Tuesday, June 07, 2011
ATÉ ÀS PRÓXIMAS
VENHAM AS PRÓXIMAS
António Pedro Ribeiro
Sócrates caiu, finalmente. Chegaram ao fim seis anos de mentira, arrogância e incompetência absoluta. A vitória de Passos Coelho e Paulo Portas é sobretudo a derrota de Sócrates. O PCP de Jerónimo resiste e reforça-se com o deputado do Algarve. O Bloco afunda-se e volta a ser o que realmente é- uma federação de tendências- a UDP de Fazenda, o PSR de Louçã, a Política XXI de Miguel Portas, a Ruptura/FER de Gil Garcia e outras. Ou seja, vai desde a social-democracia ao trotskismo puro e duro. Entendei-vos, camaradas, ou então separai-vos de uma vez por todas. O PCTP/MRPP ultrapassa a barreira mítica do 1%, tal como o Partido dos Animais e da Natureza (PAN), e mantém-se como sexta força política nacional, ficando perto de eleger Garcia Pereira. Aliás, se os principais partidos tivessem comparecido ao debate com Garcia (como foi determinado pelos tribunais), certamente que este teria sido eleito. O Coelho da Madeira passou de quase 40% na ilha e 4,5% no país nas presidenciais à patetice absoluta. Por isso desaparece. E bem. O MEP do queque cristão Rui Marques foi à vida.
Esta foi também a campanha do insulto primário, a mais baixa de sempre. PS e PSD não tiveram pejo algum em usar palavrões como “Saddam Hussein”, “Adolf Hitler” ou pura e simplesmente “pateta” para insultar o adversário. De resto, a “troika”- FMI, Banco Central Europeu, Comissão Europeia- mantém-se aqui a controlar o país e aí nada muda. Os temas financeiros, a TSU e as outras taxas, ou seja, a linguagem assexuada ao serviço dos mercados e dos banqueiros que quase ninguém entende dominaram a campanha. A própria esquerda parlamentar- PCP e BE- não é capaz de ir muito além do discurso economicista, não pondo em causa o capitalismo no seu todo. Como diziam os situacionistas, além do risco de morrer de fome (cada vez mais real), há o risco de morrer de tédio. O tédio é consequência directa de um sistema brutal e inumano que (quase) tudo castra. É a morte em vida que inclui o aumento galopante das situações de depressão, bem como o avanço das tentativas de suicídio e de suicídio, sobretudo no Alentejo. Quase ninguém nesta campanha foi capaz de se referir aos problemas existenciais do “mal de vivre”, à dramática questão da solidão. Os políticos do sistema nem sequer vivem, estão fora da vida, como dizem Miller, Morrison e Nietzsche, quase se limitando a vomitar percentagens e estatísticas. Jamais questionarão o homem de Homero, de Sócrates (esse mesmo, o grego, o outro está moribundo…), de Pessoa, de Shakespeare, de Marx, de Bakunine. São seres absolutamente limitados.
Por sua vez, o cidadão comum, na sua maioria, vota nesses partidos, está de tal forma dominado pelas tricas televisivas e pela máquina que perdeu toda a capacidade de reacção e de reivindicação. É escravizado pelo trabalho (quando o tem…), pelos mercados e pelos poderes vários. Compete às minorias conscientes mudar este estado de coisas. Há sinais que vêm de fora, da Grécia, de Espanha, da Islândia, do Egipto, da Tunísia, do Iémen, da Síria. Há também (ou havia) os acampados, os “indignados” da Batalha, do Rossio, de Barcelos, de Faro, de Coimbra. Os tempos estão a mudar, cantava Bob Dylan. É preciso tomar consciência do novo mundo, do novo homem, da era do espírito que preconizava Agostinho da Silva. Por todo o lado, os velhos valores começam a entrar em decadência. Um novo espectro se levanta, meu caro Marx. Transmutação de todos os valores, meu caro Nietzsche. Estas eleições pouco ou nada resolveram. Venham as próximas…
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