Sunday, October 12, 2008
GAJAS
Há gajas que, à falta de melhor, nos fazem escrever. É uma forma de descarregar a líbido. Mas as gajas brasileiras têm aquele jeito especial, aquele à vontade gingão que nos faz sonhar. Até falam da noitada anterior, do inferno, não sei bem a que inferno se referem. Esse jeito de ocupar o café todo com a conversa. Mas pronto. Começam a falar em empregos e trabalhos e fodem tudo! Está tudo fodido. Lá se vai a poesia. Bem, mas pronto um gajo às gajas perdoa tudo. Depois lá aparece o gajo com a conversa do tem que ser. E as gajas com sinais. Mal sabem que ando a escrever sobre elas. Se calhar, já desconfiam. Sabes lá o que vai na cabeça das gajas. Nunca saberás o que vai na cabeça das gajas. É esse o mistério, é esse o encanto. Agora foram lá para fora fumar. Até tens algum historial com as gajas dos cafés e dos bares. Escreves sobre as gajas e depois vais bater punhetas para casa. De vez em quando lá aparece uma que se interessa por ti, que gosta realmente de ti mas que depois fica cheia de dúvidas porque andas teso e dificilmente deixarás de andar teso se continuares assim. Tens 10 anos para arranjar uma gaja. Depois dos 50 será difícil a não ser que fiques realmente famoso, ó poeta de combate. Isto se chegares aos 50. Viste bem o que aconteceu aos teus amigos. Sais à noite para ver gajas e só os gajos é que vêm ter contigo, ó bardo underground. E, de repente, mamas à vista. Mamas à tua frente, ao teu lado, em todo o lado. Mas depois só vêm ter contigo os cromos do costume, os loucos, os psicopatas, os desenraízados. Alguns deles vêm-te falar do fim do capitalismo, da nova era, do caos global. Outros só falam de conas e mamas e comentam as conas e as mamas à beira das conas e das mamas e o Rocha sente-se envergonhado. Outros ainda vêm-me contar a vida toda como se viessem ao psiquiatra. A verdade é que estou a perder todos os preconceitos na escrita. Até as gajas feias vêm de mamas à mostra. Há 20 anos não era assim. Às vezes dizes que nasceste no século errado, no tempo errado mas, se calhar, tu é que andas errado. Se calhar este é o teu tempo, o teu século, ó poeta dionisíaco. Começas a ficar com a língua de fora, ó poeta dionisíaco. Terás as mulheres que quiseres, ó poeta dionisíaco. Fodes as gajas com os olhos e com a caneta, ó Dionisos. Agora sim, és sublime. Se calhar há já algum tempo que não se escrevia assim. Que importa se te publicam ou não se te sentes sublime. Abençoados os olhos que te deram, ó poeta imoral. Já não usas a razão. A caneta corre automática. Há fêmeas em vilar do Pinheiro, finalmente. Hoje é o dia. O dia da viragem. Nunca mais andarás teso. Nunca mais obecederás. Regressas hoje ao Uno Primordial. Fodes as gajas com os olhos e com a caneta. Mas ama-las. Todas as mulheres são tuas irmãs. Todas as mulheres são tuas irmãs. Irmãs, dai-me o vosso amor. Irmãs, dai-me o Amor. Dançai para mim em redor da fogueira. O mundo novo começa aqui. O mundo novo começa agora. À nossa frente abrem-se eternidades. Podemos ficar tão bem juntos, querida. Podemos ficar tão bem juntos. Amo-te com os olhos e com a caneta. Amo-te com os olhos e com a caneta. Criei-te. És minha. Criei-te. Vieste. És minha. Criei-te. Lês revistas. És minha. Nunca mais escreverei assim.
António Pedro Ribeiro.
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