Sunday, August 05, 2012

NADA ACIMA DE NÓS

Como diz Edgar Morin, “estamos enraizados no nosso universo e na nossa vida, mas desenvolvemo-nos para além”. Somos construtores de deuses, do deus único, de mitos, de ideias. Queremos a embriaguez e a desmesura. Por isso, não nos podemos reduzir a meros consumidores de objectos ou de imagens, a meros trabalhadores cumpridores de horários, a meros trocadores de notas e moedas. Bertrand Russell afirma que “a perda do gosto de viver na nossa sociedade civilizada é, em grande parte, devida a restrições da liberdade que são essenciais à nossa concepção de vida”. Eles, especuladores, banqueiros, governantes, grandes empresários roubam-nos a liberdade e a vida. Por isso, se torna necessária a revolução, quer a de mentalidades, quer a política. Para fazermos a revolução de mentalidades precisamos de viver como o poeta trágico de Nietzsche “a existência apaixonada, mutável, perigosa, sombria e muitas vezes cheia de sol. A aventura de viver”. É esta aventura de viver, a aventura do eu, que nos torna deuses, crianças, quando “o mundo é cheio de surpresas”, segundo Bertrand Russell. Ainda de acordo com Russell, o segredo da felicidade é o seguinte: “deixai que os vossos interesses sejam tão amplos quanto possível e deixai que as vossas reacções em relação às coisas e às pessoas que vos interessam sejam tão amistosas e tão pouco hostis quanto possam ser”. A revolução não pode estar desligada da busca da felicidade, nem da do amor, nem da da liberdade. Não pode ser conseguida através de uma sociedade capitalista ou de uma ditadura supostamente comunista. A revolução pode ser atingida pela tomada de consciência por parte de uma grande minoria, que chega à conclusão de que a vida assim não é vida, de que basta de “lutar pela vida” ou pelo sucesso, de que não somos primatas nem meros gritadores de golos. De que não estamos numa competição ou numa corrida. De que temos o direito de admirar o sol, a lua, as estrelas. De que viemos com dois propósitos- o de nos amarmos e o de desenvolvermos ao máximo as nossas potencialidades aqui na Terra. De que somos seres únicos, de luz. De que já fomos capazes do pior mas também do melhor. De que nos podemos voltar a reunir na àgora, na assembleia a discutir e a decidir os problemas da polis, nós mesmos, sem representantes nem deputados. Nada está acima de nós.

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