O maior plano de sempre de resgate a um país pode não ser suficiente. Dada a onda de contestação social, a Grécia corre o risco de não conseguir ter condições internas para aplicar todas as medidas de austeridade que lhe estão a ser exigidas. Os protestos voltaram ontem às ruas de Atenas
(Aris Messinos/ AFP Photo)
A dívida helénica pode sofrer um reescalonamento. Espanha e Portugal podem ser obrigados a pedir ajuda financeira. O euro pode não resistir a esta crise. A União Europeia pode ter de deixar falir alguns Estados. Estas foram dúvidas que dominaram ontem os mercados financeiros e que estiveram na base de nova hecatombe nas bolsas, de uma forte desvalorização do euro, de nova escalada nos juros das obrigações dos países do Sul da Europa.
A bolsa de Lisboa perdeu 4,21 por cento, a de Madrid 5,41 por cento, e a grega 6,68 por cento. As restantes congéneres europeias e a praça de Nova Iorque também fecharam no vermelho. No centro da violenta queda dos mercados esteve o sector financeiro - pela forte exposição à dívida pública grega - e, ainda, a participação que alguns bancos, designadamente alemães, vão ter no plano de resgate. Em Lisboa, o BCP caiu mais de seis por cento, o BES e o BPI caíram 4,5 por cento.
Segundo dados divulgados ontem, os bancos portugueses aparecem em terceiro lugar, depois dos alemães e franceses, como os mais expostos à dívida helénica. Terão em carteira cerca de 10 mil milhões de euros de obrigações gregas. Ontem, alguns bancos europeus registaram perdas de 7 por cento, mas foi o Nacional Bank of Greece a perder mais de 12 por cento.
E agora?
O que podem fazer os países que são vítimas da desconfiança dos investidores para travar esta onda devoradora dos mercados? Não é fácil responder. Em relação a Portugal e Espanha, a solução pode ser não fazer nada. Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, admite que tudo o que possa ser anunciado, neste momento, como medidas complementares para combater o défice pode ser anulado pela pessimismo dos investidores.
Depois de ter lançado uma recompra de Obrigações do Tesouro, para dar um sinal de confiança ao mercado, o PÚBLICO apurou que o IGCP, instituto de gestão da dívida pública portuguesa, vai manter o leilão de Bilhetes do Tesouro (com a maturidade curta, até ao limite de 12 meses), no montante de 500 milhões de euros, prevista para hoje. Segundo uma fonte próxima, o IGCP entende que cancelar a emissão seria um mau sinal a dar ao mercado; o risco poderá ser o de ter de pagar uma taxa de juro mais elevada.
Depois desta emissão, que já estava anunciada, a solução poderá passar por manter alguma distância do mercado, até onde for possível aguentar, admitiu em declarações ao PÚBLICO um analista financeiro.
Face à maior queda do ano da bolsa de Madrid, o primeiro-ministro espanhol apressou-se a desmentir que o país tenha necessidade de pedir ajuda financeira, mas a classificação dos rumores de "absoluta loucura" não conseguiu estancar a derrocada do principal índice.
"Só as opiniões pessimistas têm eco no mercado; os contra-ataques positivos não surtem efeito", explicou o analista português, que pediu para não ser identificado.
O anúncio de que a Grécia pode aumentar a tributação dos lucros das empresas foi anulado pelas imagens de contestação social dos gregos. Por outro lado, o mercado começa a pensar que, mesmo que a Grécia consiga executar tudo o que lhe é pedido, dentro de três anos o país pode estar novamente com problemas sérios.
José Santos Teixeira, da Optimize (sociedade gestora de patrimónios), disse ao PÚBLICO que uma das coisas que estão a inquietar os investidores é a possibilidade de a Grécia, dentro de três anos, estar a pedir uma "reestruturação da dívida" sob três formas: perdão parcial, aumento do prazo do reembolso, baixa da taxa de juro ou, mesmo, as três medidas. Santos Teixeira adianta que se o plano não der sinais de que vai resultar, a Alemanha poderá não esperar até 2014 para constatar a sua ineficiência, podendo exigir a separação dos países da eurolândia em dois grupos: os do euro forte e os do euro débil.
No fio da navalha
A discussão está agora focalizada no futuro do euro. A fazer mossa nos mercados estiveram as declarações do Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, de que o euro "pode ter um futuro limitado"; ou do ministro das Finanças alemão, a defender que "a UE deve ser capaz de programar insolvências controladas de países-membros".
Não é um problema de resolução imediata, mas esta crise pode forçar a União Europeia a avançar para uma maior integração política e económica, criando por exemplo uma entidade, uma espécie de FMI europeu, que possa assegurar financiamento aos Estados e fiscalize o cumprimento das regras de disciplina financeira. As divergências e a demora em relação ao programa de apoio à Grécia originaram desconfiança em relação à sustentabibilidade da moeda única.
Com Cristina Ferreira
www.publico.clix.pt
Wednesday, May 05, 2010
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