Tuesday, July 19, 2011

NA VIA DA LUZ


Estou na via da luz, do conhecimento. Lembro-me do Jesus da "Última Tentação de Cristo" de Scorcese. Lembro-me do Jesus que hesitava, que não conseguia pronunciar a Palavra. Sinto-me nesse papel, á medida que vou bebendo a sabedoria do padre António Freire, que fala de Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Aristóteles. Veio a luz e escrevi o poema. Veio a luz e voltei a ser louco divino, o ser que persegue a glória. Vim ao mundo, era um miúdo que pensava muito, que brincava muito em casa com os irmãos mas que na escola se comportava demasiado bem, brincava também com as meninas da turma. Tinha um mundo meu, muito meu, onde inventava jogos, personagens, onde questionava o próprio acto de falar. Na adolescência era tímido, demasiado tímido, quase não comunicava com as miúdas. Depois no 12º ano comecei a soltar-me, passeava à noite, ouvia os Doors, tinha paleio para as moças. Depois vieram as noites de Braga, a rádio, os copos, o gosto pela leitura. Depois a revolta contra a Faculdade de Economia, as primeiras depressões, a liberdade, a casa de Braga só para mim. Agora, aos 43, sinto-me, de novo, na estrada do sublime. Há mais de dois anos que não tenho depressões. Sinto-me capaz de escrever a grande obra. As iluminações vieram ter comigo esta noite. Escrevo como os grandes. Tenho uma mente brilhante mas as depressões e o tédio quotidiano tem-na ofuscado. O Jesus de Scorcese torna-se o dono da Palavra. Já posso dirigir-me á praça pública.

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