Wednesday, March 03, 2010

O ACTOR


Estou sujeito a acabar como o Jaime e como o Alba. Sei perfeitamente disso. Estou a seguir a mesma via. Tenho um nome, um certo nome mas isso pode não me servir de muito. O mundo do trabalho começa a não ser para mim. A eficácia, a competividade não são para mim. Não nasci para isso. No liceu, em Braga, ainda me integrava no sistema. Tirava boas notas. Ia às aulas. Era um jovem promissor. Mas depois veio o Roger Waters, o Jim Morrison, o "Apocalipse Now". Ainda por cima fui parar à Faculdade de Economia. Comecei a pôr tudo em causa. Os números, as contas, a eficácia. Ainda fui dar à Faculdade de Letras, a Sociologia. Mas depois veio a estória do Feira Nova. A primeira alucinação. O filme. As grandes depressões. As humilhações públicas. Nunca mais fui o mesmo. Busco o conhecimento, o despojamento, a iluminação. Não busco, como o meu pai, o conhecimento da Matemática e da Física. Busco o conhecimento do Homem. O sentido da vida. Há quem pense que o faço apenas por gozo ou para ocupar o tempo mas eu faço-o por necessidade. É uma busca permanente. Um experimento. Bem sei que em certos meios não me dou a conhecer. Bem sei que só pontualmente tenho um feitio expansivo. Que, se calhar, deveria divulgar mais as minhas teses fora dos locais de espectáculo. Mas também não posso estar sempre a expõr-me. Não posso ser sempre o actor.

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