Sunday, February 01, 2009

DADAÍSMO E SURREALISMO


O dadaísmo floresceu em Zurique em 1915, após o início da I Guerra Mundial, por um grupo de jovens intelectuais contrários à guerra que se encontravam no Cabaré Voltaire, entre eles Hugo Ball, Emmy Hennings, Janco, Tristan Tzara, sendo este responsável pelos manifestos fundamentais sobre o dadaísmo. Já em Berlim iniciou em 1918, tendo uma característica diferente de Zurique, isto porque os dadaístas de Berlim provocaram uma genuína revolução, confrontando a arte, o pensamento, os sentimentos, a política e a sociedade nesta empreitada pela transformação.
Nesta época de turbulência, o dadaísmo procurava estabelecer uma ordem e por outro lado quebrar a ordem. Foi assim, que apareceu uma série de revistas com as opiniões dos integrantes deste segmento artístico.
Em 1918, o dadaísmo está no seu ápice em Berlim, ocorrendo o "Primeiro discurso dadá na Alemanha", o qual manifestam a sua simpatia pelo dadaísmo internacional, nascido dois anos antes em Zurique. A idéia deste discurso estava em contradizer ao expressionismo, futurismo, cubismo, arte abstrata, chegando à superioridade do dadaísmo, Huelsenbeck disse como "o manifesto é uma fonte literária na qual se podem injetar muitas das nossas sensações e diversos dos nossos pensamentos".
O dadaísmo buscava corrigir a arte que havia se destruído pelas várias tendências artísticas erradas, sendo que assim fundou-se o Clube Dadá. Era à busca de uma total participação e contestação de todos os valores, a começar pela arte. Inclusive, o nome Dadá é casual, escolhido abrindo-se um dicionário por acaso.


Salvador Dalí - "Natureza Morta", 1956

Até pouco tempo, contestava-se a quem atribuir as honras do legítimo nascimento do dadaísmo, a Richard Huelsenbeck ou Raoul Haussmann, utilizando-se sempre as siglas "R.H." para não acarretar um erro.
Richter afirma "é que os dois R.H., juntamente com Baader - a antiinibição personificada - unha e carne com Grosz e os irmãos Herzfelde, formavam a tropa de choque propriamente dita do movimento Dada berlinense: Huelsenbeck como emissário do Dada original de Zurique, e portanto representante da religião dadá; Haussmann como personalidade ilustre do Dadá artístico, dotado de um egocentrismo sombrio, documentado em inúmeras oportunidades; Baader como um saco cheio de dinamite, e os três outros na qualidade da ala esquerda. Em uma questão específica os Dióscuros R.H. e R.H. estavam de acordo: Dadá era a antiarte".
Apesar da proclamação da antiarte, muito do que Haussmann fazia ainda lembrava em muito a arte abstrata tão desprezada e, somente depois que começa a utilizar-se de colagens e fotomontagens, que tem o surgimento de uma nova arte, levando a uma nova imagem do mundo.
Era um momento de transformação e agitação, tendo uma função social que fez com o público despertar, mas em relação ao cultural, significava uma rebelião, o "Antitudo, o entusiasmo que dominava a maioria dizia respeito ao próprio EU, que, livre de culpa e penitência, encontrava a partir de si próprio as suas leis, sua forma e sua confirmação...porque as circunstâncias favoreciam e até mesmo provocavam a mais livre das rebeliões", afirma Richter.
O Dadá possuía um caráter totalmente anárquico, o qual refletia na vida real, mas com esta expulsão da arte para o lixo, acabou-se atenuando a luta contra as condições sociais alemãs, pronunciando o nazismo, e contestando a economia e a industrialização. Mesmo assim, o pano de fundo sempre foi a arte.
As manifestações deste grupo são sempre desconcertantes, desordenadas e escandalosas, o Dadaísmo é um contra-senso, isto porque nega a arte, sendo um movimento artístico, é a pura ação, onde não se valoriza a obra, mas sim a si próprio. Isto tudo teve como o estopim a guerra, que acarretou uma série de problemas psicológicos e sociais há sociedade daquela época.
Para Argan, o dadaísmo "propõe uma ação perturbadora, com o fito de colocar o sistema em crise, voltando contra a sociedade seus próprios procedimentos ou utilizando de maneira absurda as coisas a que ela atribuía valor. Renunciando às técnicas especificamente artísticas, os dadaístas não hesitam em utilizar materiais e técnicas da produção industrial".
Os pontos que mais fortaleciam os dadaístas em Berlim eram: o elevado número de mortes durante a guerra, o insucesso de uma revolução, a oposição reprimida, a pressão pelos comunistas, o sucesso do Dadá em Zurique e, por fim a falta de liberdade que tanto aguçava os ânimos para as oportunidades.
Os dadaístas berlinenses tinham tudo para continuar a sua luta, principalmente por terem Haussmann e Baader, como amigos e aliados frente aos entusiasmos para um levante ou o desencadeamento de uma situação revolucionária. Contrariando a todos aqueles que se opunham, continuando um caminho ativo do grupo Dadá e, muitas vezes com apresentações agressivas.
Mas, por volta de 1922, o Dadá começa a ter as suas primeiras perdas, e assim a esmorecer, onde alguns de seus personagens perdem a sua consciência com a comunidade, outros abandonam, até a volta de todos aos seus antigos afazeres.
Logo, em seguida aparece o Surrealismo que teve como ponto de partida o ano de 1924, com a reunião de um grupo em torno de André Breton que tinha como preceitos, os conceitos ligados ao inconsciente, aos sonhos e a fantasia. Não havia regras ou formas estéticas, os surrealistas buscavam o sentido mais puro do espírito e o que este proporcionaria ao poeta ou ao artista.
Contudo, os surrealistas buscaram parte de seus valores éticos e morais, no Marquês de Sade, escritor do século XVIII que serviu de inspiração para o teatro, o cinema, a literatura e as artes plásticas. Segundo Fernando Peixoto "seu pensamento, embora com certo nível extremista, é igualmente um grito de revolta eloqüente. Um grito desesperado e angustiado, o incontrolável extremo de um individualismo absoluto que limita bastante o alcance ou o significado de suas idéias, a ânsia de libertação, gigantesco protesto em favor do homem livre, a denúncia de uma civilização fundamentada nos instintos planejadamente reprimidos, baseada na hipocrisia, no preconceito, na corrupção, na injustiça, na divisão social e na feroz crueldade".
Para os surrealistas a influência do Marquês de Sade antecipou a Psicologia moderna com Freud, por meio dos estudos sobre o sonho e os caminhos explorados no inconsciente.
De acordo com as informações proporcionadas por Sade e Freud, André Breton definiu: "Surrealismo é automatismo psíquico puro por meio do qual nos propomos exprimir tanto verbalmente quanto por escrito ou de outras formas o funcionamento real do pensamento, é o ditado do pensamento com a ausência de todo controle exercido pela razão, além de toda e qualquer preocupação estética e moral".
Desta forma, o Surrealismo passa a ser visto como uma arte do inconsciente, projetando muitas vezes uma ideologia subversiva, reprimida nos seus mais profundos anseios, assim ao chegar a sua produção permite ao criador demonstrar desde seus instintos animais, aos sexuais, aos sociais, expondo os desejos do indivíduo como os da sociedade.
O surrealismo como as demais vanguardas artísticas tinham como ambição mudar a História, especialmente no campo político, apesar de ter como meta à mudança na vida, partindo da vida muda-se o mundo, desígnios presentes nas palavras de Marx,Goethe, Rimbaud e muitos outros.
Breton e os surrealistas participaram do Partido Comunista buscando concretizar parte de suas aspirações, mas acabam por deixar o partido por não ser bem este o caminho a se tomar e, desta maneira continuam no que é essencial para a existência humana, que é o sonho.
O Surrealismo foi um movimento bastante amplo, no campo da literatura, tendo como antecedentes Baudelaire, Rimbaud, Allan Poe, Apollinaire que influenciaram diretamente nas teorias de André Breton presentes no Manifesto do Surrealismo, Segundo Manifesto do Surrealismo, Posição Política do Surrealismo, Prolegômenos a um Terceiro Manifesto do Surrealismo ou não, Do Surrealismo em suas Obras Vivas e outros textos. Em todos Breton difundia com destreza a posição do homem na vida, sobre a liberdade, a loucura, a lógica, enfim os sentidos da vida humana.
Nas artes plásticas notamos importantes representantes, entre eles podemos citar Max Ernst com experiências automatistas que elucidavam em alucinações nascidas dos sonhos, o inconsciente passa a ser um dos alicerces para a produção de seu trabalho. Nas reuniões com o grupo de surrealistas permitiam a libertação do subconsciente e, assim a evasão dos medos e rejeições ao contarem os seus sonhos.
Max Ernst cria a frottage, que era uma técnica "para além da pintura", a liberação de todos os sentidos e a descoberta daqueles que ainda permaneciam escondidos ao se defrontarem com a realidade. Para Ulrich Bischoff "a frottage é mais que uma técnica é um processo artístico em que tanto o conteúdo como o conceito criam um mundo novo".
Marc Chagall apresentou um mundo imaginário e sobrenatural, onde o espírito e o corpo estavam separados, criando assim um mundo figurativo, constituindo uma série de metáforas, início do seu surrealismo que por meio de ciências ocultas buscou a intelectualidade. O mundo de Chagall era rodeado de idéias místicas que transformavam os motivos em símbolos representativos de uma realidade invisível, isto porque os acontecimentos da sua infância e a rigorosa ausência da arte figurativa no judaísmo perseguiram sua mente, alternando as suas fases analíticas e sintéticas.
Como afirma Argan, "a pintura de Chagall é fábula, mas a fábula é problemática...a fábula não é uma tradição que se transmite por inércia, mas é a expressão viva da criatividade do povo. Sendo uma força popular, pode ser uma força revolucionária".
Salvador Dali é outro artista que teve em seu trabalho a presença provinda dos sonhos e do sexualismo. Gala, a sua mulher foi a grande responsável por parte de sua produção, pois como Dali mesmo afirma só conheceu os prazeres do amor com Gala, desta forma acabará de entrar por um mundo freudiano que o levou ao obscuro caminho dos sonhos.
Os trabalhos de Dali envolviam os acontecimentos da Guerra Civil Espanhola, as torturas, a degradação, o sofrimento e a morte, sentimentos que transbordavam em suas telas. Com Luis Buñuel formata a idéia do O Cão Andaluz.
E assim, no cinema Luis Buñuel produz o primeiro filme surrealista em 1929, O Cão Andaluz, sendo este um grito sobre a tragédia humana com seqüências enlouquecidas e enlouquecedoras para o observador. No seu L'âge d'or, Buñuel se aprofunda na temática surrealista da psicanálise com discussões sobre o homem e a mulher e as alegorias do inconsciente.
A década de 30 na Europa foi marcada pelo surrealismo, influenciando todos os grupos de artistas. Com a II Guerra Mundial, grande parte do grupo surrealista parte para os EUA e, em 1940 chega ao fim um dos movimentos artísticos mais importantes da História.



Paula Regina Buonaducci Molina
Mestre em História da Arte - ECA/USP

1 comment:

Rosa de Santa Isabel said...

dadadatzarara...tris...tantantan...tzarara....zérégiosauldiastzarara...cucucu...


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