Em mais uma noite de confrontos na Líbia entre manifestantes pró-democracia e as forças de segurança morreram pelo menos quatro pessoas na cidade de Al Beyida. Para hoje está convocado um grande protesto, um “dia da raiva” contra o regime de Muammar Khadafi.
Para hoje está convocado um protesto contra o regime de Muammar Khadafi (Ismail Zitouny/Reuters)
“As forças de segurança e milícas dos comités revolucionários dispersaram uma manifestação pacífica de jovens usando balas reais, e causaram pelo menos quatro mortes, dezenas de feridos”, denuncia a organização líbia de defesa dos direitos humanos Libya Watch no seu site.
O jornal privado “Quryna”, ligado a um dos filhos de Khadafi, mostrava até há poucas horas imagens da esquadra de polícia daquela cidade, no leste da Líbia, em chamas (o acesso ao site da publicação foi entretanto bloqueado, não sendo ainda claro qual a origem).
Os sites da oposição líbia, incluindo a Libya Al-Youm, com sede em Londres, reportam igualmente a ocorrência de pelo menos quatro mortos, não havendo ainda porém nenhuma confirmação oficial. Outros relatos, feitos nas redes sociais como o Facebook, avançam que as forças de segurança terão disparado sobre a multidão de manifestantes a partir de helicópteros. E a organização líbia Human Right Solidarity, com sede em Genebra, cita testemunhas descrevendo que a polícia tinha atiradores nos telhados a dispararem contra os manifestantes – de acordo com estes testemunhos terão morrido 13 pessoas, alvejadas a tiro.
Já na véspera, a Líbia tinha passado uma noite a ferro e fogo, então na cidade de Benghazi, a segunda maior do país, onde milhares de pessoas protestaram contra a detenção, horas antes, do advogado e activista dos direitos humanos Fathi Terbil – o qual representa as famílias dos prisioneiros alegadamente massacrados pelas forças de segurança líbias na prisão de Abu Slim em 1996.
Várias centenas destes manifestantes entraram em confronto directo com a polícia, lançando pedras e coktails molotov, com os agentes a responderem com canhões de água, gás lacrimogéneo e balas de borracha. Foram então registados 38 feridos.
Por todas as redes sociais circulam há dias apelos para manifestações maciças hoje em todo o país – um “dia de raiva” contra os 42 anos de regime autoritário de Khadafi, em cujo país estes protestos são raríssimos.
A contestação ao coronel, que subiu ao poder com o golpe militar de 1969, parece, porém, estar a ganhar agora fôlego, inspirada pelas revoltas populares que depuseram nas últimas semanas os regimes na Tunísia e Egipto. E o que começou como um protesto contra a detenção do advogado Fathi Terbil é agora um crescendo de vozes contra a corrupção e repressão na Líbia.
Do lado das autoridades, houve também mensagens a correr, desde a noite de ontem, através de SMS enviadas para a rede telfónica móvel onde é feito aviso “aos jovens da Líbia” para não ousarem “passar as quatro linhas vermelhas”: Khadafi, a integridade territorial, o Islão e a segurança do país.
A União Europeia – tal como a Amnistia Internacional – apelaram ainda ontem à noite para que o regime evite o recurso à força contra os manifestantes da oposição. E os Estados Unidos exigiram mesmo a Trípoli que “tome medidas específicas para responder às aspirações, necessidades e esperanças do seu povo”.
Fonte diplomática portuguesa relatou esta manhã que os 177 portugueses que vivem na Líbia não estão preocupados com eventuais confrontos civis naquele país. “Não há qualquer espécie de ansiedade na comunidade portuguesa”, avaliou responsável da embaixada portuguesa em Trípoli, citado pela agência Lusa. E, mesmo com um cenário de convulsão “pouco provável”, a missão diplomática portuguesa na Líbia já preparou um plano e contactou todos os portugueses no país, avançou a mesma fonte.
Thursday, February 17, 2011
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