Saturday, March 17, 2012

Á PORTA


Não consigo dormir. Creio que estou a voltar a uma fase eufórica. Foi-se o Rui Costa, foi-se o Ulisses e eu continuo aqui, a percorrer o meu caminho, apesar de sentir dificuldades em respirar, apesar de andar com a barriga inchada. Já é dia. Os pássaros cantam. Bem diz o bom doutor que eu tenho de viver mais o dia. Andei anos e anos pela noite, de bar em bar, até ser dia. Agora acho que preciso da luz do dia. Talvez precise de ser menos o poeta de café, de escrever mais em casa. Tenho saudades de estar em Braga com a Gotucha aquele temo todo que estive o ano passado. Preciso de uma mulher que valorize a minha arte. Que me faça sentir o filósofo. Que crie comigo o super-homem. Sim, acho que poderia fundar uma nova religião. Acho que poderia ter seguidores. Aquela estória da revolução, de conquistar Lisboa com os gajos do rock. Ocupar a aldeia. Dispor da vida das pessoas. Aconteceu em 2007, depois da morte do meu pai. Esse ano foi terrível. Aconteciam mortes, assassinatos na família. Eu matava e ressuscitava as pessoas. O mal que queriam fazer à Gotucha. Aquela vez que apareci caído de bêbado na estrada depois de uma ida a uma tertúlia em Moncorvo. A outra vez que apareci nos campos, nos arredores da Póvoa sem saber como. Andei sete quilómetros a pé. 2007 foi um ano terrível. Pensava que era Deus, sentia transformações, sentia-me Deus. Agora estou aqui. A mente aberta. O dia lá fora. É mais um dia triunfal. As pessoas começam a precisar de mim e a respeitar-me mais. Volto a sentir aquela magia que sentia quando era miúdo. Até me apetece desatar a desenhar por desenhar, sem ter preocupações de me tornar um artista plástico. Definitivamente, enveredei pela carreira das letras. E estou a tentar livrar-me de gorduras desnecessárias. Terei mais cuidado com os próximos livros. Penso que posso chegar a muita gente. Sou um dos poetas malditos mas não serei apenas isso. Serei um filósofo. O que reflecte, o que tira conclusões, aquele que contempla. É importante este esforço de escrever, de manter a disciplina. Nunca me deu para construir personagens, a não ser a minha própria. Ainda assim penso que puderia escrever um daqueles "best-sellers" com as minhas descidas aos infernos ou, pura e simplesmente, com as minhas reflexões. Sim, creio que estou à porta.

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