Sunday, May 24, 2009

LAWRENCE FERLINGHETTI

O OLHO DO POETA OBSCENO VENDO...

O olho do poeta obsceno vendo
vê a superfície do mundo redondo
com seus telhados bêbados
e pássaros de pau nos varais
e suas fêmeas e machos feitos de barro
com pernas em fogo e peitos em botão
em camas rolantes
e suas árvores de mistérios
e seus parques de domingos no parque e estátuas sem fala
e seus Estados Unidos
com suas cidades fantasmas e Ilhas Ellis vazias
e sua paisagem surrealista de
pradarias estúpidas
supermercados subúrbios
cemitérios com calefação
e catedrais que protestam
um mundo à prova de beijo um mundo de
tampas de privada e táxis
caubóis de butique e virgens de Las Vegas
índios sem terra e madames loucas por cinema
senadores anti-romanos e conformistas
[ conformados
e todos os outros fragmentos desbotados
do sonho imigrante real demais
e disperso
entre esse pessoal que toma banho de sol


[Tradução: Paulo Leminski]

1 comment:

Claudia Sousa Dias said...

cuidado: depois de censurarem o vestuário nos liceus, irão censurar a linguagem na literatura, o contúdo erótico da literatura, depois passarão (os passarões necrófagos, obviamente)a queimar os livros e, a seguir, a queimar os homens que os escreveram.

por fim, entrarão nas casas para devastarem bibliotecas e levarem embora as pessoas que leram os livros.

e então, voltar-se-à a cantar Zeca Afonso...


csd