Friday, November 04, 2011

POETA MALDITO


Ei, tu aí, Wall Street,
julgas-te toda-poderosa
mas não passas de uma treta
ei, vós, bolsas, mercados,
não sois mais
que tigres de papel
ei, multinacionais,
telejornais,
políticos
eu estou aqui
não me deixo levar
pela conversa
o caminho é meu
sofro
mas depois subo
não me condenais
prefiro ir
até ao inferno
ao menos lá
sou autêntico
ao menos lá
sou sincero
parto vidros
ameaço
ponho o país a arder

prefiro ser só
único
irrepetível
vou até ao fim
não me levais
a Europa está perdida
atirais palavras
ao caos
morreis aos poucos
não tendes futuro
"no future"
com os Clash
e os Sex Pistols
agora sou punk
pilho supermercados
não espereis de mim
moderação
estou farto
daquelas histéricas
na televisão
o caos aí à porta
e elas a dar prémios
absurdo
é absurdo
tendes pés de barro
sou o poeta
que vos desafia
hoje, 4 de Novembro
de 2011
cuspo-vos na cara
atiro-vos pedras
como em Atenas
sou o único
basto-me a mim próprio
sou soberano de mim
e das minhas ideias
sou vontade
posso
possuo
crio
destruo
sou eu próprio Deus
não quero notícias
não quero marcas
não quero mentiras
deixai-me a sós
com o meu espírito
deixai-me a sós
com Hamlet
não vos reconheço
não vos cumprimento
na rua
sou de mim
regresso a mim
não trabalho
não quero trabalhar
ide vós trabalhar
16 horas por dia
para o governo
eu não vos pertenço
eu permaneço
aqui neste café às moscas
é noite lá fora
e eu estou iluminado
abençoado pelos deuses
a escrita flui
cavalga
hoje nem sequer espero a mulher
a potência voltou
não sou o Rodrigues dos Santos
nem o Sousa Tavares
eu sou a POTÊNCIA
embriago-me sem álcool
dialogo com Sócrates e Jesus

Ei, Wall Street
ei, Bruxelas
ei, Frankfurt
olhai, sou um pássaro
sou uma luz
bem sei que nem sempre
dou importância à forma
mas este é o poeta maldito
não o queríeis?
Pois, é ele
aqui está
a assustar as velhinhas
e as vizinhas
ele aqui está
mais saudável do que nunca
mais lúcido do que nunca
o café é o seu castelo
daqui combate os inimigos
daqui abraça os amigos
a sua arma é a caneta.

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