Tuesday, September 23, 2008

DADA NO BRASIL


Escolas Literárias > Dadaísmo

O movimento artístico mais contestador surgido na Europa e com claros reflexos no Brasil foi o Dadaísmo, criado em 1916, em Paris, por um grupo de refugiados alemães liderados por Tristan Tzara (1896-1963), poeta judeu-romeno-francês.

“Encontrei o nome casualmente ao meter uma espátula num volume fechado do Petit Larousse e, lendo, logo ao abrir o livro, a primeira palavra que me saltou à vista foi DADÁ.” Assim Tristan Tzara batizou o movimento.

O que quer dizer “dada”? Nada. Pode até significar rabo de vaca, ama de leite, cavalo de pau ou mesmo uma das primeiras palavras emitidas por um bebê: “papá”, “mamá”, “dada”.

Algumas propostas literárias dadaístas:

Liberdade total de criação (“Estamos contra todos os sistemas, mas sua ausência é o melhor sistema”);


Percepção da vida em sua lógica incoerência primitiva;


Criação de uma linguagem totalmente nova;


Ausência de nexo;


Estilo antigramatical;


Anarquia, espontaneidade, desvairismo;


Poema-piada e paródia;


Nihilismo, autofagia.
Para fazer Poema Dadaísta: este poema de Tristan Tzara demonstra e sua técnica literária que, aliás, era a mesma do seu amigo, o pintor alemão Hans Arp, também dadaísta, que fazia cair sobre a tela pedacinhos de papel que eram colocados exatamente onde ficavam parados.

RECEITA PARA FAZER UM POEMA DADAÍSTA

Agarre num jornal e numa tesoura. Recorte um pedaço de um artigo que tenha a extensão prevista para o seu poema. Recorte cada uma das palavras e meta-as numa bolsa. Mexa-as com cuidado. Tire depois cada palavra por sua vez ao acaso. Copie-as conscienciosamente. O poema parecer-se-á com você. E assim se transforma num escritor infinitamente original e de uma sensibilidade encantadora, se bem que incompreendido do vulgo.



No Brasil, o Dadaísmo manifestou-se em várias obras dos modernistas sem, contudo, domina-las integralmente.

Mário de Andrade, no “Prefácio Interessantíssimo” do livro de poemas Paulicéia Desvairada (a primeira obra modernista após a Semana da Arte Moderna), usou bastante da técnica dadaísta. Neste prefácio, o poeta procura criar um alicerce teórico do Modernismo e busca colocar, de forma polêmica, alguns aspectos que cercam a criação poética.

(fragmento)

Leitor:

Está fundado o Desvairismo.

Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.

Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo.

Alias muito difícil nesta prosa saber onde termina a Blague, onde principia a serenidade.

Nem eu sei.



O grande projeto dos modernistas era escrever brasileiro, criar um língua nacional livre. Manuel Bandeira, grande poeta modernista e amigo de Mário de Andrade, obedecendo a um procedimento dadaísta comum na época (a galhofa) fez, no poema a seguir, uma paródia modernista de outro poema do romântico Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha).

ORIGINAL DE MACEDO

Mulher, irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não mulher: ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
E o juramento manto da perfídia.



TRADUÇÃO DE BANDEIRA

Teresa, se algum sujeito banco o sentimental em cima de você

E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde

Se ele chorar

Se ele ajoelhar

Se ele se rasgar todo

Não acredita não Teresa

É lágrima de cinema

É tapeação

Mentira

CAI FORA!

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