Sunday, January 23, 2011
REVOLUÇÃO NA TUNÍSIA
Polícias juntam-se aos manifestantes em Tunes para gritar que também são vítimas
23.01.2011 - 10:20 Por Sofia Lorena (texto) e Miguel Manso (fotografia), em Tunes
Votar
|
0 votos
2 de 7 notícias em Mundo
« anteriorseguinte »Centenas de agentes desfilam na mesma avenida em que até agora formavam cordões de segurança. Antigo braço da repressão, ontem foram aplaudidos.
Acenderam-se velas para saudar "os mártires da revolução" (Foto: Miguel Manso)
Foi um sábado de frio mas de muitos sorrisos e gritos nas ruas de Tunes. "Somos todos vítimas", foi um dos mais ouvidos. Polícias, de uniforme e à civil, todos de pano vermelho atado ao braço esquerdo, bandeiras da Tunísia rasgadas em pedaços, abraçaram-se uns aos outros e abraçaram desconhecidos que até há poucos dias corriam à frente dos seus bastões. "Perdoem-nos", disseram alguns.
Os polícias tunisinos começaram a juntar-se aos protestos na sexta-feira, uma semana depois da fuga do Presidente Zine El Abidine Ben Ali. Mas foi ontem que a Avenida Habib Bourguiba de Tunes se tornou deles. Não faltaram carrinhas da força de choque nem carros de bombeiros. Não faltaram militares de hoje nem antigos combatentes.
Os tunisinos tornaram-se numa massa que se organiza a si mesma. Bastam três braços no ar e logo centenas de pessoas se calam para ouvir alguém que subiu a um tejadilho. Bastam alguns pedidos e centenas sentam-se no chão e batem palmas em uníssono.
"Hoje são eles que protestam. Também querem reivindicar os seus direitos", diz Huda, uma jovem de 29 anos que trabalhou como telefonista até ficar desempregada. "Eu percebo que alguns lhes tenham raiva, mas eles são tunisinos. Alguns são meus amigos."
Até agora, as manifestações apupavam os polícias e aplaudiam os militares. Centenas de agentes formavam cordões na mesma avenida em que agora desfilam. Foi a polícia, uma força de 150 mil agentes, que tentou travar a contestação que começou há cinco semanas. Pelo menos 100 civis morreram na repressão. Sabe-se que as chefias militares recusaram defender o Presidente e os soldados são vistos como heróis.
Depois de 23 anos em que a polícia funcionou como olhos e ouvidos da ditadura, ontem chegou a reconciliação.
Caixas de pizza viradas ao contrário serviram de cartazes onde se lia: "A polícia ao lado do povo." Oficiais do Exército subiram ao tejadilho de uma carrinha da polícia e, entre braços no ar e gritos de "vitória", cantaram o hino a uma só voz com polícias e tunisinos de todas as idades. À passagem das viaturas, famílias agitavam bandeiras e lançavam papéis brancos a partir de varandas.
Os polícias decidiram juntar-se às manifestações para protestarem contra o governo de transição, liderado por Mohammed Ghannouchi, o primeiro-ministro que já ocupava o cargo antes da queda do Presidente, também para se queixarem dos seus problemas.
Querem um sindicato que os represente e explique ao resto da população que não são "traidores", diz um jovem agente. "Eu ganho 350 dinares [menos de 200 euros] e trabalho todos os dias. Sou miserável", afirma. "Todos os privilégios iam para os chefes."
Rap, pintura e velas
Na Habib Bourguiba já só sobra um bastião que a população não tomou: um perímetro de segurança diante do Ministério do Interior, rodeado por arame farpado, com quatro tanques e dezenas de soldados no interior. Em vários momentos do dia, a multidão pareceu prestes a romper este cordão. De repente, uma mulher e uma criança passam para o lado de dentro e sobem ao topo de uma carrinha antimotim com um canhão de água. Um militar aproxima-se e dá-lhes cartazes de apoio à polícia.
No passeio central da avenida, um grupo de jovens artistas decidiu pendurar um pano branco nas árvores e pedir aos tunisinos que pintem com eles. Sprays vermelhos e amarelos servem para desenhar um sol ou escrever "liberdade".
Fatma é a animadora de serviço: com um lençol branco por cima da roupa, ora pinta com pincéis e com as mãos, ora ergue os braços a convidar quem passa a deixar a sua marca.
Dalimiri, nome artístico, e Marwoune Matri, cantor popular, fazem o resto da festa, alternando rap e folclore. "Aproveito a nossa liberdade para me exprimir", diz Dalimiri, 20 anos. "Não queremos o RDC nem Ghannouchi", afirma o jovem
www.publico.clix.pt
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment