Thursday, June 16, 2011

O MAU RAPAZ


Para quê trabalhar se a revolução se faz em Atenas e Barcelona? Para quê preocupações com o dinheiro se os multibancos ardem em Portugal? Para quê ter as conversas da rotina e da vidinha se os tsunamis devoram a terra no Japão? Para quê ser um cidadão bem-comportado e cumpridor se vem aí a grande explosão? Para quê seres quem tens sido, para quê seres quem tens sido, para quê seres amável, se a guerra está aí? Quem és tu, quem sou eu, com o mundo a arder? Para quê morrer se podes nascer? Porque é que continuas a ouvir e a tomar nota da conversa dos imbecis? Quem és tu, quem sou eu, no novo mundo, no novo homem? Até onde vais, até onde serás capaz de ir, quando nada há a perder? Porque não voltas a levantar a voz? Só tens que ter medo dos leões e dos pitbulls, mais nada. De resto, és rei nesta terra inóspita. Alguns saúdam-te. Apesar de tudo, ainda amas o homem. És louco. É isso que te tem mantido aqui. Vá lá que ainda te podes agarrar à caneta. A caneta é a tua salvação. Tem sido, particularmente ao longo dos últimos anos. De qualquer forma, o que estás a escrever agora é uma bomba, não é para mostrar a toda a gente. Fartas-te de poetas menores. A gaja está operacional para a revolução. Os negócios do mundo começam a dizer-te respeito, ó poeta. És do mundo e destróis o mundo. ÉS do mundo e crias o mundo. Não és, definitivamente, do trabalhinho e do empreguinho. Normalmente és bom mas, em certos casos, certas noites, tornas-te mau, filho de Satã, absolutamente maléfico. Escreves, pois é isso que sabes fazer. Vives porque não suportas mais estar morto. Estás claramente acima desses macacos escrevinhadores. Estás ao nível dos maiores. Agora sabe-lo. Agora és definitivamente tu. Definitivamente não, pois ainda há umas mutações por que tens de passar. Mas, não há dúvida, o ouro começa a cair do céu. És quem vem. És todos os filósofos. Aquele a quem os apóstolos abandonaram. És o rei destas paragens. ÉS o mundo que vai ao fundo e que se levanta. és o amaldiçoado que encanta. És o mau rapaz. És aquele que faz.

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