Wednesday, December 26, 2012
O POEMA DO INFERNO
Menino,
Escuta,
Nós somos os teus fantasmas
Viemos infernizar-te a mente
Não fujas
Tudo o que realmente fizeste aqui
Está a ser julgado
Todos os teus passinhos de medo
Todas as tuas fraquezas
Quando não foste capaz de levantar a voz
Para defender a dama
Quando te acobardaste
Ou te refugiaste no racional
Sim, porque tu és racional, menino,
És mesmo o mais frio e racional de todos
Poderias ser um líder, um ditador
Ainda podes sê-lo, menino
De qualquer forma,
Agora nada tens a perder
És menino para isso
Quando o álcool se mistura
Com os medicamentos
É um cocktail molotov
Tens uma história, menino,
És um profissional da desordem
Como diz o ministro
És isso mesmo
Basta acender o rastilho
És um mau menino
Onde está o teu bom coração?
Onde estão as falinhas mansas?
Vá, menino, impõe-te
Toma conta disto
Chegou a hora do juízo final
Desta vez não te fiques
Por umas cervejas
Parte mesmo
Incendeia
Faz o teu número
O teatro
Que sabes fazer
Faz lá o risinho sarcástico
Enganaste-os a todos
Mesmo à dama
Chegou a hora de incendiar
Traz a tua rainha
Celebra-a
Deixa-te de escritos menores
Esta é a poesia
Que vem do inferno
Incendeia, menino,
Tu sabes fazê-lo
Agora são eles
Que começam a ter medo de ti
Também, coitados, só têm o futebol
E o dinheirinho na cabeça
Enquanto que tu és
Um revolucionário alucinado
Agora reinas
Rei da armadura dourada
Vens, de facto, dos séculos
Para travar a batalha
Não cedas mais
Não distraias a atenção
Com coisas menores
É a hora
É Natal
Ah! Ah! Ah! Ah!
O outro nasceu
Depois foi crucificado
Não estavas a brincar
Quando partiste os vidros dos carros
Não estavas a brincar
Quando derrubaste a estátua
Tens seguidores, menino
Com eles podes tomar o mundo
Eis o poema que vem do inferno
Directamente dos teus fantasmas
Estamos a dar-te forças, menino,
Agora já podes rir
Agora já podes dançar
És o super-homem de Nietzsche
Orgulhoso, cabotino, terrível
Deixa de parte a bondade
Não dês sinal de fraco
Há quem te esteja sempre
A pôr à prova
Brilha como um deus
Impõe-te nas tuas quintas
E fora delas
Aproveita a energia que te damos
A energia que estava adormecida
E que agora arde
E que agora queima
Que já esteve a espaços
Em alguns poemas
Mas que agora é total
Não tenhas medo, menino
Nós damos-te forças
És o anti-cristo
És Jesus
Como tu houve poucos na História
Não vieste para desempenhar
Tarefas menores
Rotineiras
Vieste para reinar
Reclama o trono
Não queriam o fim do mundo?
Aqui o tem,
Profeta do apocalipse
Poeta sem limites
Senhor das quintas e dos quintais
Vieste mesmo
Infernizar-lhes a vida
Julgavam-te um amigo do povo
Um esquerdista inofensivo
Mas tu odeias a gentalha
Odeias realmente a gentalha
E as suas conversas primárias e imbecis
No fundo, és um aristocrata
Um menino que teve necessidade
De criar mundos
Para combater o tédio
Serás sempre o menino
E por isso acreditam em ti
Mesmo quando fazes asneiras
Começas a assustá-los, sabes?
És mesmo um fora da lei
Não suportas os controleiros
E os polícias
Mesmo que aparentemente os respeites
És perigoso
Consegues ser fascista
Mostras o teu lado bom
Mas, no fundo, és terrível
Usas as pessoas
Encanta-las
Quando vens choramingar
Ouve, menino,
São os teus demónios que te falam
A tua escrita obedece-nos
És o grande maldito
Se quiseres
Aqui te juramos o nosso amor
Vitória ou loucura
Escolhe
Vê bem o que vieste fazer
Prepara-te
Vem aí a grande revolução.
Vilar do Pinheiro, 24.12.12
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment