Saturday, September 24, 2011

A DEPRESSÃO

A DEPRESSÃO

Sair de casa era um pesadelo naqueles dias. Jorge comprou o jornal e dirigiu-se a um café onde, à partida, não havia perigo de ser reconhecido. A leitura do jornal era a única forma de se ocupar, de afastar da mente aqueles pensamentos mórbidos obsessivos. Depois pegava no caderno mas as palavras que saíam eram sempre as mesmas. Estava ali no café, com o terror de que algum conhecido aparecesse. Se tal viesse a acontecer, Jorge não seria capaz de manter uma conversa, limitava-se a soltar monossílabos. Era a incomunicabilidade. Era incapaz de comunicar, mesmo com os seus melhores amigos, que evitava. Faltava às aulas da Faculdade. Os dias repetiam-se vazios, iguais. Passavam-se meses e o inferno da depressão sempre ali, não passava. Quando se deitava na cama pensava em dormir para nunca mais acordar. Outras vezes lembrava-se dos dias em que a palavra fluía, dos dias em que comunicava com os amigos,. em que tinha uma vontade e era capaz de proferir opiniões sobre as coisas. Como tudo isso parecia longínquo. Jorge pensava em desaparecer, em atirar-se da Ponte D. Luís mas nem forças para isso tinha. Tudo era negro. O próprio raciocínio tornou-se muito lento. Era como se vivesse morto.

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