Tuesday, October 28, 2008

O MANIFESTO ENCAPuTADO


O MANIFESTO ENCAPuTADO

Não há gajas, só velhas. Depois da glória vem a pasmaceira. Valha-nos o sol lá fora. O que vale é que um gajo ainda se diverte com os amigos. Valha-nos isso. Ouvir e dizer umas piadas, rir, gozar com esta merda. É o que se leva daqui. A merda da revolução nunca mais vem. E um gajo passa a vida a olhar para as gajas. Cá estou de novo só na confeitaria. Toda a gente trabalha menos eu e o bêbado da aldeia. O que não deixa de ter o seu lado positivo. Os outros que trabalhem! Eu limito-me a escrever estas merdas. Os carros passam lá fora e eu escrevo. Escrevo para mim, para o mundo, para o raio que vos parta! Passo a vida a escrever sem disciplina, sem horários, sem objectivos concretos. Se calhar até vou ganhar o Nobel. Divirto-me a escrever, que querem? Em vez de andar para aí a remoer, escrevo. Em vez de andar à porrada, escrevo. Em vez de bater punhetas, escrevo. É fácil. A coisa sai. E só entram gajas feias e gordas. Queria escrever como Homero, como Shakespeare, mas só me saem estas merdas. E a coisa prossegue. Nunca escrevi tanto como agora. Escrevo compulsivamente, automaticamente, selvaticamente. Parece uma doença. Não me adaptei à vida mas adaptei-me à escrita. Acho piada àquela história da angústia perante a página em branco. Não sinto angústia nenhuma. E a página não está em branco. Sinto prazer- é o prazer que procuro desmesuradamente- Sinto-me em cima. Até parece que as depressões passaram à história. Oxalá seja verdade. Esta merda de escrever tem muito que se lhe diga. Mas a coisa vai fluindo. Há que saber matar com as palavras. Há que saber celebrar com as palavras. Há que fazer amor com as palavras. Deveria viver desta merda. Para quê fazer correcções? Há que deixar a coisa fluir espontaneamente, como um rio, como o mar. Na verdade, poucas gajas me entendem. Algumas vão lá, captam os meus escritos, riem dos meus disparates. Não me venham falar do Bloco de Esquerda! O Louçã tem muitas vezes razão mas é um chato, sempre inquisidor, sempre dono da verdade e da ética. Tenho lá alguns amigos. Mas deixei-me de partidos. O meu partido é o PSSL- Partido Surrealista Situacionista Libertário- de que sou o único militante. Há um blog. Estão abertas as inscrições. O que eu quero é criar um movimento artístico de base. Sem dirigentes nem detergentes, com vanguarda mas sem retaguarda, uma coisa que incomode mas que faça as pessoas rir. Que seja destrutiva e criadora. Que faça as gajas boas dar-me beijos na boca. Que rebente com o governo e que faça o povo rir. Eis o meu manifesto encapotado. Das gajas à revolução. Até as velhas podem participar. Posto isto, vou voltar a Homero.

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