Saturday, September 24, 2011

O APROFUNDAMENTO DO VIVO


Raoul Vaneigen tem razão. Temos de aprofundar o vivo em detrimento da economia. Nascemos para a vida. É ridículo passar a vida num emprego entediante, atrás de um salário que cada vez dá para menos. Nós viemos para o conhecimento, para o auto-conhecimento e para a bondade, não para o negócio. Temos de viver em função da vontade de viver, do viver por ñós mesmos. Vaneigen abre-me a mente. A economia faz-se em função da redução, da austeridade, da poupança, da culpa, da mesquinhez, e contraria tudo o que é exuberante e grandioso. O capitalismo rouba-nos a infância, a juventude, a descoberta, a própria vida. "Nada mata mais uma pessoa do que contentar-se com sobreviver", diz Vaneigen. É da arte de viver que falasmos. Da arte de gozar o instante, de o eternizar. Por isso, somos também poetas vadios. Construimo-nos na vida quotidiana. Às vezes, como agora, atingimos a criança sábia. às vezes parece que há anjos que nos tocam, que somos tocados pela beleza. Então amamos desesperadamente a vida, o milagre de estarmos aqui vivos. Não o cumprir um trabalho ou uma tarefa mas o estar aqui, sem castrações nem regras. É também o acto de dar a nossa arte ao mundo. A dádiva. Sem exigir quaisquer recompensas.

No comments: