Thursday, March 11, 2010

HAKIM BEY


Zona Autónoma Temporária, Hakim Bey
15 May 2006 1 Comentário


Zona Autónoma Temporária é um livro sobre o presente. Sobre o que está a acontecer e não sobre o que aconteceu ou irá acontecer. É um livro sobre participar, não sobre ficar a assistir. “O mais importante [neste livro] é não ser um ditado — mas um convite ao jogo. Quer entrar no jogo? Saboreie o jogo. Isto não é um partido comunista”.

Zona Autónoma Temporária é sobre o gosto pelo Caos — “único monstro merecedor de adoração” e percursor de toda a ordem e entropia —, o caminho que nos leva para longe do aborrecimento da civilização e das ideias de bem e de mal que nos venderam. É um manual sobre Terrorismo Poético, a arte que abandona os palcos e as galerias, surgindo nos lugares mais inusitados, de forma a causar um choque tão intenso quanto a emoção do terror — “uma poderosa aversão, uma excitação sexual, uma angustia dadaesca (…)”. Ilegal — “a arte como crime; o crime como arte” — como o Amour Fou, não é fruto da liberdade mas sim a sua pré-condição. É a fuga da mediação, dos sentidos e de toda a arte. “A verdadeira arte é o jogo, e o jogo é a mais imediata de todas as experiências”. Mas se não for ilegal, e “em segredo — tal como os Tong — de modo a evitar toda a contaminação pela mediação”, nada disto é válido. Por oposição ao espectáculo, o Imediatismo é uma festa, “pois todos os espectadores terão igualmente de ser executantes”. É a forma encontrada para humanizar a nossa condição de vitimas e criminosos, alimentada pela cultura chui, já que todos os prazeres são ilegais — “hoje em dia até os churrascos ao ar livre violam as normas sobre fumos poluentes.”.

Hakim Bey, pseudónimo de Peter Lamborn Wilson, classifica as suas ideias como anarquismo ontológico, ou imediatismo, sendo estas uma mistura de situacionismo e, os improváveis, sufismo e neo-paganismo — algo para muitos incompatível.

Recheado de ideias estimulantes, o livro não se revela tão bom ao nível da escrita, que não parece ser o forte de Bey, podendo acabar por prejudicar o que se pretende transmitir, principalmente para os mais desprevenidos ideologicamente.

Esta pequena edição portuguesa da Frenesi deixa também um pouco a desejar por não ser uma tradução directa do livro de Bey com este nome, nem sequer de uma das 3 partes em que se encontra dividida a obra original: Chaos: the broadsheets of ontological anarchism; Communiques of the association for ontological anarchy e The temporary autonomous zone. É, curiosamente, a tradução de 6 textos, seleccionados pelo escritor, que integram um álbum, baseado na obra, produzido por Bill Laswell e com musica dos Material, Nicky Skopelitis, Wu Man, Buckethead, entre outros, em que o autor lê excertos do livro. Quatro desses textos são tirados da obra original (Caos, Terrorismo Poético, Amour Fou e Boicotemos a cultura chui) e os outros dois de um outro livro chamado Immediatism, Essays by Hakim Bey (Imediatismo e Os Tong).

Zona Autónoma Temporária é um dos livros mais importantes da cultura subversiva dos últimos anos, sendo por isso alvo de constantes discussões e estudos e influência de diversos movimentos sociais. Para aqueles que procuram compreender o mundo que nos rodeia, e estar activos de alguma forma na subversão da sociedade do espectáculo, talvez este seja um livro a não deixar passar ao lado.

por Diogo Duarte

Zona Autónoma Temporária
Hakim Bey
Trad. Jorge P. Pires
Frenesi
2000

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