista

Mostras o teu lado bom

Mas, no fundo, és terrível

Usas as pessoas

Encanta-las

Quando vens choramingar

Ouve, menino,

São os teus demónios que te falam

A tua escrita obedece-nos

És o grande maldito

Se quiseres

Aqui te juramos o nosso amor

Vitória ou loucura

Escolhe

Vê bem o que vieste fazer

Prepara-te

Vem aí a grande revolução.



Vilar do Pinheiro, 24.12.12

Wednesday, December 19, 2012

A LIBERTAÇÃO

Ouço as conversas. Tão pobres. Só falam de dinheiro e de posses. Definitivamente fogem ao essencial. À nossa libertação. À nossa libertação do jugo do grande mercado, da máquina, da castração. Eles- governos, poder financeiro, grandes media- querem impedir-nos de viver, querem castrar a nossa liberdade, a nossa individualidade. Esta é a verdade. Desde a infância que eles nos tentam fazer a cabeça. Querem reduzir-nos ao pensamento único, à felicidade da maioria, à ignorância. Querem que nos deixemos levar, que não os questionemos, que não os punhamos em causa. E se realmente não nos revoltarmos, não apenas uma mas várias vezes, as vezes que for necessário, seremos sempre enganados, seremos sempre escravos, por muito dinheiro e posses que tenhamos.

Friday, December 14, 2012

A MORTE EM VIDA


Às vezes questiono-me sobre o que é que determinadas pessoas vêm fazer à vida. Na infância ainda brincam mas depois começam a ser encaminhadas para o mercado. Na escola, de uma maneira geral, salvo umas asneiras, acabam por ser alinhadas com o sistema. Refugiam-se nos grupos, na moda, fazem parte da manada. E ainda que questionem tudo isso, esse questionamento é passageiro. Depois começam a entrar no mercado de trabalho, a integrar-se na máquina, hoje cada vez mais castradora, mais privadora de liberdades. A cabeça é feita pelos media, por aparelhos simplificadores, por programas e canções imbecis. O espírito crítico vai sendo destruído. A rebeldia ficou para trás, completamente minada. Casam-se ou não. Têm filhos. Transmitem aos filhos a sua ignorância ou até o desamor. Trabalham, produzem, consomem. Correm para casa para ligar o ecrã. Raramente são autênticos, raramente são vivos, raramente têm um gesto de grandeza, celebram apenas nas datas marcadas. Normalmente são mesquinhos, invejosos, intriguistas, merceeiros. Querem "subir na vida" e acumular dinheiro, passar por cima do parceiro se preciso for. Perdem o espírito crítico, nunca colocam as grandes questões. Estão sempre às ordens do chefe, do governo, do especulador. Fazem do futebol a religião. Coscuvilham sobre a vida alheia. Serão sempre homens e mulheres pequenos, como dizia Nietzsche, sem luz, sem nobreza, sem grandeza, sem liberdade, sem poesia, quase sem amor. Chegam a velhos e o que fizeram? Alguma vez celebraram verdadeiramente a vida? Alguma vez questionaram o sentido da vida? Alguma vez puseram a máquina em causa? O que fazem aqui? Porque vieram? Serão realmente humanos?

Friday, December 07, 2012

HOMEM LIVRE

Penso que hoje poderia passar dia e noite a escrever. Posso até gerar estrelas de tal forma me sinto grávido. Posso também ouvir os meus semelhantes que se queixam e estão mortos por chegar a casa. Chegar a casa. Chegar a casa, ligar a TV e olhar para as imagens, as imagens que vivem por nós em vez das imagens que podemos gerar, de tudo o que podemos gerar. Ó senhores, que “vida” levais? Sois escravos, todos vós. Ainda não percebestes que nada está acima da vida, da vida autêntica. Seres de luz vêm ter comigo e dizem-mo. Para alcançar a glória basto-me a mim mesmo. Para alcançar a glória basta-me estar aqui nesta confeitaria de Vilar do Pinheiro. Peregrinações virão a Vilar do Pinheiro. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Estou louco. Não vedes? Absolutamente louco, absolutamente criança, absolutamente sem limites. O que fazer mais hoje? O que fazer mais aqui? Danço com o super-homem. Brindo, celebro. Estou louco, mãe. Porque me trouxeste para aqui? Parecia que vinha para a vida regrada mas não vim. Aos 17/18, aos 19, aos 20, tornei-me outro. Em Braga, nos bares, na Rádio Clube do Minho. Os Doors, os Joy Division, os UHF. A TV sempre a martelar. Mas eu era diferente, tornei-me diferente. Ah! Não me atirem dívidas, contas, economistas! Eu estou para lá. Eu nasci para lá. Reinos esplendorosos, reinos de luz. Sou tão louco, mãe. Eu inventava jogos, personagens. Eu criei mundos. Eu naveguei por mares jamais navegados. Eu brincava com as meninas. Tinha uma namorada, a Gina. Dava-lhe a mão, dava-lhe beijos. Já nem sei quem sou, mãe. Sei que não pertenço a este mundo. Poucos e poucas realmente me compreenderam. Velhos amigos, à noite, no bar. Onde irei dar? Estou realmente próximo de atingir o que quero. Mas que quero eu senão o mundo? O mundo de aquém e o de além.
Homem livre, és verdadeiramente tu. Homem livre, porque adormeces e agora regressas à vida? Homem livre, eles realmente acham-te estranho, diferente deles. Não és da mesma tribo, talvez até nem sejas da mesma espécie. Não lutas na mesma guerra. Não são teus os tambores que ouves. Homem livre, és daqui e não és. Tanto podes ser rei como podes acabar nas ruas. Continuarás o teu percurso pelos bares e pelas tascas. Este é o teu tempo. Olha, a mulher da confeitaria olhou para o “Socialismo Científico” de Marx, Engels e Lenine que acabaste de ler hoje. Há livros que ainda podem ser explosivos. Tu és explosivo, homem livre. Com ou sem óculos. Poderias realmente passar o dia e a noite a escrever. Voltaste a ser o único cliente da confeitaria. A mulher não pára de trabalhar. Tens publicado textos falhados ou semi-falhados. Este não é um deles.