Sunday, February 03, 2013

O GRITO PLENO E A INOCÊNCIA

O fracasso das manifestações de ontem (2 de Fevereiro) prova que o 15 de Setembro já lá vai, abafado pelo bombardeamento diário da máquina dos media, dos mercados e dos políticos ao serviço destes. Também é falso que esteja tudo dito acerca do capitalismo como alguns advogam porque todos têm acesso à net, etc. O capitalismo é mesmo o contrário da vida, quer reduzir-nos à condição de escravos, destrói-nos com privatizações e sacrifícios. O capitalismo quer reduzir-nos ao infantilismo, atira-nos filmes e programas imbecilizantes, quer reduzir-nos ao primarismo intelectual, à futebolite aguda. O capitalismo droga-nos de modo a que não discutamos, a que não pensemos os problemas, a que não desenvolvamos as nossas potencialidades. E é necessário, mais do que nunca, pensar, debater, discutir. Sem dúvida que é também necessário discutir o que fazer. Teremos que fazer chegar a palavra. Continuamos a dizer que há gente irremediavelmente perdida. Que há gente até onde a palavra nunca chegará, de tal modo está contaminada pela máquina. Mas há também certamente gente angustiada, cheia de dúvidas. É a esses que teremos de chegar. Em todos os palcos que pisamos. Assim a vida não é vida. Assim a vida são filmes menores, telenovelas. Assim a vida é, na maior parte das vezes, obrigação, castração. Não é liberdade, amor, poesia. Não é experimento permanente, não é banquete. É sempre o homem e a mulher violentados, o homem e a mulher cheios de medo de perder o dinheiro, de perder o emprego, de perder a vida. Raramente há o grito pleno, primordial, inaugural do homem que nasce, do homem que cresce, do homem que reina. Apesar da amabilidade de alguns, há sempre o dinheiro que tens de dar, há sempre o cálculo, há sempre a mercearia. Com alguns e algumas ainda manténs conversas elevadas mas, de resto, é o deserto, é a vidinha. Ainda depositas esperanças nas crianças que brincam. Ainda há a inocência. Inocência que ainda tens, em parte, apesar das patadas.




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