Wednesday, November 11, 2009

PORTO, PIOLHO


De novo no "Piolho"
estive com a Alexandra
não põde ficar mais tempo
é pena
ao meu lado fala-se francês
lá fora chove
como sempre
estou com o copo à frente
é esta a minha vida
é isto que tenho a fazer
as gajas bebem às canecas
e o futebol dá na TV
comecei a ler o livro
do padre Mário da Lixa
o padre proscrito
o padre maldito
e as praxistas sentam-se
a meu lado
são bonitas
pode ser que alguém me reconheça
agora que vou às "Quintas de Leitura"
agora que me sinto uma estrela
as praxistas acariciam-se
nos cabelos
a gaja francesa
saca de uma nota de 50
e eu aqui a contar os trocos
de novo a contar os trocos
depois de uns dias de euforia
sou o homem que bebe
e que anda pela cidade
que não consegue ficar bêbado
que ama a liberdade
sinto-me de novo
na Idade do Ouro
nos anos 80 e 90
quando andava à solta
sem juízo
ao sabor do rock
numa onda nietzscheana
e morrisoniana
a cantar e a dançar
na discoteca
a ocupar hipermercados
a praxista da frente
é muito bonita
mas vai embora
"quem irá beber comigo
esta noite?"
- canta o António
e eu prossigo viagem
procuro abrigo
não tenho limites
sou o gajo da caneta
que faz literatura
sou o gajo que leva
o copo à boca
que já não cai
há ano e meio
e que, por isso, celebra
e o sr. Martins
ao balcão
ninguém vem ter comigo
celebrar esta merda
conversas à volta
mas eu não capto nada
sou o gajo que vai ficar
até de madrugada
sou o gajo que marca
o ritmo da casa
que apresenta o livro aqui
que vai ali
e já volta
sou o homem da revolta
o cabotino que canta
sou o homem que faz
o que lhe dá na real gana
que cospe nas instituições
que diverge da família
sou o gajo que cresceu nos bares
que fala a linguagem dos bares e das ruas
e que caga nesta merda
sou o gajo que bebe cervejas
até ao fígado dar o berro
o gajo que fareja
e deixa a vida rolar
não há aqui Jesus, nem Deus
nem Virgem Maria
é apenas o homem a beber
até ser dia
sou o que sou
o que aprendi na rua
e assim hei-de continuar
por muito que te doa.


Porto, "Piolho", 4.11.2009

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