Monday, August 03, 2009

O POETA QUE BEBE E ESCREVE


O Do Vale chegou
e eu bebo
acho que se pudesse
passava a vida a beber
sempre suportava
melhor o tédio
sempre apanhava
brutas bebedeiras
e andava quase sempre
alegre
de qualquer modo
este ofício de escrever
não é mau
desde que haja álcool
um gajo lá se diverte
a escrever acerca dos outros
sempre tece umas considerações
acerca da humanidade
sempre mica umas gajas
sempre tem uns momentos de fama
e de anonimato
e lá vai bebendo uns copos
sem ter de trabalhar
como os outros
isso é que interessa
o que interessa é o rock n' roll
e as bolas a rolar
às vezes até se gosta de futebol
sem se deixar contagiar
também não se pode andar
paranóico com a gripe
ou com a SIDA
ou com o caralho que seja
o que importa
é um gajo estar inteiro
e inventar umas coisas
deixar fluir
de vez em quando
umas gajas vêm ter connosco
dão-nos o que queremos
não tem necessariamente
de ser "top-models"
e lá vamos passando as horas
no "Piolho"
a fazer horas para o "Púcaros"
os media lá nos vão dando importância
e assim existimos
é claro que ainda não dissemos
o que queríamos dizer
é claro que ainda não dissemos tudo:
Sócrates, cabrão cinzentão sem coração,
não temos medo de ti!
Mundo não serves,
queremos outro!
Mas hoje não é dia para dramatizar
hoje só queremos beber uns finos
somos o poeta à mesa que bebe e escreve
divertimo-nos com o espectáculo do mundo
neste momento até nem temos
razões de queixa
outros que se manifestem
outros que subam ao palco
já chegamos onde queríamos chegar
já vimos Deus e os deuses e os demónios
já estivemos no céu e no inferno
já estivemos neste palco muitas vezes
já recebemos palmas e apupos
agora somos apenas o poeta que bebe
o poeta que bebe e escreve
à mesa do "Piolho"
nada mais
apenas isso
contentamo-nos com uns finos
e uns sorrisos.


"Piolho", 29.7.2009

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