Á Liliana
Não sou menos do que em Agosto
mas as meninas já não vêm
volto ao bar escuro
quase sem cheta
como nos anos 90
em Braga
o estrelato quase à porta
e a cidade não me dá nada
não se passa absolutamente nada
Não sou menos do que Augusto
mas à minha volta só vejo
gajos, putos e mulheres tomadas
a cidade está deserta
às vezes parece renascer
com o balançar das tuas ancas
Perdi o último metro
a estrela está só
a menina bonita já não está
e eu estou a perder a lata
nem sequer tenho cacau
para apanhar uma borracheira
sou de Braga do porto
era lá que deveria estar
e não aqui neste bar murcho
apesar da moira ser muito simpática
ao que parece,
nada se vai passar até às 6,
nem tão pouco conversas com putas,
travestis e amigos das multas
que nos oferecem poemas
e são tesoureiros da Junta de Freguesia
só putos e tédio
não há rock nada rola
e a menina bonita não está
não vai estar mais
deveria ter ido para casa-
dizem a moral e o bom senso
só aparecem putos e mais putos
e eu escrevo
porque dizem que sou um poeta maldito
com tendências alucinatórias e visionárias
e os meus admiradores e detractores
esperam isso de mim
entregue a mim próprio
com poemas, livros e palavras
que não consigo transmitir às gajas
de que gosto e espeto no papel
olho para o cu da gaja que está ao balcão
e o mundo renasce
o mundo das tatuagens
dos vidros partidos
dos automóveis
da bófia
do bailarino
do sangue na guelra
do homem em guerra
e já me apetece cantar outra vez
usar e abusar de vez
onde está a menina?
Bebo e, uma vez mais,
agradeço a amabilidade
e a doçura da Li Han
Aguardo a fiesta
sempre é preferível à conversa
dos gajos sem conversa
onde está a magia de Agosto,
de Paredes de Coura,
onde as miúdas te olhavam,
te procuravam e se metiam contigo?
Pensaste que eram tudo provocações,
"Era o Rouxinol e era a Rita",
tiveste medo e agarraste-te à menina
do Gerês que amas,
que realmente amas
e queres acariciar, cobrir de beijos,
abraçar para sempre,
a menina que ficou na tenda
enquanto tripavas no hotel
a menina que te deu de comer,
de beber e te vestiu
quando a chuva te batia nos cornos
a menina que te despertou do transe
és a estrela mas permaneces teso
e as ancas continuam a balançar ao balcão
não sabes se hoje ou qualquer noite
te dirigirão a palavra
que se foda!
ao menos aqui sabes que escreves livremente
enquanto que no outro tasco
te abandonaram quando usavas da palavra
sobraram 7 ou 8
7 ou 8 amigos, 7 ou 8 espectadores
para a estrela do rock n' roll
7 ou 8...em Paredes eram 500...
o bar enche e já há algumas gajas
que não conheces nem elas te reconhecem
o resto são putos
e música foleira
aos 38 anos, o poeta subversivo e surrealista
que vai à rádio e aos jornais
no meio de putos que não sabem quem és
nem querem saber
38 anos e sobram as ancas da gaja
dos blue jeans ao balcão
38 anos e hoje de nada te vale a canção
nem tens palco para brilhar
e o teu amigo canta em Famalicão
onde deverias estar
afinal, ias lá ficar noite fora
noite fora e ninguém à tua mesa
noitr fora e os putos não gramam a tua cena
a única que te topa é a Li Han
sempre não é agarrada ao pau
como o outro camarada
e apetece-te beber a noite toda
mesmo que a noite não dê em nada
apetece-te continuar com a Ilíada no Velvet
que começou com duas loiras
no café das ruas da cidade antiga
és Dionisos, Aquiles, Ulisses
e ninguém te reconhece
já não há deuses nem semi-deuses
Esparta está minada
mesmo que fiques até de madrugada
a escrever baboseiras que ate podem
ter algo de sublime
mas não te servem de nada
tens a quem sair
sabes que não tens emenda
e podes cair de novo
touro no meio da arena
da música foleira
escreves e ninguém dança
escreves para encher a pança
ou a alma ou o caralho que seja
és a puta do rock
à cata de clientes à cata de estrelas
és a puta do rock
e cantas daqui a uma semana
és a puta do rock
e vais ficar até de madrugada
és a puta do rock
e és de Braga
és a puta do rock
e não se passa nada
és a puta do rock
e andas com as voltas trocadas
és a puta do rock
e não sacas mulher nem te esforças por nada
és a puta do rock
e o mundo é uma merda
tal como s música foleira que passa.
Aqui ninguém te ama
e escreves rock n' roll para a sanita
contas os trocos e não sobra nada
onde está a fama? A cama?
A Glória? a MULHER que te grama?
É o rock e a amiga...
é o rocker no meio do nada
a boazona do teu amigo
nem sequer te chama
é o rock sem a amiga...
é o rock e a derrocada...
é o poeta e o anarca aos papéis
até de madrugada
é o sexo à mão de semear
com o fio dental à molhada.
Até sei que isto numa "soirée" de poesia
num tasco qualquer dá direito a palmas
mas aqui...é morte d' alma
é a morte do artista
são versos para a sepultura
escrever...morder...morrer...
escrever...e acabar sem nada...
ondem páram os teus amigos,
velhos companheiros de noitada?
Onde páram aqueles
que te beijam a cara?
Poema épico até de madrugada
Lídia Cavalo de Tróia
Afrodite vinda das àguas
reis de que vens
Alexandre, o Grande,
sangue de poeta
mulher que foges
a meio da batalha
mulher que entras e sais
e te sentas ao som da batida
Allen Gingsberg beat generation
beber até ao raiar da aurora.
A. Pedro Ribeiro, VELVET, Vila do Conde.
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